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VÍDEO: Voluntário desenvolve trabalho com abelhas sem ferrão há mais de 50 anos em Juiz de Fora

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O cultivo de abelhas, para o marceneiro Paulo César Munck, 63, é uma paixão herdada do pai. Aos 12 anos, ele começou a ajudar na criação de espécies nativas sem ferrão, e há mais de 50 anos se dedica a trabalhos voluntários voltados à preservação delas. “É uma herança que eu tenho e que estou passando para as novas gerações, para manutenção e continuidade dessas abelhas na natureza, porque sei da importância que isso tem.” Paulo trabalha na confecção de caixas para abelhas, que serão transportadas junto com os insetos para áreas próximas a matas, onde irão colaborar para a regeneração de florestas e recuperação de nascentes. No quarto episódio da série “Quem cuida do planeta?”, em homenagem ao Dia Mundial do Meio Ambiente (5), a Tribuna conta a história do meliponicultor juiz-forano.

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Das cerca de 400 espécies de abelhas sem ferrão que existem no mundo, 200 vivem no Brasil, de acordo com a Cartilha de Criação de Abelhas Sem Ferrão do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA). A criação desses grupos é uma prática antiga e tradicional no país, muito valorizada pelos povos indígenas. No entanto, por muitos anos, o cultivo dessas abelhas nativas foi preterido em relação à criação das abelhas com ferrão. O trabalho que Paulo vem fazendo ao longo desses anos é justamente destacar a importância socioambiental das nativas, que não só produzem mel como o própolis, a cera e o pólen, mas também são fundamentais para a polinização de plantas, algumas dependem exclusivamente delas para reproduzir.   

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Cerca de 200 espécies de abelhas sem ferrão vivem no Brasil (Foto: Leonardo Costa)

“O clima depende de uma cobertura vegetal, as abelhas auxiliam nisso. Nós dependemos de água, as abelhas colaboram para isso também. Quase 70% de tudo que nós encontramos no supermercado depende dessas abelhas”, ressalta Munck.  

Na Mata Atlântica, 90% das espécies vegetais são polinizadas por abelhas. A função delas em matas é extensa. A principal é a de polinização cruzada, onde voam de uma árvore a outra, das mais baixas à mais alta, tornando-as geneticamente mais fortes, e contribuindo para a regeneração de florestas primárias. “O meu processo aqui não é comercial. Eu aumento o número de colmeias e ofereço para pessoas interessadas em manter essas colmeias nas matas para conseguir os benefícios que elas oferecem. Minha intenção é de multiplicação, preservação”, explica Paulo. 

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Paulo César Munck atua há 50 anos para preservar os insetos (Foto: Leonardo Costa)

O que faz um meliponicultor? 

O impacto ambiental da Meliponicultura é baixo. A prática  feita em áreas de matas colabora para a redução do desmatamento, já que as árvores abrigam os ninhos. A atividade é organizada em caixas, de forma sustentável, sem precisar destruir as colmeias para retirar o mel. Uma colmeia abriga entre 4 a 5 mil abelhas. Na casa de Paulo, ele cria 40 colmeias. Os meliponicultores com 50 ou mais colônias de abelhas nativas sem ferrão precisam de Autorização de Manejo de Fauna (AMF). 

Embora Paulo trabalhe com marcenaria, sua rotina é pensada para encaixar um tempo dedicado às abelhas. Por volta de 4h30, ele já está de pé e vai até o terreno de sua casa no Bosque do Imperador conferir o meliponário. “Se precisar de fazer alguma intervenção, venho depois do meu trabalho e faço de tudo para salvar as abelhas. Embora o manejo seja natural, existem alguns animais, como formiga e lagarto, que podem exterminar uma colmeia.” 

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A maior preocupação do meliponicultor é de daqui uns anos não ter mais um pasto apícola – com grande diversidade de plantas, árvores e, consequentemente, néctar – por causa da especulação imobiliária na região e o avanço de áreas desmatadas. Para se preparar para esse possível cenário, Paulo comprou um terreno em Torreões e tem cultivado flores lá com a ajuda de sua esposa, um espaço propício para criação de abelhas caso seja preciso realocar seu meliponário. “Nós não vamos voltar para o que era antes, mas temos que deixar para as futuras gerações um lugar melhor e com recursos.”   

Meliponicultor ajudou a construir caixas de abelhas do Jardim Botânico 

Além do serviço de assistência prestado, de forma voluntária, para pessoas que começam a cultivar as abelhas nativas, Paulo também colaborou com a construção do meliponário do Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Ele foi o responsável pela confecção das caixas de abelhas e doou algumas espécies para o local também. O projeto Trilha do Mel do Jardim Botânico conta com um meliponário aberto ao público com uma coleção viva de espécies de abelhas da tribo Meliponini, conhecidas como abelhas nativas da Mata Atlântica sem ferrão, e atividades de educação ambiental. 

“Estou sempre em contato com as pesquisadoras da universidade. Não me formei nessa área, mas ajudo os estudos com meus conhecimentos adquiridos na prática. A criação de abelhas para mim é uma paixão e uma preocupação. Eu tenho filhos, netos e sei que com meu trabalho posso ajudar a melhorar um pouquinho o amanhã”, diz o meliponicultor. 

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