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Pesquisa busca transformar coco em biocarvão para descontaminar água

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Apesar de ser um ótimo refresco e fonte de hidratação nos dias quentes, o coco pode gerar uma grande quantidade de resíduos através de sua casca, que não é consumida. Cada 250 ml da água do coco geram cerca de um quilo de lixo, que, por sua vez, demora de 10 a 15 anos para se decompor. Mas um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) pretende dar uma destinação duplamente sustentável para a fruta: transformá-la em biocarvão magnético para eliminar contaminantes emergentes da água consumida pela população.

A pesquisa foi desenvolvida durante uma tese de doutorado que se propõe a elaborar formas de retirar poluentes das águas de maneira sustentável. Os poluentes em questão são chamados de “contaminantes emergentes”, como fármacos e produtos de higiene pessoal, que têm se tornado uma preocupação crescente por conta de sua presença em corpos d’água ao redor do mundo, de acordo com informações da UFF. Conforme a instituição, esses resíduos representam um risco ambiental significativo porque não são completamente removidos por estações de tratamento de água e esgoto convencionais. Com isso, há a possibilidade de bioacumulação e riscos potenciais para seres humanos e o meio ambiente.

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“Começamos a trabalhar com o processo de pirólise – reação de decomposição térmica -, em que se converte biomassa em três produtos: sólido, líquido e gasoso. Focamos no sólido, com a finalidade de remover resíduos da água. Escolhemos a casca de coco verde, por ser uma preocupação do estado do Rio de Janeiro, já que demora de 10 a 15 anos para se decompor e acaba levando ao esgotamento precoce de aterros sanitários”, explica a professora Marcela de Moraes, orientadora da pesquisa, por meio da assessoria de comunicação da UFF.

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Ao usar um resíduo (no caso, o coco verde descartado) para remover esses contaminantes da água, o estudo acaba propondo soluções para dois problemas ambientais. Como explicado pela instituição, esse processo ocorre a partir da adsorção, fenômeno que envolve o contato entre um sólido e um fluido. Por este meio, ocorre a transferência de massa da fase fluida para a superfície do sólido.

Esse recurso é o mesmo aplicado, por exemplo, quando se usa carvão para retirar o mau cheiro na geladeira: os alimentos liberam substâncias gasosas na decomposição que causam um odor e, como o carvão possui uma grande quantidade de poros na superfície, acaba adsorvendo esses gases. No caso, o gás fica retido na superfície, mas não é incorporado ao seu volume, como acontece quando há absorção. A diferença no estudo realizado na UFF é que os contaminantes emergentes estão na fase líquida.

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“Chegou-se à conclusão de que esse biocarvão possui muito potencial na adsorção dos contaminantes emergentes. A preocupação, em seguida, foi como recuperar esse material jogado na água, principalmente levando em conta que essa retirada envolve procedimentos de alto custo. Pensando em facilitar essa etapa, foram incorporadas nanopartículas magnéticas nesse biocarvão, uma metodologia inédita. Então, quando se aplica um campo magnético com um ímã, é possível separar o composto da água”, aponta Marcela.

Apesar de ser um ótimo refresco e fonte de hidratação nos dias quentes, o coco pode gerar uma grande quantidade de resíduos através de sua casca, que não é consumida (Foto: Pixabay)

Comparação de eficiência

Durante o estudo, os pesquisadores usaram soluções aquosas de cafeína e ácido salicílico, substâncias empregadas para tratamentos de pele, como modelo de contaminantes emergentes. “Avaliamos diferentes tempos de incubação, concentrações do contaminante e quantidades do biocarvão. Depois, determinamos a concentração destes contaminantes na água”, explica a professora.

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A comparação dos resultados ocorreu entre o carvão ativado não magnético (comumente usado) e dois magnéticos, sendo o preparado pelo estudo a partir dos rejeitos do coco e outro já existente na literatura científica. O biocarvão magnético da casca do coco apresentou uma eficiência de remoção dos poluentes maior do que a do carvão não magnético, mas abaixo do já existente na literatura. Entretanto, de acordo com Marcela, isso ocorreu porque as partículas magnéticas afetam a superfície do carvão.

“Então, já era esperada essa leve diminuição na eficiência da remoção, mas ele ser magnético facilita muito no processo de retirada dos poluentes. Fica mais viável e barato”, aponta por meio da UFF.

Conforme informações da instituição, os resultados indicam a viabilidade da nova metodologia proposta para o preparo de biocarvões magnéticos produzidos a partir da casca do coco verde. Por meio deste processo, é possível obter um material com elevada capacidade adsortiva e que representa uma excelente alternativa para a remoção de fármacos em águas. Além disso, há também o ganho ambiental a partir de um processo que, por si só, já é sustentável.

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De acordo com a UFF, o estudo cumpre com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. A pesquisa está alinhada aos ODS 6 e 14, sobre saneamento e vida marinha, respectivamente.

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