
As abelhas são associadas, principalmente, à produção de mel para consumo como alimentação. Entretanto, as diferentes espécies do animal possuem uma importância maior no contexto do meio ambiente: por serem, em grande parte, responsáveis pelo processo de polinização de ecossistemas agrícolas e naturais, são cruciais para a manutenção da biodiversidade no planeta. Esse papel é fundamental independente do bioma.
O casal Sérgio Nogueira e Renata Falcão, que trabalha com o projeto Bee Nectar Brasil, explica que existem vários tipos de polinização, mas a realizada pelas abelhas se caracteriza como cruzada. “Uma abelha, ao visitar uma flor em busca do pólen (atrativo para o agente polinizador), acaba se sujando: ele adere ao pelo do animal. Além de funcionar como alimento para as crias da colmeia, por ser rico em proteínas e vitaminas, quando se dirige para outra flor, leva esse pólen, que é o gameta masculino da planta, até o feminino. Assim, ocorre o cruzamento.”
As angiospermas (plantas que geram frutos, mas primeiro têm que gerar flores) dependem da polinização das abelhas, visto que, em alguns casos, o vento não suporta levar o pólen para chegar até outras plantas. “A abelha cumpre esse papel. Ela chega lá, coleta o néctar para produzir o seu mel – seu alimento e sua fonte energética.” Nesse contexto, vale destacar que houve coevolução da planta com o animal, o que explica parte do processo e da necessidade envolvida.
Em sua propriedade, Sérgio e Renata trabalham com abelhas com e sem ferrão. Aquelas que o possuem são responsáveis, por meio da polinização, por 75% do que a população consome de alimentos atualmente, de acordo com o casal. “Analisando a cadeia alimentar, elas estão mais na base. Por exemplo, 30% da produção da soja, que é o alimento do gado, é melhorada em qualidade a partir da polinização”, esclarece Sérgio. Já nas espécies sem ferrão – as nativas, da Mata Atlântica – o número aumenta ainda mais: chega a 85%, principalmente com espécies vegetais nativas. “Elas são altamente necessárias para a nossa sobrevivência”, ressalta.
Abelhas impactam na segurança alimentar
Sem a colaboração das abelhas, muitas plantas deixam de produzir frutos e sementes. Isso pode levar não só à extinção, mas também comprometer a alimentação humana. Renata cita a segurança alimentar, tanto em quantidade, quanto em qualidade do alimento. “Se essa cadeia, que envolve a polinização, é quebrada, podemos chegar a uma crise de fome. Como consequência, ela se expande à crise econômica, social, política e outra série de problemas decorrentes disso. As pessoas, muitas vezes, não conseguem interligar esses fatores.”
Para comparação, Sérgio conta que os Estados Unidos estão “altamente preocupados com o sumiço de abelhas”. “A região da América do Norte tem sofrido muito com isso. Começaram a notar que a produtividade dos alimentos, com a diminuição dos animais, caiu drasticamente. A produção de alguns alimentos, como amêndoas – que o país exporta para diversas partes do mundo -, vão a zero sem a polinização. A maçã também sofre isso, com mais de 90%. Essa situação pode gerar problemas muito grandes.” Dentre os motivos para esse cenário, a utilização indevida de agrotóxicos é um dos principais, sobretudo com o advento dos drones. O desmatamento, a exploração predatória e as queimadas também estão incluídos.
Além das abelhas, outros animais possuem capacidade de fazer a polinização, como as borboletas, os besouros, os morcegos e algumas as aves. Contudo, pela forma com que fazem e pela coevolução que tiveram com determinados tipos de plantas, as abelhas são essenciais para esse tipo de trabalho ambiental. “Algumas delas têm uma afinidade maior com determinado tipo de plantas. A diversidade de espécies que existe naturalmente no meio da vegetação também favorece isso. Então, se não há abelha, a diversidade de plantas diminui. Como resultado, a cadeia alimentar é alterada e há um prejuízo na biodiversidade.”