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Saiba diferenciar cosméticos sustentáveis e o que é ‘greenwashing’

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Nas prateleiras das farmácias e supermercados há diversos produtos que colocam como diferenciais, em suas embalagens, um compromisso com a sustentabilidade e com o veganismo. A tendência diz respeito justamente aos produtos de higiene e beleza que não utilizam derivados de petróleo, silicones e sulfatos, não fazem uso de elementos de origem animal e ainda são atentos para questões sociais e ambientais do trabalho. Mais que uma ideologia, investir nesse tipo de produto virou uma tendência de negócios, movimentando, de acordo com a Brazil Fair, mais de R$ 3 bilhões, além de estar crescendo em uma taxa de cerca de 20% ao ano no Brasil. Mesmo assim, para os especialistas, o consumidor ainda precisa ficar atento ao que é realmente sustentável, às pesquisas que estão sendo feitas nessa área e aos que podem estar apenas querendo lucrar com a nova onda do mercado.

Pesquisas nos últimos anos sobre os prejuízos que esses tipos de componentes podem conter fizeram que muitos consumidores fossem atraídos por produtos diferenciados. Notando isso, as empresas têm se esforçado para atender às demandas quanto à restrição de uso de substâncias químicas pesadas, como derivados do petróleo, investindo em produtos mais naturais, mesmo que não sejam totalmente orgânicos. Como explica Danilo de Oliveira Sampaio, professor da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da UFJF e do grupo de pesquisa Descor, que trata de pesquisas de desenvolvimento sustentável e comportamento de consumo e relações entre empresas e sociedade, as formulações naturais e o compromisso ético agora passaram realmente a ser um dos grandes diferenciais de qualidade no mercado. Um produto que ele enxerga como parte dessa tendência, e que tem sido tão amplamente utilizada, é a de “No e Low Poo”, no qual xampus e outros produtos capilares têm em sua composição pouco ou nenhum sulfato e elementos derivados de petróleo ou outras substâncias químicas que limpam o cabelo.

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Nadia Raposa, professora da UFJF, coordena pesquisa de desenvolvimento de produtos cosméticos veganos (Foto: Arquivo pessoal)

Greenwashing: compromisso ambiental de fachada

A vantagem desses produtos em relação aos xampus tradicionais é justamente o não uso de produtos químicos e silicones insolúveis. As técnicas, que têm se tornado populares para mulheres de cabelo cacheado e crespo, reduzem não só a utilização de substâncias que possam ser cancerígenas, mas também reduzem o despejo de detergentes em corpos d’água. A necessidade de produtos assim, que realmente diminuam esses riscos, é apontada também pela pesquisadora e professora da UFJF Nadia Raposo como necessária. “É imperioso o desenvolvimento de produtos que respeitem os seres humanos, os animais e o meio ambiente. Cada vez mais as pessoas entendem que esse não é um modismo passageiro ou somente uma meta para o futuro – é uma necessidade urgente para garantir a sobrevivência da humanidade e do planeta, além de essas práticas sustentáveis serem cada vez mais cobradas pelos consumidores e pela sociedade global”, diz. Em sua visão, o momento atual pede transformações e uma transição não só na criação quanto nos processos de elaboração desses produtos. “É possível aliar as tecnologias emergentes em benefício da construção de projetos/produtos/embalagens nesse segmento de forma eficaz, inovadora e sustentável.”

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Nesse caminho, estão surgindo diversos produtos com rótulos de fato sustentáveis e todo tipo de cosmético que não agride a saúde humana. “Porém, a maioria desses produtos com esta proposta mais sustentável ainda está em fase inicial de evolução”, explica Danilo Sampaio. É nesse sentido que ele explica o conceito de “greenwashing”, que são produtos apresentados como ambientalmente corretos, quando na realidade não são, absorvendo somente a tendência mercadológica para o crescimento da receita da empresa. Desta forma, produtos que deveriam ser contrários aos males causados pelos componentes químicos citados continuam mantendo combinações danosas e até mesmo trazendo soluções que não reduzem os impactos ambientais. Como exemplo de “greenwashing”, Sampaio lembra da empresa de automóveis Volkswagen, que, entre 2005 e 2015, usava um software que modificava resultados de emissões de gases de efeito estufa em veículos movidos a diesel apenas quando a empresa passava por inspeções. O episódio ficou conhecido como “Dieselgate”.

Consumidor deve se instruir

Na visão do professor, “reduzir o consumo por reduzir não é o melhor caminho”. Ele explica que não é dessa forma que vamos evitar prejudicar o meio ambiente e a saúde, e explica que é importante ficar atento às empresas sustentáveis que trazem experiências verdadeiras, mostrando “o que produzem, como produzem, como empregam seus funcionários, como se preocupam com o meio ambiente”, tendo uma postura clara em relação aos seus produtos e às suas produções.

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O consumidor que deseja garantir que os cosméticos que compra são sustentáveis, na visão de Daniel, também deve adotar a prática de ler rótulos dos produtos físicos. Além disso, afirma que pesquisar sobre as empresas e conferir suas reputações é muito importante para fazer compras mais sustentáveis. “Por exemplo, verificar se a empresa possui responsabilidade social junto a empregados e fornecedores, não utiliza mão de obra escrava, não maltrata animais em ambientes inóspitos, dentre outros”, explica. Em sua visão, o ideal é ser um “consumidor informado”, dentro das possibilidades de cada indivíduo.

Alunos da UFJF fazem pesquisas na área

A professora e pesquisadora Nadia Raposa orienta três alunos de pós-graduação em Saúde da UFJF envolvidos no desenvolvimento de produtos relacionados ao setor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (HPPC). São duas alunas farmacêuticas (Priscila Almeida, doutoranda, e Karla Gonçalves, mestranda) e um médico dermatologista (Glower Braga, mestrando). “Eles estão desenvolvendo produtos com eficácia comprovada para linha de skincare e lip care (cuidados com a pele do rosto/corpo e para os lábios). Está sendo construída uma plataforma de produtos cosméticos veganos com insumos da nossa biodiversidade nacional cientificamente avaliados quanto à performance (eficácia) e à segurança usando tecnologias distintas”, explica.

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Em sua visão, para que o setor continue crescendo e encontre mais opções viáveis, é preciso haver incentivo a pesquisas nessa área. “É importante o incentivo para o fornecimento de ingredientes naturais eticamente extraídos dos nossos biomas; é preciso que mais ambientes de desenvolvimento operem de forma ética e responsável; também é urgente o investimento em pesquisas que ajudem a transformar os elementos da natureza em ativos de alta performance”, explica. Essas são algumas ações que, de acordo com ela, podem garantir a conexão entre a nossa sociobiodiversidade e os consumidores globais por meio de produtos com eficácia comprovada e com programas de benefícios sociais e ambientais “que oferecem métricas rastreáveis importantes para toda a sociedade.”

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