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Destinação sustentável: outros fins para o óleo de cozinha

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De produto de higiene a combustível renovável, o óleo de cozinha usado no dia a dia pode ter finalidades sustentáveis e econômicas se contar com uma destinação correta. Quando jogado em pias ou na natureza, o resíduo apresenta grandes riscos de contaminação, e mudar essa forma de descarte poluente se demonstra um dos maiores desafios do Brasil, inclusive de Juiz de Fora. De acordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE), o consumo anual do produto ultrapassa a casa dos três bilhões de litros no país.

Em Juiz de Fora, o Instituto de Educação Ambiental e Promoção da Cidadania através da Reciclagem de Óleos Comestíveis (Epros) estima que a cidade possui um potencial de consumo de 1,2 milhão de litros por ano, de acordo com a fundadora e presidente da entidade, Flávia David. Porém, apenas 10% dessa quantidade é beneficiada, ou seja, passa por um processo de retirada de impurezas, como água e resto de comida, para ser usada para transformação em biodiesel, por exemplo. “Estamos falando de mais de um milhão de litros, só de residências, indo para os esgotos e afluentes todos os anos.”

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Doutora em Ciência Política e pesquisadora de Política e Meio Ambiente, Flávia explica ainda que, caso não haja uma destinação correta desse óleo utilizado no dia a dia, as consequências podem acontecer tanto na própria residência da pessoa que o descarta, quanto na natureza. “Ao beneficiar óleo, estamos prevenindo o entupimento das tubulações, a proliferação de ratos e baratas, além de preservar as águas e investir em uma energia limpa renovável (biodiesel), ajudando a combater a principal problemática que temos hoje no mundo, que são as crises climáticas e o aquecimento global.”

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Mais de 60 mil litros beneficiados

Até abril, o Instituto Epros recolheu e beneficiou 60 mil litros de óleo em Juiz de Fora. O processo para retirar as impurezas do produto é feito no próprio galpão da instituição, para ser utilizado, posteriormente, por uma empresa para transformação em biodiesel. De acordo com Flávia, o Epros trabalha em diferentes frentes de ação, sendo que uma delas é com escolas, onde há mobilização entre a comunidade para recolhimento do óleo. Depois, o instituto compra o produto arrecadado, sendo que o valor recebido pelas escolas deve ser voltado para investimento em projetos com os próprios alunos.

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“Hoje no Brasil todo óleo beneficiado praticamente é utilizado para produção de biodiesel, que é um combustível e energia limpa e renovável”, diz. “O óleo de cozinha usado pode ser 100% utilizado como matéria-prima principal do biodiesel.”

De produto de higiene a combustível renovável, o óleo de cozinha usado no dia a dia pode ter finalidades sustentáveis e econômicas se contar com uma destinação correta (Foto: Divulgação/Instituto Epros)

Projeto da UFJF visa a produção de biodiesel

Uma pesquisa desenvolvida pela UFJF busca transformar óleos e gorduras residuais usados em casas ou em estabelecimentos da cidade em biocombustível. O objetivo é, futuramente, usar o biodiesel para abastecer veículos na cidade, como da própria UFJF e da Empav. O projeto em desenvolvimento para obtenção do biodiesel é realizado na usina de processamento Fuelmatic GSX3, cedida temporariamente de forma não onerosa pela empresa Green Fuels. O equipamento está instalado no Centro Integrado de Ensino, Pesquisa, Extensão, Transferência de Tecnologia e Cultura (Cieptec-UFJF Norte).

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De acordo com o professor da UFJF e coordenador do projeto, Adilson David da Silva, a pesquisa visa a mostrar que o ciclo de desenvolvimento deste combustível renovável pode ocorrer dentro do próprio município, com coleta, transformação – ou seja, obtenção do biodiesel – e uso.

“O ideal é que essa matéria-prima, ou seja, o óleo de cozinha usado, fique na própria cidade. Assim, evita-se transferir ou deslocar esse óleo para uma outra cidade, pois você vai estar gastando o diesel fóssil para fazer essa transformação do biodiesel.”

No ano passado, a iniciativa Óleo no Futuro, parceria entre a UFJF e a Prefeitura, instalou 18 pontos de coleta de óleo de cozinha usado. Porém, de acordo com o pesquisador, ainda se faz necessário um trabalho maior de educação entre a população para potencializar esse descarte correto, já que, conforme observado, a coleta na cidade se demonstrou insuficiente. O equipamento usado pelos pesquisadores possui capacidade de produzir até 3 mil litros de biodiesel por dia, porém, ainda é preciso recolher uma maior quantidade de óleo de cozinha para atingir a produção máxima, já que, para cada um litro de óleo usado, obtém-se um litro de biodiesel.

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Como explicado por Silva, atualmente, no Brasil, o teor de mistura obrigatória do biodiesel no óleo diesel fóssil é 12%, porém, este valor deve aumentar gradativamente nos próximos anos, podendo chegar a 15% em 2026. A pesquisa visa a mostrar que é possível ampliar ainda mais esse quantitativo, como, por exemplo, em até 40%. “Em outros países, utiliza-se uma porcentagem maior do biodiesel no diesel fóssil, mas aqui no Brasil é importante que façamos mais pesquisas para provar que esse quantitativo maior não traz consequência para os veículos.”

Tipo de óleo

De acordo com o coordenador da pesquisa, qualquer tipo de óleo vegetal pode ser doado, inclusive, estando com coloração escura ou aparência ruim, já que esse óleo ainda tem valor para transformação. A sugestão é que garrafas pets sejam utilizadas para recolher esse óleo, o que contribui, também, para o descarte correto do recipiente. “Existe um cálculo de que um litro de óleo jogado no rio contamina 25 mil litros de água potável. Simplesmente o fato de você não estar jogando isso no rio, você vai estar evitando poluir.”

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UFJF realiza oficina para produção de sabão

Em um processo que pode ser feito em casa, o óleo de cozinha também pode ser usado para produção de sabão, outra destinação para o produto que, além de sustentável, é econômica. Neste sábado (6), um projeto de extensão do Departamento de Química da UFJF irá oferecer uma oficina para a produção de sabão em barra aproveitando este tipo de óleo. A aula acontece a partir das 14h30, no Centro de Ciências da UFJF. As vagas já se encerraram, porém, a oficina conta oportunidades para visitantes. Basta comparecer ao local na data, com calça comprida e sapato fechado por conta das normas de segurança do laboratório.

“Esse projeto dá continuidade a outro que tínhamos durante a pandemia de produção de sabão, só que, agora, oferecemos oficinas para ensinar a comunidade a usar o óleo de cozinha para fazer este sabão com qualidade e também com segurança”, explica Denise Lowinsohn, professora da UFJF e uma das coordenadoras do projeto.

De acordo com a pesquisadora, para fabricar um sabão, basta óleo de cozinha, soda cáustica e água. Caso a pessoa queira incrementar o produto, é possível adicionar também essências e corantes, para dar cheiro e cor. Além disso, o projeto de extensão trabalha também com vinagre, para diminuir o PH do sabão e evitar que o mesmo resseque a pele. Qualquer óleo vegetal pode ser usado.

“Em termos de claridade, se o óleo é mais claro ou mais escuro, isso não interfere na nossa receita. O que interfere um pouco é o cheiro e as partículas sólidas”, diz, explicando que o resíduo passa por um tratamento para retirada desses aspectos que podem interferir na produção. “A ideia é que as pessoas realmente reciclem o óleo e não descartem na pia, por exemplo.”

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