O plástico PET é o material mais reciclado no mundo e também o mais usado pela indústria de embalagens. Dados do último Censo da Reciclagem do PET no Brasil mostram que o país reciclou 56,4% das embalagens descartadas pela população em 2021. Embora seja um percentual alto, ainda não é o ideal. Há três anos, Juiz de Fora é sede de uma das maiores produtoras de resina de Polietileno Tereftalato (PET) reciclado do mundo e, na última terça-feira (8), a multinacional Indorama Ventures anunciou que quase triplicou a capacidade de reciclagem de garrafas PET na unidade. Segundo estimativa da empresa, 700 milhões de garrafas por ano têm origem na região da Zona da Mata, o que impacta financeiramente cerca seis mil catadores.
A unidade de Juiz de Fora é responsável por atender diferentes regiões do Sudeste. Antes nove mil toneladas do material eram recicladas por ano na cidade a partir de material pós-consumo (PET-PCR). Agora esse número deve aumentar para 25 mil toneladas, o que, na prática, significa que 2 bilhões de garrafas serão retiradas do meio ambiente anualmente e terão um novo destino. A expansão só foi possível porque a empresa foi a primeira do ramo a receber um financiamento da International Finance Corporation (IFC), membro do Banco Mundial, na modalidade “blue loan”, focada no combate à poluição plástica nos oceanos. No total, foram investidos US$ 20 milhões, cerca de R$ 98 milhões, na unidade de Juiz de Fora, gerando mais de 40 empregos e renda para 20 mil catadores do Sudeste, segundo estimativas da empresa.
Um dos impactados pela expansão é Ramon Recepute, proprietário da empresa de recicláveis Recepute, que vende garrafa PET para a Indorama. Antes de enviar o material para a empresa, a equipe compra o resíduo de outros depósitos, processa as garrafas, separando de acordo com as cores verde e branca, prensa e aí sim envia para a multinacional. Apenas o seu galpão consegue reciclar 30 toneladas por ano na cidade. “Nossa empresa foi fundada pelo meu pai em 1991 e, ao longo desses anos, eu percebo que a reciclagem tem ganhado mais destaque no município. Com essa nova expansão, o nosso poder de compra também vai aumentar.”
Minas, Rio e SP são responsáveis por 65% das garrafas coletadas
A Indorama foi fundada na Tailândia há 29 anos e chegou ao Brasil em 2018, em Pernambuco. O gerente da unidade de Juiz de Fora, Flávio Assis, explica que a cidade foi escolhida pela localização estratégica, próxima a Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, em um estado que incentiva a economia circular, inclusive por meio da concessão de benefícios fiscais. O gerente também destaca que Minas, Rio e São Paulo são responsáveis por mais de 65% do total de garrafas pós-consumo coletadas no país, o que facilita o acesso à matéria-prima, grande desafio do segmento.
Segundo a Indorama, o aumento da capacidade de reciclagem vai contribuir para a redução dos resíduos plásticos enviados para aterros sanitários e oceanos, conforme a proposta do chamado investimento azul. Para Flávio, a luta contra a poluição marinha deve começar bem antes dos resíduos chegarem de fato aos mares. A partida inicial do trabalho, na sua opinião, deve estar nos afluentes de grandes rios. “Aqui em Juiz de Fora, nós não podemos esquecer que temos um grande rio, que é afluente de outro grande rio, extremamente prejudicado pela poluição. Nós queremos ajudar a mudar essa história.”
Durante o evento de inauguração, realizado na sede da Fiemg Regional Zona da Mata, a prefeita Margarida Salomão disse à reportagem que a expansão da reciclagem por parte da empresa agrega ao objetivo de reaproveitamento de resíduos sólidos por parte do Município. “A vinda de empreendimentos com essa característica converge com a perspectiva de Juiz de Fora ter, em breve, a completação do ciclo do lixo zero para avançar na coleta seletiva.”
Além da reciclagem em si, a empresa busca conscientizar as futuras gerações por meio do projeto Waste Hero, que disponibiliza materiais didáticos para incentivar o desperdício zero. Alguns professores de escolas municipais de Juiz de Fora serão treinados na fábrica para repassar o conhecimento e o material para as crianças.
O ciclo do PET
Durante o chamado ciclo do PET, as garrafas descartadas pela população passam por triagem e são prensadas antes de chegar na Indorama. Já na fábrica, para virar as pequenas bolinhas, chamadas de resina termoplástica PET, que, mais tarde, serão comercializadas e transformadas em embalagens, a garrafa passa por duas etapas: linha de lavagem e extrusão. A primeira transforma o material em flocos lavados e descontaminados. Após a abertura dos fardos, o plástico passa pelas etapas de classificação e remoção de contaminantes, onde papelão, metais, madeiras, rótulos, tampas, colas e adesivos são removidos por uma série de processos tecnológicos.
Já na segunda etapa, o floco é fundido, sendo aquecido em até 280 graus, e convertido em pelotas de resina PET-PCR. Assim o produto atinge os parâmetros necessários para ser utilizado em contato com alimento com segurança. Na unidade de Juiz de Fora, existe um laboratório que verifica a produção com equipamentos avançados, atendendo a padrões rígidos de qualidade e sanitários, em conformidade com Anvisa, FDA e EFSA.
“A garrafa PET é 100% reciclável e é reciclada. Nem todo plástico é reciclado na prática, mas, com a tecnologia empregada na fábrica de Juiz de Fora, conseguimos pegar a garrafinha de água, que vai para o lixo, e recuperá-la, transformando em resina para voltar a ser aquela garrafinha de água com qualidade e com segurança”, explica o gerente.