A ideia é que não exista uma Harley-Davidson igual à outra. A partir de uma base, o motociclista/aficionado pela marca personaliza sua motocicleta — de preferência recorrendo ao vasto arsenal de acessórios oferecido nas butiques das concessionárias, sempre grandes e bem fornidas. Mas uma ou outra Harley já nasce tão pronta que não se deve mexer. É o caso da Road King Special. O modelo aposta forte na imagem selvagem, meio “outsider”, que motos e motociclistas tinham nos anos 1950 e 1960. Um estilo que dispensa, inclusive, excessos de brilhos e enfeites, típicos da versão Classic da Road King.
O visual da Road King reforça esta personalidade, que é bem marcante. A começar pela pintura, que se limita às discretíssimas preta brilhante e cinza fosca. Outros elementos se alternam entre preto brilhante e fosco, sempre valorizando um contraste com a cor da motocicleta. Na versão cinza fosca testada, rodas, guidom, motor, bengalas e aro do farol são brilhantes, enquanto escapamento e a carcaça das setas acompanham a falta de brilho na pintura. Na versão preta brilhante, as rodas ganham detalhes cromados, o escape, guidom e a cuba do farol são em preto fosco.
A Road King Special se inspira nas motocicletas de estilo bagger, dos anos 1960. Estes modelos eram “aliviados” de acessórios para reduzir o peso e melhorar o desempenho. No caso do atual modelo, o alívio foi apenas estético. Inclusive porque não havia nem necessidade de se preocupar com o rendimento do motor. Trata-se de um moderno Milwaukee-Eight 107 refrigerado a ar, com 1.745 cc e capaz de render 15,1 kgfm de torque — e supostos 80 cv de potência máxima. Ele tem mais que suficiente para empurrar os 355 kg do modelo.
A Road King foi pensada para a estrada. Tanto que já vem também com dois bons baús laterais, pintados na cor do tanque. Mas, ao contrário da Classic, a Special não tem para-brisas, acessório que a deixaria “social” demais. Mesmo que dispense customização, a Road King Special mantém um ar de exclusividade, com vendas restritas — neste ano, a média de vendas tem ficado em dez exemplares por mês. E isso não só pela personalidade bem definida, mas também pelo preço um tanto elevado: R$ 80.980 para o modelo na cor preta brilhante e R$ 81.530 na cinza fosca.
Impressões ao pilotar
A Road King é literal: ela foi pensada e construída para reinar nas estradas. Na versão Special, este conceito é levemente flexibilizado em função da imagem selvagem que a marca quer imprimir. Na prática, significa que perde o para-brisa, mas mantém a pose. Parada, a troca é mais que justificada pela estética. Em movimento, no entanto, o piloto tem de abrir mão de parte do seu conforto.
Ainda assim, a Road King fica tão à vontade no asfalto liso que não há como sentir falta de nada. Ela se mostra maleável nas curvas, neutra nas retas. As suspensões são rígidas e têm curso curto, o que mantém a moto sempre bem controlada. E o motor Milwaukee-Eight tem sempre uma sobra de força para oferecer, seja nas acelerações ou nas retomadas, mesmo em baixa velocidade em marchas altas.
Outro ponto positivo é a pequena altura do assento até o chão — são 69,5cm —, o que facilita as manobras. Ainda assim, é bom se prevenir e estacionar sempre em situações que facilitem a saída, pois são rotundos 372 kg em condições de rodagem. O limite do prazer sobre Road King Special fica circunscrito ao trânsito urbano. Grande e com traseira e guidom largos, no trânsito pesado muitas vezes é preciso contar com a boa vontade dos motoristas para alargar o corredor. Ou então se encher de paciência até ter o caminho livre de novo.