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Retomada Puri: o conhecimento ancestral em prol da conservação da natureza

BIOSFERA Puri arquivo pessoal
Movimento Retomada Puri foi reconhecido pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e, cada vez mais, atua na promoção de políticas públicas na região (Foto: Arquivo pessoal)
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Muito antes do conceito de sustentabilidade surgir, há quem atue todos os dias, de fato, na proteção da natureza. Por muitos anos, os saberes dos povos indígenas foram apagados e ignorados quando, na verdade, são a fonte para repensar as relações de consumo e sobreviver às mudanças ambientais. “Nós temos uma maneira de viver harmônica com o planeta e nós precisamos voltar para uma forma mais orgânica de viver se queremos salvar esse mundo”, alerta Helenice Puri, uma das lideranças fundadoras do Movimento Retomada Puri na Zona da Mata mineira.

Neta de Puri, que viviam em Rio Pomba, Helenice cresceu aprendendo a conviver em harmonia com a natureza, fazendo dela seu alimento, sustento e, principalmente, um lugar sagrado. Hoje, ela busca repassar todo o conhecimento herdado de seus ancestrais para as suas duas filhas, Helena e Heloísa, e para a nova geração através da Retomada Puri. O movimento tem o objetivo de resgatar a cultura do povo Puri, originário do Sudeste brasileiro, e lutar pelos direitos dos povos indígenas à saúde, educação e território.

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O grupo foi reconhecido pela Fundação Nacional do Povos Indígenas (Funai) e, cada vez mais, atua na promoção de políticas públicas na região. Nesta semana, o Retomada Puri conseguiu, em audiência na Câmara Municipal de Viçosa, a inclusão de indígenas na lei de cotas raciais para serviço público municipal em cargos efetivos. O foco da próxima conquista é a inserção dos membros no cadastro do SUS como indígenas.

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O movimento também conta com um projeto de artesanato que gera renda para as mulheres Puri. Alguns integrantes são beneficiados pelo Programa de Bolsa Permanência do Governo federal, que oferece auxílio financeiro para estudantes indígenas, quilombolas e em situação de vulnerabilidade socioeconômica de instituições federais.

Atualmente, a iniciativa conta com a participação de 60 pessoas com membros espalhados pela região da Zona da Mata mineira, como em Juiz de Fora e nos municípios de Divinésia, Ervália, Visconde do Rio Branco, Viçosa, Araponga, Fervedouro e Ponte Nova. Uma das principais causas da Retomada Puri é a conservação ambiental e a acessibilidade a uma alimentação mais orgânica e saudável. “Nós, como indígenas, lutamos pela preservação da natureza, das matas e do pouco que ainda resta.”

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Terras indígenas são as mais preservadas

De acordo com dados da MapBiomas, as áreas mais preservadas do Brasil são as terras indígenas, que, nos últimos 30 anos, perderam apenas 1% da sua área de vegetação nativa, enquanto nas áreas privadas a devastação foi de 20,6%. O levantamento foi realizado pela organização com base em imagens de satélites e inteligência artificial. Em 2020, 13,9% do território brasileiro era indígena, o que correspondia a 19,5% da vegetação nativa no Brasil.

Helenice é estudante do Curso de Educação do Campo da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e, para ela, muito do que se aprende lá tem origem na sua cultura. Os princípios da agroecologia, como o desenvolvimento de técnicas estratégicas para manejo do solo, que reduzem a erosão e conservam a água, diminuindo assim o risco de desastres ambientais, sempre foram praticados pelos povos indígenas. A partir dessa ideia, esse grupo incentiva uma economia mais verde em que o foco deixa de ser a exploração e passa a ser a conservação dos recursos naturais. Com o conteúdo que aprendeu com a família, nas aulas e na vida, Helenice comercializa ervas e fundou sua marca Ervas dos Ancestrais.

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“São ervas que eu mesma planto e colho na mata. Eu estudo e coloco em prática esse contato com a terra. Faz parte da nossa cultura, da cosmologia indígena. A gente vê a terra como nossa mãe, jamais colocaríamos veneno na terra e nas águas, porque sabemos da importância para as nossas vidas”, afirma Helenice.

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