São Paulo – Ela nasceu para servir. Nunca teve a beleza como aliada, e em termos de aerodinâmica sua eficiência é similar à de um tijolo. Havia outros problemas, como falta de potência, direção imprecisa e acabamento muito simples. Nada disso, porém, impediu que a Kombi sobrevivesse por décadas. A van da Volkswagen, lançada em 1950 na Alemanha, está completando 70 anos e continua na ativa, embora tenha saído de linha em 2013. A Kombi nasceu como sugestão de um importador holandês da marca, Ben Pon. A ideia era produzir um veículo utilizando a base do Fusca. Os dois têm os mesmos 2,4 metros de distância entre os eixos.
Com motor na extremidade traseira e motorista praticamente sobre o eixo dianteiro, o modelo abria um imenso salão interno, totalmente aproveitável para carga e pessoas. A van que nasceu na Alemanha em março de 1950 com o nome de Kombinationsfahrzeug (veículo de uso combinado) não demorou a chegar ao Brasil.
No mesmo ano, o modelo passou a ser importado pela Brasmotor, e ficou conhecido no país como “Kombi”. Na época, tinha motor 1.1 de apenas 25 cavalos. Em 1953, teve início a montagem em São Paulo, com peças importadas, ainda pela Brasmotor. A produção pela Volkswagen começou em 1957. A Kombi foi o primeiro veículo feito na nova fábrica da marca alemã em São Bernardo do Campo (SP) e também um dos primeiros carros fabricados no país. Na época, a indústria nacional se resumia ao Romi-Isetta e à perua DKW Vemaguet, ambos de 1956.
A Kombi se caracterizava pela versatilidade e disposição para o trabalho. Com três fileiras de bancos, levava nove pessoas. E carregava até 810 kg, algo notável para um carro de 1.040 kg. Para comparação, em geral os automóveis levam no máximo a metade de seu peso. Com motor 1.2 boxer (de quatro cilindros contrapostos) de 36 cv refrigerado a ar (o mesmo 1200 que mais tarde seria utilizado no Fusca), a Kombi nacional dava conta das tarefas, mas sem pressa. A perua não chegava aos 100 km/h de máxima e demorava quase 30 segundos para acelerar de 0 a 80 km/h.
Já as vendas não paravam de acelerar. A nacionalização de peças passou de 50% em 1957 para 95% após apenas cinco anos. Havia versões para carga (Furgão) e pessoas (Standard e Luxo). Para se diferenciar dos modelos básicos, a versão de topo oferecia pintura bicolor, que ficou conhecida como “saia e blusa”.
Versátil
Na virada da década, a Volkswagen lançou uma carroceria com seis portas, para permitir a entrada de passageiros também pelo lado esquerdo. Outro fator positivo é que, graças à simplicidade do projeto, a Kombi era mais barata que o próprio Fusca, ao menos nas versões mais simples.
Em 1967, a versão picape veio completar a família. Além do modelo com caçamba (que ficou jocosamente conhecida como “cabrita”, por seu comportamento saltitante), no mesmo ano a Kombi recebeu motor 1500, de 52 cv. No ano seguinte, a novidade foi o sistema elétrico de 12 volts, mais moderno que o de 6 volts utilizado até então. Como resultado, entre outras melhorias, os faróis passaram a iluminar mais.
A primeira reestilização veio em 1976, com mudanças na dianteira e nas lanternas. O motor passou a ser o 1600 de 58 cv. Em 1981, a linha ganhou motor 1.5 a diesel, adaptado do Passat destinado à exportação. Para a refrigeração, o modelo recebeu radiador na dianteira. A carroceria com cabine dupla veio no ano seguinte. A segunda reestilização, feita em 1997, marcou a estreia da porta lateral corrediça.
Insegura
O ponto fraco da Kombi sempre foi a segurança. Atrás, a passagem de combustível muito perto do distribuidor do motor era um potencial causador de incêndios. Na frente, o motorista ficava muito exposto em caso de colisão. Em 2006, a Kombi ganhou motor 1.4 flexível de quatro cilindros refrigerado a água. A potência, de 80 cv, era 38% maior que a do modelo anterior. O ruído característico do motor boxer a ar desapareceu, mas o desempenho melhorou muito. A velocidade chegava a 130 km/h e a aceleração de 0 a 100 km/h era feita em “apenas” 16,1 segundos, de acordo com a VW.
E assim a Kombi foi seguindo sem sobressaltos até 2013. Uma nova lei, que determinava que a partir de 2014 todos os carros feitos no Brasil deveriam ter freios ABS e air bags, decretou o fim do modelo, que não dispunha de condições técnicas para receber essas tecnologias. A Volkswagen então lançou a série especial Last Edition, para marcar o fim da produção. Embora tenha dado adeus, nas ruas ela continua bem viva.