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Dupla de mulheres encara 28.000km até o Museu da Harley

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Ana Pimenta e Ana Sofia, fotografadas ainda no Brasil (Fotos: Johanes Florentino Duarte)
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No dia em que esta reportagem é publicada, Ana Sofia, 48 anos, e Ana Pimenta, 52, estão cortando o estado norte-americano do Arizona a caminho de uma festa. Ainda falta pouco mais de um mês para que as duas cheguem ao Museu da Harley-Davidson em Milwaukee para as comemorações dos 115 anos da mais famosa marca de motocicletas do planeta. Até lá, terão cumprido 28 mil quilômetros de aventura desde Porto Alegre, de onde saíram no dia 19 de maio. O objetivo é chegar de moto ao aniversário da Harley, passando por 113 concessionárias e duas fábricas da marca, numa jornada que foi batizada de Ride 115.

Ana Sofia em sua Road Glide Ultra

Desde que tiveram a ideia de partir nesta excursão, as Anas levaram um ano planejando a viagem e angariando patrocínio. “Mas, no coração e na alma, sempre existiu uma vontade enorme de fazer uma viagem nesse molde. Longa distância e por longo período”, conta, por e-mail de algum lugar no calorento Texas, Ana Sofia. Mas não é a primeira viagem delas. Antes, já haviam estado juntas em Cuba, no Deserto do Atacama, na Argentina e atravessaram rotas e destinos lendários nos Estados Unidos, como a Rota 66, a Tail of the Dragon (Rabo do Dragão, estrada cheia de curvas entre a Carolina do Norte e o Tennessee) e Milwaukee, “capital mundial” da Harley-Davidson.

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Ana Pimenta em sua Street Glide

Ambas, naturalmente, pilotam Harley-Davidsons: Ana Sofia uma Road Glide Ultra, e Ana Pimenta, uma Street Glide. São motos grandes, caras – na casa dos R$ 90 mil -, ambas dotadas do motor Milwaukee-Eight 107 de 1.750 cc, que equipa os modelos estradeiros topo de linha da marca e talhadas para longas jornadas. Mas apesar de todo o conforto, pilotar por mais de três meses não é tarefa para qualquer um. Especialmente quando se convive com uma hérnia de disco, caso de Ana Pimenta. “Por conta disso tive que fazer um preparo prévio, com academia e muito pilates com fisioterapeuta.” Ana Sofia, que venceu um câncer de mama em 2007, o que a tirou das estradas por um ano à época, tenta se exercitar como pode durante a viagem. “Gosto mais de atividades ao ar livre, mas tive que me preparar em academia. Tenho feito alongamento pela manhã, o que não é muito, mas já ajuda bastante!”

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Trajeto (quase) limpo

Ana Sofia e Ana Pimenta estão nos Estados Unidos há exatamente um mês. Chegaram à Flórida em 26 de junho, vindas de Manaus. Ao todo, cruzaram 11 estados brasileiros: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Distrito Federal, Tocantins, Maranhão, Pará e Amazonas, onde conheceram a fábrica da Harley-Davidson. A América Central, cruzaram pelo alto. “Como temos uma data certa para chegar, optamos por não correr o risco de ficarmos paradas em algum país da região. Portanto, viemos de avião”, explica Ana Sofia.

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Paradas contra a vontade, as Anas só ficaram mesmo no Brasil, por conta da greve dos caminhoneiros que as flagrou no começo da aventura. Foi a única intercorrência até o momento, já que não houve acidentes ou problemas com as motos. “A paralisação dos caminhoneiros e seus desdobramentos nos custaram cancelar a ida a Londrina (PR)”, relata Ana Sofia. “Durante esse período, passamos bastante aperto na estrada, pois em alguns trechos o clima estava bem pesado. Já aqui (nos Estados Unidos), estamos sofrendo com o calor!!!!! Estamos adaptando os horários de saída e descanso.”

Veja abaixo o mapa da aventura:

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Sozinhas, mas não isoladas

Ana Sofia e Ana Pimenta estão sozinhas na estrada. Nem carro de apoio nem nada. Duas mulheres, duas motos, a estrada. Claro que “sozinhas”, aqui, não significa “isoladas”. “No trecho do Brasil, tivemos um carro que ia ser apenas para levar o fotógrafo que nos acompanhava. Porém, acabou virando carro de apoio no momento da paralisação dos caminhoneiros, pois tivemos que carregar galões de combustível para poder sair de Curitiba. Aqui nos Estados Unidos, não temos carro de apoio. E o apoio logístico só ocorre quando encontramos outros bikers que nos recomendam ir ou desviar de algum lugar devido a alguma situação inusitada”, explica Ana Sofia.

Assim a aventura das Anas, embora atenda às ordens muito pessoais de seus espíritos aventureiros, não deixa de ser um grito de liberdade da mulher em um universo tradicionalmente dominado pelos homens. Proprietária de uma oficina especializada em Harley-Davidson junto com o marido, Ana Pimenta acredita que o preconceito com as mulheres tem mudado aos poucos. “Ainda sofremos um pouco com isso, mas levo ‘de boa’, afinal tenho uma oficina.” Ana Sofia, por sua vez, compreende que “ainda existe machismo no meio, apesar de as pesquisas mostrarem o crescimento das vendas de motocicletas para mulheres”. E convida o perspicaz leitor a uma reflexão: “Mas isso não é exclusivo desse meio, certo?!?!?”.

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