Um dos biomas mais diversos do mundo é também, há anos, a floresta mais desmatada do Brasil. Hoje, apenas 24% da área original da Mata Atlântica resiste, sendo que o total de florestas maduras e bem preservadas é de somente 12,4%, segundo a ONG SOS Mata Atlântica. Cada vez mais iniciativas surgem na contramão para recuperar a área perdida. Esse é o caso do projeto de restauração ambiental da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e viveiristas do município de Dona Euzébia. Em três anos, mais de 70 mil mudas de espécies nativas desse bioma já foram plantadas em cidades da Zona da Mata Mineira.
Até o momento, o projeto foi implementado nos municípios de Itamarati de Minas e Miraí, em áreas mineradas e em áreas de compensação. O professor da UFV Sebastião Venâncio Martins explica que a restauração florestal nessas áreas gera impactos ambientais positivos nas regiões de mineração de bauxita na Zona da Mata mineira. Venâncio é coordenador do Laboratório de Restauração Florestal da UFV (Larf), que colabora com a iniciativa. Há quase 15 anos, o laboratório desenvolve pesquisas e orientações técnicas sobre reflorestamento em parceria com a CBA e, em 2020, ajudou a criar uma técnica inovadora.
Competição entre mudas nativas e gramíneas
Um dos principais desafios encontrados na restauração florestal é a competição entre mudas nativas e gramíneas. De acordo com o professor, as plantas nativas sofrem com a competição das espécies invasoras agressivas, como a braquiária, o que resulta, geralmente, em elevadas taxas de mortalidade das mudas plantadas. “Para evitar tal situação, mudas mais altas – com altura média de 2,5 metros, cinco vezes maior do que o padrão (cerca de 50 cm) – estão sendo plantadas nas áreas de reflorestamento da CBA”, explica Venâncio.
O objetivo da técnica é acelerar o restabelecimento da flora, criando áreas para ampliação da fauna. O plantio de mudas altas provoca um sombreamento mais rápido das gramíneas exóticas, o que contribui para erradicar essas espécies na localidade. Além disso, as mudas altas têm uma capacidade maior de aproveitamento dos nutrientes da adubação, o que colabora para que suportem maiores períodos de estiagem do que as mudas menores.
As mudas plantadas nos últimos anos vêm sendo monitoradas e, segundo Venâncio, têm apresentado excelente desempenho, inclusive em níveis acima do plantio tradicional. A manutenção também tem sido feita com a frequência necessária. Além disso, o pesquisador ressalta que o projeto também tem um impacto socioeconômico, já que a cadeia produtiva desse nicho de mercado em Dona Euzébia está sendo movimentada, com geração de empregos diretos e indiretos nos viveiros parceiros.
“O ‘Mudas Altas’ está trazendo diversos benefícios para as comunidades no entorno da Companhia: para os viveiristas da região, criando um nicho de mercado; para o meio ambiente, propiciando a aceleração dos processos de restauração florestal; e para o meio acadêmico, fomentando o desenvolvimento de tecnologias em conjunto com os viveiristas locais e os diversos setores da indústria”, destacou a assessoria da CBA.
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