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Projeto de artesanato incentiva preservação ambiental aos pés da Serra de Ibitipoca

Linhas de Minas Celine Billard
Linhas de Minas 2 Celine Billard
Tecer cestarias com fibras naturais é uma prática milenar resgatada pelo projeto (Foto: Celine Billard)
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Quem cruza a estrada entre Lima Duarte e o distrito de Conceição do Ibitipoca encontra um pequeno vilarejo, o São José dos Lopes. Dentro da comunidade, em uma casa amarela, bem antiga, com portas e janelas verdes, na Rua São José Operário, artesãs se reúnem para produzir bordados e cestarias com matéria-prima da própria região. No começo, tudo era feito de forma despretensiosa, mas, hoje, cinco anos após sua fundação, o projeto Linhas de Minas cresceu e gera renda para as mulheres. As estampas são inspiradas na valorização da fauna e flora local, além de cenas rurais do dia a dia dos moradores.

A proposta foi idealizada por três mulheres: Letícia Nogueira, Ana Alice de Oliveira e Alice Valda. A ideia foi criar uma iniciativa de fortalecimento e reconhecimento dos produtos e bens naturais da região. Letícia Nogueira conta que quando mudou para a vila foi muito acolhida pelas pessoas e, a partir daí, quis montar um projeto de artesanato por estar em contato próximo com as bordadeiras e, também, por já ter tido experiência com o artesanato no passado. “Conforme o projeto ia ganhando adesão, comecei a perceber que além do propósito de reunir essas mulheres e trabalhar sobre a troca de saberes e autoestima, nós poderíamos gerar renda através do artesanato”, conta.

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De acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, 602 pessoas viviam em São José dos Lopes à época. Hoje, não se sabe dizer ao certo se o número de habitantes aumentou ou diminuiu, já que o levantamento mais recente, divulgado neste ano, ainda não atualizou os dados do vilarejo. Fato é que mais de 25 pessoas que vivem naquela região estão envolvidas no projeto Linhas de Minas. “Elas sempre dizem que é uma terapia e o artesanato de fato tem um poder muito grande nesse sentido, além de trazer reconhecimento da beleza do próprio trabalho”, comenta Letícia.

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Arte e sustentabilidade

(Foto: Celine Billard)

É no casarão colonial conhecido como Casa do Sol que as bordadeiras se encontram com as artesãs responsáveis pelas cestarias. Entre os produtos artesanais estão tapetes, jogos americanos, cestos, cortinas, panos de prato, almofadas e guardanapos. Toda coleção contém peças originais e fazem parte de uma criação coletiva, mas cada integrante do Linhas de Minas tem liberdade estética para criar.

Uma prática milenar, tecer cestarias com fibras naturais contribui para a preservação ambiental devido ao uso de materiais renováveis e biodegradáveis. O processo de transformar folhas e galhos em objetos úteis começa pela colheita. Na Casa do Sol, elas utilizam fibra de bananeira e de taboa, típicas da região. Arlindo José Ávila, mais conhecido como “Seu Arlindo”, é o único homem que trabalha na Linhas de Minas. Ele é responsável por fazer a colheita e começou no projeto para ajudar sua esposa Maria do Carmo, a “Biá”, a fazer as cestas. Depois de colhida, ele as trata, deixa secar, desfia e faz as tranças para, depois, sua esposa e as outras artesãs costurarem as cestas.

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“As fibras da bananeira são retiradas só depois que caem no chão e as taboas nós não arrancamos, mas sim podamos. Então, existe um cuidado com essas fibras até porque elas são nossa matéria-prima e dar uma reutilização para essas plantas também é preservar. Quanto mais despertamos a consciência do valor do lugar rural, onde a natureza é mais preservada, o valor do silêncio e da qualidade de vida, fica mais fácil trabalharmos a consciência ambiental”, acredita Letícia.

Os moradores guardam conhecimentos de técnicas de tear seculares que corriam o risco de serem perdidas, mas agora são passadas para as novas gerações. Em parceria com a artesã juiz-forana Érika Senra, as mulheres aprendem o tear mineiro, tradição de Ibitipoca, que resiste há mais de um século. “A Érica aprendeu a técnica aqui 30 anos atrás e agora através de uma parceria com o coletivo Vozes da Serra foi resgatado um tear mineiro antigo e grande e ela está ensinando para as artesãs.”

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As novas gerações também são beneficiadas com o projeto e recebem oficinas de bordado, crochê, tear e macramê, em alguns dias no mesmo espaço em que as mães trabalham. As vendas acontecem no próprio local para os turistas, mas a cooperativa também mantém parcerias com lojas de Juiz de Fora, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. O lucro é dividido entre as trabalhadoras e uma parte vai para o próprio grupo para investir em novos materiais.

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