Era 1º de março de 2020. Após alguns anos sem andar de moto, Andressa Martins convidou uma amiga e, juntas e debaixo de chuva, deram uma volta sobre duas rodas. Esse “rolê” deu à luz o Invocadas Club. E apenas um ano após o surgimento do grupo, com duas integrantes, ele já possui mais de 170 integrantes, todas mulheres.
Andressa conta que o objetivo do grupo é andar de moto e reunir mulheres que possuam em comum uma mesma paixão: as máquinas de duas rodas. O grupo é eclético e, para isso, a presidente e fundadora tem uma clara explicação. “Nós aceitamos todos os tipos de moto. O grupo tem desde modelos de 50cc, biz, até 600cc, BMW, Harley, tudo. Todas as faixas etárias também são bem-vindas. Tem desde meninas de 18 anos até de 50 e 60 anos. Acho que por isso o grupo cresceu tão rápido, nós não temos discriminação. Gosta de moto? É mulher? A gente adiciona.”
Diante deste crescimento, Andressa percebeu que seria uma boa oportunidade de fazer o bem ao próximo. O Invocadas Club começou, então, a realizar ações sociais. A primeira iniciativa foi no Bairro Parque das Águas, Zona Norte de Juiz de Fora, com a distribuição de cestas básicas arrecadadas pelos membros. Logo depois vieram doações também para o projeto Girassol. No Dia das Crianças, o movimento feminino arrecadou cerca de R$ 1 mil e, com o dinheiro, conseguiu comprar duas bicicletas, quatro patinetes e 300 brinquedos novos. Cada uma ajuda como pode. “Uma integrante foi vestida de Mônica e o marido, de Cebolinha. Levamos algodão doce e carrinho de picolé”, contou a fundadora.
‘Nunca sofremos preconceito’
O Invocadas é sempre bem visto por onde passa, o que nem sempre acontece com outros grupos. A presidente conta que isso se deve à organização e à política do bom senso e da boa vizinhança com a qual o movimento age. Nos famosos “rolês”, como são chamados os passeios do grupo, Andressa relata que, mesmo que o grupo ande em comboio, as Invocadas não monopolizam as pistas, mas muito pelo contrário. “Nós andamos em comboio, mas optamos sempre pela pista da direita, deixamos a da esquerda pra quem tem mais pressa. Domingo agora, por exemplo, temos um encontro com 80 motos confirmadas, então vai um comboio com 20 meninas, depois de um tempo outro comboio com mais 20, e assim sucessivamente.”
A descontração é presente nos rolês do Invocadas, mas a organização é levada a sério. Isso fez com que em um ano de existência as invocadas não tenham sido paradas pela polícia nem uma vez. Nas iniciativas, todas as integrantes têm que estar trajadas com o uniforme do clube, que é oferecido a preço de custo. “Tem que estar uniformizada, comprar a camisa que é oferecida a preço de custo. O clube não é para arrecadar dinheiro nenhum, ninguém paga mensalidade” explica Andressa.
Uma família ‘independente das cilindradas’
Independente da idade, da moto ou do tempo de grupo, o sentimento relatado por todas que participam é o mesmo: pertencimento. Foi após o convite de uma amiga que já fazia parte do grupo que Mariana Brugiolo começou a integrar o Invocadas Club. Dez meses depois, ela conta que o movimento mudou sua vida. “O grupo Invocadas pra mim é uma família que estamos formando com cada menina que entra, com a mesma paixão em comum: motos, independente das cilindradas, da marca, de tudo. É uma família, e eu tenho muito orgulho de ser Invocadas Club.”
Para ela, a parte mais importante do clube não são os uniformes, as motos ou os motores. “É a união, tanto nos encontros quanto nas viagens, mas também no dia a dia, de conversar, dar um conselho, uma frase que você precisa escutar, ou até mesmo o telefone de um borracheiro, um mecânico, um guincho. A qualquer minuto que você mandar uma mensagem, pode ter certeza de que vai ter uma integrante que estará disposta a te ajudar. O que mais mudou na minha vida é saber que a gente tem uma família para contar”, destaca Mariana, que ainda exemplifica. “Em uma viagem que fizemos, meu pneu furou no meio da estrada. Bate um desespero. Para me dar suporte, uma parte do comboio ficou comigo e fomos juntas achar um posto de gasolina, onde trocamos o meu pneu, enquanto o restante do grupo nos esperou alguns quilômetros à frente. Elas ficaram até o fim.”
Dedicação e futuro
O amor pelo clube naturalmente também toma a presidente Andressa e se traduz em dedicação. Ela divide seu tempo entre o emprego, o filho pequeno, o marido e a casa com o grupo. Trabalhando de 8h às 18h, a fundadora ainda encontra disposição para dedicar seu tempo ao Invocadas, seja na edição dos vídeos, na organização dos eventos ou na administração das redes sociais. “Tenho a minha cunhada que me ajuda a receber os pedidos e entrega de camisetas, bonés, chaveiros e outros produtos do clube que vendemos a preço de custo. Mas o resto é todo comigo. Preciso dividir o tempo do trabalho e da família com o grupo, e eu administro tudo sozinha, Instagram, postagens, vídeos, responder mensagens.”
Para o futuro, Andressa conta que o objetivo é montar uma sede física, bem como entrar na Associação como Moto Club e patentear o nome do grupo. Mesmo com apenas um ano de idade, a família Invocadas anda na pista rápida para o bem.