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Acusado injustamente, juiz-forano dá bicicleta de presente à vítima

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Amaury Escarati, feliz com o desfecho da história que lhe rendeu o momento mais constrangedor de sua vida
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Eram 10h do dia 6 de abril deste ano quando o aposentado Amaury Ângelo Escarati viu sua vida virar de cabeça para baixo. O ex-funcionário da Cemig planejava uma viagem na Semana Santa, quando um oficial de Justiça bateu à sua porta. O motivo: ele era acusado pelo Ministério Público de São Paulo de ter furtado uma bicicleta no município de José Bonifácio, distante de Juiz de Fora mil quilômetros, em agosto de 2014. “Eu nunca sequer tinha ouvido o nome desta cidade. Na hora fiquei aéreo, não acreditava que aquilo estava acontecendo comigo. Conferi a citação e meu nome e documentos estavam todos corretos. Mas não era eu o criminoso”, disse.

O aposentado acredita que o mal-entendido começou por conta de um furto do qual ele foi vítima em 2005, quando foram levados, entre outras coisas, seus documentos pessoais. “Expliquei ao oficial de Justiça a situação, e ele me orientou a procurar um advogado para provar minha inocência, e disse que eu teria dez dias para apresentar minha defesa. Daí em diante foi um corrida contra o tempo”, comenta. Com a citação em mãos, Amaury procurou os advogados Letícia Delgado e Thiago Almeida, que deram início a uma força-tarefa para provar a inocência do homem.

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O primeiro passo foi entender o crime pelo qual o aposentado era acusado. Conforme o inquérito policial, o falso Amaury furtou a bicicleta de um garoto, na época com 12 anos, na companhia de um comparsa no dia 12 de agosto de 2014. A vítima transitava quando foi surpreendida pelos bandidos, que pararam o carro em que estavam e roubaram a bicicleta, que o adolescente havia acabado de ganhar do pai. Eles fugiram e não foram encontrados.

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Bebeu e não pagou

Defesa do aposentado provou que cédula de identidade havia sido falsificada (Foto: arquivo pessoal/ Almeida, Bentes e Delgado Advogados)

O garoto então foi à delegacia da cidade paulista com o pai e registrou a ocorrência.O caso seguiu para investigação da Polícia Civil, que refez os passos da dupla e descobriu que os autores haviam estado em um bar de uma cidade vizinha horas antes de cometerem o crime. “A dupla teria bebido neste estabelecimento e não tinha dinheiro para pagar a conta. Então, eles deixaram a identidade falsa, com o nome do Amaury de Juiz de Fora no bar como garantia de pagamento. Em seguida, eles roubaram a bicicleta e nunca foram localizados”, detalha a advogada Letícia Delgado. Com a identidade apreendida, o garoto roubado reconheceu o homem da foto como sendo o autor do crime.

Na cédula falsa – que, inclusive, era um xerox -, além da foto não ser do verdadeiro Amaury, havia vários dados errados, como data de expedição e a assinatura totalmente diferente da original. “Desde que tivemos acesso ao inquérito policial, vimos uma série de inconsistências e fragilidades. Juntamos provas e testemunhas, e encaminhamos a defesa ao juiz  competente. Mesmo com a promotoria reconhecendo o erro, o juiz de José Bonifácio marcou uma audiência na qual o Amaury teria que estar presente”, conta Letícia, acrescentando que o cliente poderia pegar de dois a oito anos de reclusão.

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Amaury e os advogados Letícia e Thiago

Coisa de filme

O aposentado então acabou no banco dos réus. No dia 23 de maio deste ano, ele e os dois advogados seguiram para José Bonifácio, uma viagem de carro cansativa, que durou 12 horas. No tribunal, o verdadeiro e inocente Amaury de Juiz de Fora ficou frente a frente com a vítima, agora com 14 anos, para que ela descartasse ou não sua participação no crime. “Este foi o momento mais humilhante para mim. Só via em filmes esta cena de reconhecimento de criminoso, foi horrível estar naquela situação. Na mesma hora que me viu, o garoto disse que não era eu o autor”, comenta o aposentado.

No final da audiência, o juiz confirmou o erro e absolveu o aposentado. Mesmo com seu problema resolvido, a situação do garoto não saiu da cabeça de Amaury. “A verdade é que saímos da audiência sem saber se a vítima e seu pai tinham de fato entendido o que havia ocorrido ali, se compreenderam o erro no processo. Percebemos que a motivação para o menino estar ali era ter sua bicicleta de volta, o que não aconteceu, já que o verdadeiro culpado está livre e inclusive pode continuar a estar usando a identidade de Amaury”, ressalta Thiago Almeida. Sensibilizado com tudo que viveu, Amaury comentou ainda no carro com o advogado que queria ajudar aquele menino e dar a ele outra bicicleta.

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Os meus advogados fizeram contato com o pai, que disse que teria que trabalhar muito para dar outra bicicleta ao filho. Então, comprei a bicicleta pela internet e mandei entregar na casa deles.

Amaury Escarati, aposentado

 

Selfie na bike

A bike chegou na casa da família de José Bonifácio no último dia 26. O agradecimento veio em forma de uma foto, na qual o garoto aparece sorrindo já com seu presente. “No meio disso tudo, mesmo tendo passado por todo este desgaste, vi que ainda tem gente que está em uma situação muito pior que eu, era o caso desta família. Quando vi a foto, tive a certeza de que valeu a pena, foi gratificante”, celebra Amaury.

A boa ação do aposentado surpreendeu os advogados. “Não é todo dia que encontramos histórias assim. Durante todo o processo, mesmo com toda a situação, ele sempre se mostrou sereno. A atitude dele nos deixou extremamente felizes. Imagine você receber do ‘acusado’ exatamente aquilo que havia sido roubado? A vitória nasceu para as duas vítimas”, comentou Thiago.

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