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Projeto da UFV atua na conservação dos saguis-da-serra

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Os saguis-da-serra-escuro ou aurita (Callithrix aurita) estão entre os 25 primatas mais ameaçados de extinção do mundo (Foto: Daniel Sotto Maior/UFV)

Entre os 25 primatas mais ameaçados do mundo está o sagui-da-serra-escuro ou aurita (Callithrix aurita), conforme estudo internacional produzido pela Re-wild. Nativo da Zona da Mata mineira, o pequeno primata de pelagem escura e coloração clara na face corre o risco de desaparecer pela histórica perda de habitat. Mas existe outro fator ainda mais preocupante: a hibridação, ou seja, a mistura de espécies nativas com animais de outras regiões. Na tentativa de evitar que isso aconteça, a Universidade Federal de Viçosa (UFV) criou o Centro de Conservação dos Saguis-da-Serra (CCSS) em 2021. O projeto atua na preservação do aurita e do sagui-da-serra (Callithrix flaviceps), comumente encontrado no Leste de Minas Gerais e na região serrana do Espírito Santo, que também corre risco de extinção.

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Antes do criadouro científico ser fundado, os estudos sobre as duas espécies já eram desenvolvidos desde 2017. Quatro anos depois, os primeiros saguis-da-serra-escuro, uma fêmea e um macho, chegaram ao campus da universidade. Não demorou muito para que a reprodução acontecesse e hoje 13 animais vivem no núcleo. O objetivo do CCSS é contribuir para a reprodução desses animais em cativeiro com foco na reintrodução à natureza. Além disso, o centro realiza pesquisas de campo sobre dieta, área de vida, visibilidade de reinserção ao habitat e outros temas que envolvem a proteção desses primatas. “Vários casais já se formaram e estão constantemente produzindo filhotes. Por enquanto só o aurita reproduz, mas em breve o mesmo irá acontecer com o flaviceps”, diz o professor Fabiano de Melo, do Departamento de Engenharia Florestal, que coordena as atividades.

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São nítidos os resultados já alcançados pelo centro de conservação. Há cerca de 20 anos, a espécie não era nem vista em Viçosa. A expectativa é de que o projeto se torne referência na área. Os saguis chegam no núcleo por meio de outros cativeiros, como o Zoológico de Guarulhos e o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) da Universidade do Vale do Paraíba (Univap), além de animais resgatados na natureza que são recebidos pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) e encaminhados para o CCSS. A ideia é que, futuramente, os próprios pesquisadores da UFV atuem no resgate dos animais que estejam condenados e ameaçados.

Embate genético entre os saguis Callithrix

Ao todo, no Brasil, há seis espécies de saguis do gênero Callithrix, que vivem entre a Mata Atlântica, o Cerrado e a Caatinga. Embora cada um tenha seu habitat natural diferente, os primatas têm semelhanças biológicas, comportamentais e ecológicas. No entanto, as características de cada bioma, uns mais montanhosos, outros com mais abundância de alimentos, dificultam o contato entre as diferentes espécies. Porém, o tráfico de animais silvestres e a soltura indevida fizeram com que essa distância seja progressivamente reduzida. O fim dessa fronteira, no entanto, pode resultar no apagamento das espécies aurita e flaviceps.

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Por isso, o professor da UFV explica que, embora a fragmentação florestal tenha uma grande parcela de culpa no risco de extinção das duas espécies, hoje o maior problema são as espécies invasoras, que não são nativas da região. “Por terem questões genéticas mal resolvidas, esses bichos acabam reproduzindo entre si e geram descendentes férteis, que vão eliminando a genética do parental puro, o que gera um problema muito grave para nós e é a principal ameaça hoje.”

De acordo com o pesquisador, os saguis do gênero Callithrix têm uma biologia próxima, o que permite a reprodução entre eles e a produção de filhotes férteis. Dessa maneira, no momento em que um sagui-da-serra-escuro reproduz com outro de espécie diferente, o sagui que nasce possui genética nova, diferente das duas espécies reprodutoras, e, assim, torna-se híbrido. Além disso, a introdução dos primatas em regiões diferentes da sua de origem também gera competição com as espécies nativas por território e recursos naturais disponíveis.

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É uma corrida contra o tempo, pois esses animais se reproduzem rapidamente. “Por esse fator, nós acabamos tendo muita dificuldade de fazer esse controle, mas estamos tentando.” Por isso, o CCSS conta com projeto de esterilização dos híbridos invasores. Com o apoio do Hospital Veterinário da UFV, o processo funciona da seguinte forma: os pesquisadores fazem testagem e desenvolvem um protocolo de captura, esterilização, pós-operatório e, após todas essas etapas, a espécie invasora é solta na natureza. Nos machos, é realizada a vasectomia. Nas fêmeas, o ligamento de trompas.

“Nós monitoramos os híbridos que estão na natureza e, em seguida, capturamos os animais e os esterilizamos, para que não possam mais reproduzir. Depois, soltamos essas espécies de volta, para que continuem desempenhando o papel ecológico deles, que é atuar como importantes presas para outros animais, por exemplo”, comenta Fabiano.

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