Uma planta milenar, cercada de estigmas, surge como uma contribuição promissora para um dos maiores desafios ambientais do Brasil: a degradação do solo. Esse é o tema do livro recém-lançado “Cannabis e Solo: Uma Introdução”, do geólogo e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Geraldo César Rocha, que detalha o potencial da cannabis para regenerar áreas e discute o atraso do país no aproveitamento dos benefícios econômicos e ambientais da cultura.
Formado pela Universidade de São Paulo (USP) e com uma carreira acadêmica dedicada ao estudo de solos, o professor Geraldo César Rocha é hoje uma referência na área. Sua nova obra, publicada pela editora CRV, busca trazer para o Brasil uma discussão já consolidada em outros países: a cannabis como uma poderosa ferramenta para a restauração ambiental.
O interesse do autor em estudar os usos da cannabis no solo surgiu ao observar as políticas públicas em nações mais avançadas no tema. “Para a recuperação de solos degradados, temática principal do livro, observa-se o imenso potencial da planta nesse aspecto, além de atuar no aumento da biodiversidade, controle de ervas daninhas e aumento da matéria orgânica do solo, entre outros benefícios”, explica o professor.
A obra detalha as múltiplas funções agronômicas e ambientais da planta. Ela atua na fitorremediação (descontaminação), absorvendo metais pesados e compostos orgânicos do solo. Suas raízes profundas e crescimento denso combatem a erosão, descompactam a terra e recuperam a matéria orgânica. Além disso, a cannabis se destaca pela captura de carbono atmosférico e por atuar como um biopesticida natural, assim como um importante agente para a biodiversidade e reposição de nutrientes do solo.
“Além de seu uso milenar como fibra, alimento e medicamento, os benefícios específicos para o solo eram desconhecidos até pouco tempo atrás, já que até o final do século XX era estigmatizada e eivada de preconceitos, pois a planta era ligada principalmente aos seus efeitos psicoativos, tendo havido uma ferrenha “guerra às drogas”, o que inibiu pesquisas e plantio”, diz Rocha.
Atraso nos debates sobre usos da cannabis dificulta avanço do setor
Para o professor, apesar do imenso potencial, o Brasil ainda engatinha em discussões cercadas por estigmas. Em 2024, o Supremo Tribunal Federal (STF) descriminalizou o porte de maconha para uso pessoal, que, de acordo com o especialista, ainda é um passo pequeno perto da realidade mundial.
Para Rocha, o país precisa superar a visão limitada da planta. “Já passou da hora de o Brasil debater sem estigmas e preconceitos essa planta, a qual só é vista como maconha, e não como uma importante commodity agrícola que pode gerar renda e empregos em um país atrasado como o nosso”, afirma. Ele critica a “sociedade historicamente conservadora e hipócrita” que, por meio de desinformação e negacionismo, trava o desenvolvimento de um setor promissor.
O professor reforça que a pesquisa científica já comprovou os múltiplos benefícios da cannabis. “A pesquisa científica mostra os benefícios advindos do uso de suas resistentes fibras, do teor alimentício de suas sementes e do uso médico de suas flores e óleos no tratamento de várias enfermidades”, pontua.
Segundo o especialista, os avanços em pesquisa estão diretamente ligados à liberação e regulação do cultivo. O livro está disponível para venda nos formatos impresso e digital no site da Editora CRV e na plataforma da Amazon.