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História de protagonismo: conheça o papel das mulheres na arte cervejeira

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Luana e Jacqueline como juradas no Festival Brasileiro da Cerveja, em Blumenau (Foto: Divulgação)
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Por tempos, foi a mulher a responsável pela produção da cerveja. Isso porque a bebida era associada à alimentação. “Era como fazer um arroz”, compara a cervejeira, sommelier, farmacêutica e sócia da cerveja Timboo Luana Gerhein. Cabia à mulher, ali, dentro de casa, dominar a produção da cerveja que tinha consumo doméstico. Ela mantinha também o estoque dos grãos e, por isso, a fermentação surgiu nesse contexto quase por acaso. A monja Hildegard von Bingen, no século XI, foi quem descobriu o lúpulo e revolucionou a cerveja uma vez que, a partir daí, a conservação da bebida seria facilitada. Da mesma forma que se pode dizer que a cerveja está atrelada à história da humanidade, também está ligada ao papel da mulher, uma vez que, sem ela, a bebida, talvez, não fosse tão popular quanto é hoje.

Fato é que, com o aumento da demanda pela bebida e a transformação de sua produção em industrial, a cerveja foi sendo cada vez mais associada ao homem: desde a fabricação ao consumo. Mas em um processo de recuperação da história, são diversas as mulheres que estão em papel de protagonismo, mantendo ativa a indústria cervejeira, em Juiz de Fora inclusive.

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Todo ano, Blumenau recebe o Festival Brasileiro da Cerveja: um dos maiores eventos da área, atraindo tanto consumidores quanto produtores de diversas partes do mundo. Neste ano, o festival aconteceu na última semana, entre os dias 8 e 11, sendo considerada uma das maiores edições desde sua criação. Luana representou a cidade através da Timboo, que trouxe duas medalhas para Juiz de Fora: uma de prata com a Caboclo Ale, uma Flanders Red Ale, estilo tradicional belga, desenvolvida em parceria com o pesquisador de cervejas Igor Poggianella; e outra de bronze com a Timboo Guaiava, produzida com goiabas orgânicas da região de Ubá.

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As duas no universo cervejeiro

Mas, além disso, Luana, pelo segundo ano consecutivo, representou também a sommelieria da cidade julgando as amostras das cervejas que fizeram parte do concurso. Ela e Jacqueline Navarro, também sommelier e responsável pela GranChopp, uma loja especializada em cerveja. Além das duas, outras 45 mulheres ficaram responsáveis pelo julgamento: “Desmistificando muita coisa”, aponta Luana.
Tanto Luana quanto Jacqueline foram atraídas para esse universo da cerveja, principalmente, porque sempre gostaram da bebida. A curiosidade em entender os processos falou mais alto nos dois casos. No de Jacqueline porque ela é também jornalista por formação e, em contato com outras pessoas que tinham mais conhecimento que ela, foi tendo vontade de perguntar e entender o que está por trás daquela bebida, conhecendo outros estilos e gostos que, há oito anos, ainda ficavam escondidos.

No caso de Luana, por ser farmacêutica, já tinha contato com os alimentos e era a indústria a área que ela mais tinha interesse. Seu esposo, Mário Ângelo Sartori, também tinha interesse pela cerveja e produzia em casa, surgindo, assim, a Timboo. Ela começou a degustar e, agora, é responsável pelo desenvolvimento de produtos e controle de processos produtivos na Timboo e também em outras duas fábricas da cidade. “Mas o que mais me interessa é a ligação da cerveja com a história da humanidade”, admite Luana.

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As duas se encontraram por causa desse caminho, que é um universo inteiro, e tudo o que envolve a cerveja. Juiz de Fora, por si só, é uma cidade com tradição nessa história toda, tendo sido um polo de produção cervejeira e lutando, ainda, para retomar esse posto. A cidade atualmente é casa de quase 30 cervejarias. Apesar disso, o acesso e o interesse por elas ainda é pequeno. Luana e Jacqueline, de certa forma, atuam no sentido de popularizar essa fabricação, levando as cervejas daqui para outros lugares, mas, também, sendo porta-voz de uma educação cervejeira.

Um caminho sem volta

Jacqueline, por exemplo, conta que, quando começou a se interessar pelas cervejas, o conhecimento sobre as especiais ainda não era tão difundido. Essa falta de conhecimento e interesse por elas é, ainda, grande. “E isso se reflete no Brasil como um todo. A abrangência da cerveja especial é de apenas 2%. O maior percentual, 98% do consumo, é ainda daquelas mais populares. Isso no universo populacional de Juiz de Fora acaba se repetindo.” Um grande motivo para isso é limitar o gosto da cerveja àquele amargor. “Mas existe cerveja para todas as ocasiões. Basta entender o gosto da pessoa que a gente encontra aquela que combina com o paladar. Como sommelier e à frente da GranChopp meu trabalho é esse também: mostrar que a cerveja é para todo mundo.”

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Luana, ainda, acredita que existe um desconhecimento da tradição, em Juiz de Fora também. Ela, descendente alemã, pontua que existe, em sua família, uma clareza dessa tradição com a vinda dos alemães para a cidade e a popularização da bebida. Mas isso foi se perdendo. “Além disso, existe uma certa dificuldade de logística, de medo em se permitir conhecer novos gostos. É importante a informação e, também, não se fechar para descobrir o que te faz feliz e gosta.”

“É um caminho sem volta conhecer e conversar sobre o produto”, diz Luana. E, cada vez mais, esse universo vai aumentando à medida em que novos gostos e combinações vão sendo descobertos. Só no guia com as diretrizes dos estilos que os jurados utilizaram para categorizar e estudar as cervejas que participaram do concurso tinham 150 tipos catalogadas. Nas 12 torneiras da GranChopp, de acordo com Jacqueline, dessem 150 rótulos de mais de 50 cervejarias, entre elas de Juiz de Fora e de outros lugares do Brasil e do mundo. Na loja, então, ela exerce esse trabalho de educação cervejeira.

“Quando as pessoas veem mulheres ocupando esse lugar, muitas ainda ficam surpreendidas. É importante quebrar esse paradigma. Mostrar o que está por trás da Jacqueline do balcão da GranChopp”, afirma a sommelier e empresária. Para ela, atuar como jurado do concurso foi interessante por, além de se deparar com pessoas do mundo inteiro e conquistar novas experiências, ver que a mulher tem voz, sim, na área. “A gente foi muito ouvida”, garante. Para Luana, que afirma que as mulheres de sua família nunca se limitaram aos papéis geralmente patriarcais, estar ali é, também, quebrar barreiras. “Foi uma satisfação muito grande estar ali. Deu para perceber esse caminho fértil que se abre cada vez mais para as cervejarias. E, mais que isso, poder representar as mulheres nesse mercado. Eu, ali, representava a Timboo, mas também meus ancestrais, Juiz de Fora, as mulheres da área, a riqueza de produtos.”

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