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Criação de abelhas: Zona da Mata tem mais de 350 apicultores e meliponicultores

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O apicultor Adauto Elias cria abelhas há 44 anos em Juiz de Fora e destaca a importância ambiental da atividade. (Arquivo pessoal)
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Desde 1980, Adauto Elias cria abelhas. A paixão pela prática teve início na época em que era aluno da escola agrícola e começou a estagiar no setor de apicultura. “As abelhas nos transportam para um microuniverso, recheado de detalhes, organização social, geometria, hierarquia e até altruísmo.” De lá para cá, já se passaram mais de 40 anos, dezenas de colmeias e parcerias firmadas com apicultores de diversas regiões. Atualmente, o setor é um dos principais ramos de produção agropecuária de Minas Gerais, e a cada dia a preocupação com o viés ambiental da atividade aumenta mais. Segundo a Associação dos Apicultores e Meliponicultores de Juiz de Fora e região (Apijur), a Zona da Mata hoje conta com mais de 350 apicultores e meliponicultores.

Os dados mais recentes, conforme apurado pela reportagem, mostram que a receita das exportações mineiras de produtos apícolas chegou a US$ 20,5 milhões em 2022, equivalente a quase R$ 100 milhões, de acordo com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater). Esse valor representa um crescimento de 25% em relação ao ano anterior. Em Juiz de Fora, o cenário não é diferente. Segundo a Apijur, anualmente, a cidade produz 28 toneladas de mel, que são revendidos na região. O presidente da associação, Alex Ferreira, destaca que é possível encontrar inúmeros produtos na cidade oriundos da criação de abelhas, como própolis verde, geleia real, hidromel e cera de abelha, além, é claro, do mel. “Sem abelha, não há alimento.”  

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O presidente da Apijur ainda reforça que a apicultura e a meliponicultura são práticas sustentáveis que contribuem para a manutenção do ecossistema. A importância das abelhas vai muito além da produção de mel. Quase 80% dos cultivos agrícolas são polinizados por esses insetos, ou seja, produtos como café, feijão, morango, coco, melancia e muitos outros dependem das abelhas como polinizadores efetivos ou para incremento da produção. Mas mesmo assim esse grupo ainda sofre ameaças devido ao avanço do desmatamento e uso de agrotóxicos. 

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“O maior benefício dos apicultores e dos meliponicultores, sem dúvidas, é a preservação das espécies. Hoje, existem cerca de 300 espécies de abelhas sem ferrão no Brasil. Para se ter uma ideia sobre a atuação dos apicultores na cidade, 283 enxames de abelhas que estavam na área urbana de Juiz de Fora foram retirados por esses profissionais e levados para o campo, em um local de apiário, onde as abelhas podem ter segurança, reproduzir e continuar o ciclo de polinização”, afirma Elias. 

Extração do mel com destruição de colmeias colaborou para a diminuição das populações de abelhas em algumas regiões. (Foto: Adauto Elias)

Abelhas e manejo sustentável  

Para Elias, hoje em dia as pessoas que cultivam abelhas estão dando mais atenção a práticas mais sustentáveis de manejo. Por muitos anos, a extração do mel resultava na destruição das colmeias, o que colaborou para a diminuição das populações de abelhas em algumas regiões. Hoje, o produtor precisa se preocupar com a qualidade de vida das abelhas e o manejo adequado das colmeias para ter uma produção de mel orgânica e uma colheita em grande quantidade, o que proporciona uma maior rentabilidade. Além disso, a apicultura e meliponicultura são feitas sem desmatamento, o que ajuda na proteção de biomas e faz com que seja totalmente possível realizar o cultivo em áreas de preservação ou junto com o cultivo vegetal e a criação de animais. 

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O apicultor conta que precisou realizar um trabalho de recuperação e preservação da mata nativa da propriedade em que cultiva abelhas e, depois que isso foi feito, ele observou um aumento da produtividade do mel silvestre. Além disso, também foi possível fazer com que a área recuperasse nascentes e se tornasse um refúgio para diversos animais silvestres. “Posso dizer que as abelhas tiveram um papel fundamental na minha formação, exemplos de organização e convivência social. Consegui realizar projetos de recuperação de áreas degradadas em matas nativas e sempre conscientizo todos os apicultores parceiros sobre a importância da preservação da natureza para as abelhas e o planeta”, diz o apicultor. 

20 mil espécies de abelhas

As abelhas mais conhecidas são as do grupo melíferas – as mesmas que Adauto Elias cultiva, que produzem mel e são nativas da Europa e de partes da África e do Leste da Ásia. Mas existem mais de 20 mil espécies de abelhas espalhadas pelo mundo. Na América Latina, as nativas são as meliponas, ou abelhas sem ferrão, que compõem a maioria das mais de 4 mil espécies da região. O mel produzido pelas meliponas tem sido cada vez mais procurado tanto para alimentação quanto para fins medicinais. As abelhas sem ferrão também desempenham um importante papel na reprodução das plantas nativas com flores. Através da polinização cruzada, ocorre a formação de frutos e sementes. 

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As abelhas sem ferrão são nativas da América Latina e seu cultivo tem crescido na região. (Foto: Hélcio Lavall/Divulgação/Jardim Botânico)

Adauto Elias explica que a produção média de uma colmeia é em torno de 25 kg de mel por ano. Além do pólen e outros produtos apícolas, o veneno das abelhas também é usado na apiterapia para reumatismo, artrose e varizes, por exemplo. “Para produção de mel, o produtor necessita de um equilíbrio na natureza, com floradas diversas para assim ter um melhor resultado na produtividade de suas colmeias, o que torna o produtor um preservacionista, sempre plantando e conservando a vegetação.” 

Eventos em comemoração ao Dia da Abelha e do Apicultor 

Em comemoração ao Dia Mundial da Abelha, celebrado no dia 20 de maio, e ao Dia do Apicultor, no dia 22, Juiz de Fora vai contar com alguns eventos. A loja Casa das Colmeias, que atua há 40 anos na cidade vendendo produtos apícolas de produtores da região, irá promover palestras e um café da manhã no sábado (18), de 8h30 a meio-dia, para trocas de ideias e experiências. Interessados podem se inscrever pelo telefone (32) 3215 0071 ou acessar este site

Uma das palestras será sobre os benefícios do mel e do pólen produzidos pelas abelhas sem ferrão, ministrada pela nutricionista Sabrina Sena, e a outra é a respeito do manejo desses insetos que podem ser criados no jardim de casa, diferente das abelhas com ferrão, que precisam ser instaladas longe de casas e da criação de animais rurais. Essa última será conduzida pelo apicultor Dionísio Jansen. 

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No mês que vem, dia 16, a Apijur também irá promover um encontro com os produtores no Restaurante Rancho Alegre, onde serão oferecidas palestras e outras atividades. A expectativa é de que o evento reúna mais de cem apicultores e meliponicultores de várias partes do estado. 

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