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Escolas Famílias Agrícolas: conheça a iniciativa que promove educação em áreas rurais de Minas

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Objetivo da EFA é semear saberes agroecológicos para transformar vidas (Foto: Divulgação)
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Há 40 anos, as Escolas Famílias Agrícolas (EFAs) atuam em áreas rurais de Minas Gerais com o objetivo de promover ações educacionais e profissionais gratuitas para crianças, adolescentes e adultos residentes em áreas rurais. A instituição atende pessoas que são de famílias de agricultores, assentados da reforma agrária, indígenas, quilombolas ou que vivem em áreas urbanas, mas se identificam com o campo. Atualmente, Minas conta com 22 unidades desse modelo de escola com aulas voltadas para o ensino fundamental, médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA) integrado a cursos técnicos em agropecuária e agroecologia.

Com o propósito de semear saberes agroecológicos para transformar vidas, as EFAs acolhem 2.024 estudantes em todo o território mineiro. Na região da Zona da Mata, funcionam as EFAs Paulo Freire em Acaiaca; EFA de Jequeri; EFA de Camões, em Sem Peixe; EFA Puris, de Araponga; EFA Serra do Brigadeiro, em Ervália; e EFA Dom Luciano, em Catas Altas da Noruega. O projeto social visa a criar meios de amenizar as dificuldades encontradas pelas famílias do campo.

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“As EFAs têm como propósito buscar a promoção e o desenvolvimento rural sustentável, valorizando o espírito de solidariedade, respeitando o meio ambiente e promovendo a equidade de gêneros. Elas também buscam implementar uma formação global dos jovens, integrando educação em valores humanos, técnico-científicos e artístico-culturais, visando a garantir um futuro de qualidade para os jovens na região”, explica Idalino Firmino, secretário executivo da Associação Mineira das Escolas Famílias Agrícolas (AMEFA), organização sem fins lucrativos responsável por coordenar os núcleos.

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Como funciona a educação do campo?

Além das atividades previstas na matriz curricular de toda escola brasileira, as Escolas Famílias Agrícolas têm um próprio plano de formação, que inclui conteúdos vivenciais – elaborados anualmente com o apoio das famílias dos estudantes – e conteúdos diversificados e profissionalizantes. O modelo educacional adotado é a pedagogia da alternância, que surgiu na França em 1935 após um adolescente não ter se adaptado à escola da cidade, expressando seu desejo de trabalhar como agricultor. Portanto, a escola funciona como um internato. Todo o conhecimento teórico realizado durante o período de aulas é “prensado” para ser fundamentado na prática vivenciada pelos estudantes e compartilhada com seus familiares.

“Para garantir uma boa estadia na EFA, existe um esquema de auto-organização dos estudantes, incentivando-os a buscarem diariamente sua liberdade com responsabilidade. A vida no internato e a aprendizagem proporcionada são consideradas tão ricas quanto a aprendizagem em sala de aula. A auto-organização também permite uma maior sociabilidade dos estudantes entre si e com a sociedade em geral. As aulas práticas também são uma maneira de eles praticarem o que pesquisam e aprofundam na comunidade e na EFA”, diz Idalino.

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Além do conhecimento transmitido em sala de aula e nas atividades externas do internato, os alunos também têm acesso a estágios, que abrangem outros espaços além da agropecuária, e as visitas das famílias. “Essas visitas têm objetivos definidos, sendo o principal deles fortalecer as relações entre escola, família e comunidade, uma vez que as famílias dos alunos são associadas à EFA.”

LEIA MAIS a coluna Biosfera aqui.

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Falta de leis é desafio

Entre as principais dificuldades que o projeto enfrenta atualmente está a falta de legislação. Conforme o representante da AMEFA, a ausência de leis que os amparem como instituições de gestão popular impacta na exclusão das EFAs de programas voltados para as escolas públicas, restringe a obtenção de recursos para construção, reforma e ampliação das infraestruturas, assim como a aquisição de equipamentos de laboratórios e outros materiais necessários aos cursos. A reportagem questionou o Estado a respeito desta questão, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.

“Além disso, a falta de uma legislação específica também dificulta o acesso de estudantes das EFAs a programas estudantis como o FIES e o Prouni, uma vez que essas instituições não são reconhecidas como comunitárias e são confundidas com escolas privadas que cobram mensalidades. A ausência de campos específicos para as EFAs (enquanto comunitárias) em fichas de acesso a esses programas torna difícil para os egressos dessas escolas se candidatarem, o que tem excluído muitos deles de cursos superiores ou os levados a acionar a justiça para garantir o direito que possuem por lei”, afirma o secretário.

Educação ambiental para quem vive do campo

Seguindo os princípios da agroecologia, as EFAs reconhecem a interdependência entre os sistemas alimentares e a saúde do ecossistema, incluindo a qualidade da água e a presença de produtos químicos nocivos, como os pesticidas utilizados na produção convencional de alimentos. Por isso, a alimentação escolar é pensada de acordo com a priorização de produtos orgânicos, livres de produtos químicos prejudiciais, adquiridos diretamente das famílias de agricultores envolvidos no projeto e na própria propriedade das EFAs.

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Um dos princípios da iniciativa é oferecer uma alimentação saudável e promover a economia local, estimulando a agricultura familiar e garantindo uma relação mais equilibrada entre o meio rural e o urbano. “A educação ambiental oferecida nas EFAs tem como objetivo resistir e denunciar as práticas abusivas que agridem o meio ambiente e as pessoas. Por meio dessa educação, busca-se promover uma consciência ecológica entre os estudantes, seus familiares e a sociedade como um todo, visando a transformar ações individuais e coletivas em prol da sustentabilidade ambiental.”

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