Ícone do site Tribuna de Minas

Startup de Juiz de Fora recicla oito mil toneladas de vidro em dois anos

BIOSFERA PEDRO MOYSES
biosfera ciclo pedro moyses
Estimativa da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro) é de que a cada seis toneladas de vidro reciclado, uma tonelada de CO2 deixa de ser emitido na natureza (Foto: Pedro Moysés)
PUBLICIDADE

Após trabalhar por quase 30 anos em multinacionais, o juiz-forano José Flávio Gouveia decidiu tirar um ano sabático e voltar para a sua cidade natal. Durante esse período de descanso, procurou pontos de descarte correto de vidro e descobriu que a reciclagem desse material não era oferecida em Juiz de Fora, tudo ia para o aterro sanitário. Para mudar essa realidade, Flávio criou a Ciclo, uma startup que atua na coleta, no tratamento e na reciclagem de vidro em 80 municípios da Zona da Mata mineira e Campo das Vertentes. Nos dois anos de atividade, a empresa já reciclou cerca de oito mil toneladas de vidro. Para se ter uma ideia, a estimativa da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro) é de que a cada seis toneladas de vidro reciclado, uma tonelada de CO2 deixa de ser emitido na natureza.

Durante a época em que trabalhou como executivo, a vontade de criar um projeto que causasse impacto positivo no mundo sempre o acompanhou. “Temos que ajudar o mundo a se transformar, não adianta só falar, tem que traduzir isso em ação.” A Ciclo foi a forma que ele encontrou de fazer desse propósito uma solução para o município e para a região.

PUBLICIDADE

“Eu fiquei impressionado quando descobri que a cidade não tinha reciclagem de vidro, porque o vidro é um material 100% reciclável. Uma garrafa de vidro fundida se transforma em outra sem perdas, é o único material que pode fazer isso. E quando o vidro é despejado no aterro sanitário, ele pode demorar até dez mil anos para se deteriorar, já que a base principal é areia, mais difícil de degradar”, comenta Flávio.

PUBLICIDADE

Antes de fundar a Ciclo, ele encomendou um estudo na Faculdade de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) para analisar o cenário da reciclagem na região. Dos 70 municípios pesquisados, 67 não realizavam a coleta e o reaproveitamento de vidro. Para seguir com o objetivo de retirar o vidro dos aterros e lixões da região, o empresário conta com o apoio do diretor de operações da empresa, Flávio Semedo, que já tinha experiência com gestão de aterro sanitário e conhecia os impactos negativos do descarte irregular do material, como a redução da vida útil dos aterros.

“Na época em que eu trabalhava com a gestão ambiental e logística de aterros sanitários, eu fazia a gestão de 80 contratos com um escoamento de 750 toneladas de lixo por dia. Eu era responsável pela logística de captação desses resíduos, pelo controle da entrada deles nos aterros e pelo tratamento do material. Então eu tinha noção dos impactos causados pela ausência de reciclagem”, explica o diretor de operações.

PUBLICIDADE
Por dia, chegam em média cinco contêineres carregados de vidro na sede da Ciclo e a mesma quantidade, já reciclada, segue em direção ao Rio de Janeiro para ser encaminhada para as indústrias que vão produzir novas garrafas (Foto: Pedro Moysés)

Transformação ambiental e impacto social

O propósito da startup é causar transformação ambiental e ao mesmo tempo impacto social através da geração de empregos. Hoje, a empresa conta com 22 trabalhadores com carteira assinada e um dos objetivos é priorizar a contratação de catadores e pessoas em situação de rua. Além disso, mais de mil catadores são beneficiados indiretamente, já que a Ciclo compra o material reciclável de cem associações. Em Juiz de Fora, a parceira é mantida com a Associação Municipal dos Catadores de Papel, Papelão e Materiais Reaproveitáveis de Juiz de Fora (Ascajuf), Associação de Catadores Autônomos Lixo Certo (Alicer) e Associação dos Catadores de Papéis e Resíduos Sólidos (Apares).

A reciclagem de vidros ainda é um trabalho pouco explorado na região, muito por conta da baixa remuneração do produto, que, por concorrer com a areia, é vendido por um preço menor. “A valorização de resíduos é um dos pilares da empresa. O vidro não tinha valor e passou a ter após o trabalho que a gente vem fazendo na região”, diz o diretor de operações Flávio Semedo. Para ele, as atividades da Ciclo conversam com o conceito de mineração urbana, ou seja, são recuperados insumos que ainda são úteis para o reaproveitamento, mas que foram descartados e acabariam enterrados em lixões.

PUBLICIDADE

Da coleta ao reaproveitamento: as etapas da reciclagem de vidro

Por dia, chegam em média cinco contêineres carregados de vidro na sede da Ciclo e a mesma quantidade, já reciclada, segue em direção ao Rio de Janeiro para ser encaminhada para as indústrias que vão produzir novas garrafas. Esse processo todo, no entanto, não é tão simples quanto parece. Desde a coleta até o envio para as multinacionais que compram o material, muitas etapas estão envolvidas.

Quando o material chega na startup o primeiro passo é a triagem, em que metais, alumínios, pedra, papel e outros contaminantes são retirados; depois o recurso passa por um sistema de moagem, no qual o vidro será triturado; e ainda tem o processo de peneiração, de eletroímãs e os coletores de pó e papel para que o produto final esteja pronto para dar vida a um novo.

A Ciclo recebe qualquer tipo de vidro independente da cor, do tamanho ou de estar quebrado. Os empresários comentam que é muito comum as pessoas confundirem cerâmica e porcelana com vidro, mas esses materiais não devem ser descartados juntos, pois demandam processos diferentes.

PUBLICIDADE

Hoje, a Ciclo recebe vidro dos principais bares, restaurantes e indústrias de Juiz de Fora, além dos coletados pelas associações de catadores. Recentemente, a empresa fechou uma parceria com o Bahamas, onde todas as lojas do supermercado contam com ponto de coleta. As pessoas interessadas em reciclar o material com um volume maior também podem se dirigir à sede da startup, localizada na Rua Bruno Simili, 205, no Distrito Industrial, ou entrar em contato pelo Whatsapp (32) 99819-6498.

Segundo o fundador da Ciclo, a próxima meta é processar mais de mil toneladas por mês de vidro. Atualmente a empresa recicla cerca de 700 toneladas por mês. “Queremos, por meio da conscientização ambiental, fazer com que toda a região entenda a importância da reciclagem, sendo parceiros para viabilizar a nossa empresa e ajudar a fazer a transformação que precisamos na nossa região.”

Flávio Gouveia, fundador da Ciclo, e o diretor de operações da empresa Flávio Semedo. (Pedro Moysés)

Ecovidro Tiradentes: ‘doe vidro, doe vida’

Com o lema “doe vidro, doe vida”, a startup criou o projeto “Ecovidro Tiradentes” em que todo o recurso financeiro arrecadado com a reciclagem de vidro na cidade histórica é repassado para o Abrigo Tiradentes, uma instituição sem fins lucrativos voltada para o cuidado de idosos.

PUBLICIDADE

O projeto é realizado em parceria com um supermercado local e com uma fabricante de vidros temperados de Barbacena. O descarte pode ser feito em uma caçamba localizada em frente ao Abrigo Tiradentes, na Rua dos Inconfidentes, 349, no Centro do município.

Sair da versão mobile