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Vivendo nos palcos e despertando seus talentos: conheça Arielle Telles

ariele teles
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Subir aos palcos mudou a vida de Arielle, que já soma 20 anos de carreira artística (Foto: Arquivo Pessoal)
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Quando a Tribuna lançou a coluna “Sem lenço, sem documento” e pediu sugestões aos leitores de pessoas na cidade que poderiam ter seu trabalho retratado no jornal, um nome se repetiu muitas vezes nos comentários nas redes sociais: o de Arielle Telles. Ela, que é atriz, produtora e cantora, passou boa parte da vida se dividindo entre a arte e o trabalho como cabeleireira. Tendo uma rotina apertada, filho para criar e contando com poucos que entendiam sua paixão, considerou até abrir mão do meio artístico – mas foi impossível que a pausa fosse definitiva, conta. “Se eu paro, eu não tô vivendo. Seria como deixar uma metade morta, apagada, escondida debaixo dos tapetes. Não posso fazer isso comigo jamais.”

Já são 20 anos de carreira, e tudo começou quando assistiu à peça Dona Baratinha, no SESI Juiz de Fora. “Eu queria ser a Dona Baratinha, sem saber o que era ser a protagonista de um espetáculo”, explica. As dificuldades, no entanto, existiam para uma jovem criada no Bairro Dom Bosco, onde, conforme lembra, era difícil ter acesso à arte. Toda vez em que tinha uma oportunidade de ter esse contato, no entanto, se sentia encantadíssima. Quando começou a trabalhar, então, ainda bem nova, viu que poderia ter a chance de escrever a sua própria história com o dinheiro que ganhava. “Fui fazer cursos de teatro, e o primeiro foi no Lac, o Laboratório de Artes Cênicas aqui de JF. Foi lá que comecei a trabalhar na área, também.”

Seu primeiro espetáculo, “Rua”, foi um divisor de águas. Sua atuação lhe rendeu, na ocasião, o prêmio de Melhor Atriz de Teatro de Minas Gerais, e fez com que ela tivesse ainda mais certeza de que era isso mesmo que queria fazer. Conforme narra, foi uma magia entrar em cena, ver as pessoas interagindo com ela daquela forma, vendo a si mesma em cima do palco, como sempre quis. Nesse sentido, apesar de ver o mundo da arte como generoso, também existem dificuldades. “O principal desafio é conseguir pagar as contas”, confessa. É por isso que, em tantos casos, esse mundo fica restrito a quem pode se dar o luxo de investir na carreira artística de forma exclusiva, e não tem, como ela, apenas os fins de semana para ensaiar e se preparar. “Eu me sentia muito cansada, alguns espetáculos que eu tive que abrir mão de fazer, ainda mais com filho pequeno. É uma rotina tripla, então eu acabava duvidando de mim. Pensava que não estava indo para frente, não estava dando certo, e desacreditei do meu potencial.”

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A volta à arte, entretanto, foi inevitável, porque os períodos nos quais precisou ficar longe do teatro foram percebidos como sombrios em sua vida. “Momentos de muita tristeza mesmo”. A arte sempre trouxe à tona para ela todo o seu espírito de aventura, de alegria, de emoção. Ou, como diz a própria Arielle: “a arte mexe muito com a gente. Não quero parar nunca mais”. Em outro ponto da conversa, pergunto se houve algum momento em que seu lado artístico despertou de forma mais forte. Ela responde com o que talvez seja a chave para entender sobre sua perseverança: “Não. Eu já nasci desperta. Sempre soube o que eu queria fazer, nunca tive dúvidas. Só que eu não sabia qual era o caminho”.

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No momento, Arielle participa de um projeto de peça infantil em que vai interpretar três personagens diferentes (Foto: Arquivo Pessoal)

Experimentando e aprendendo

Começando a pensar em sua carreira, buscou formação profissional, tendo inclusive terminado o curso quando estava grávida de cinco meses de seu filho. Foram muitos os espetáculos dos quais participou, seja como atriz ou produtora, que até perde a conta. Mas se lembra sempre com carinho das produções de “Saltimbancos” e “Sonho de uma noite de verão”. Também fala com carinho do monólogo “Bem me quer mal me quer”, que criou para participar de um festival, e que fala sobre a violência contra a mulher. “É um espetáculo que cabe em qualquer lugar. Só está descansando, mas vai voltar”, garante. No momento, inclusive, participa de um projeto que considera bem desafiador: uma peça infantil em que interpreta três personagens diferentes.

O canto, por sua vez, veio de outra forma e, como tudo na sua vida, parece ter acontecido entre os intervalos de outras atividades. Tudo começou quando um dos seus colegas de palco a convidou para cantar no carnaval e ela logo aceitou. “Eu queria fazer de tudo, na arte.” E prossegue contando e rindo. “Acho até que ele se arrependeu porque eu não tinha preparação nenhuma.” Nada disso, no entanto, importou muito, porque o fato é que ela pegou gosto pela coisa. “Fui buscar formação para aprender a cantar, e aí comecei a cantar na noite, em bares de Juiz de Fora, e fui sendo chamada pelas pessoas”, diz.

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Nesse processo, procurando se aperfeiçoar nas diferentes atuações, buscou vários tipos de formação na área, inclusive um curso superior. A profissão, que para muitos parece simples, exige intenso preparo para que a pessoa possa ter domínio do palco e da cena. Entendendo isso, Arielle fez muitos cursos paralelos: de palhaçaria, circense, de cuspir fogo, de andar em perna de pau e ainda outro para tocar violão. “Tudo que eu acho que um ator precisa fazer.” Hoje, inclusive, sonha em ser atriz de TV e poder fazer novelas. Sua luta é constante, inclusive pelas dificuldades que Juiz de Fora impõe. “Você tem que mostrar constantemente que tem valor, que tem formação e que tem currículo se quiser ter alguma chance de ser pago de forma justa.”

Produção generosa

A sua motivação, durante muitos anos, foi “poder viver da própria arte”. É o que ela consegue, agora, com a L&A Produções. Aprender a trabalhar com produção foi acontecendo pela própria experiência que ela foi adquirindo, inclusive por já ter precisado deste tipo de trabalho em outros momentos. Agora, é ela mesma quem faz os roteiros, se inscreve em festivais, grava e edita vídeos, escolhe foto para banner, administra redes sociais, entre outras coisas. Nesse caminho, ela percebeu que mais gente também precisava dessa ajuda. Em sua visão, havia uma demanda reprimida na cidade nessa área.

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Essa oportunidade também fez com que ela pudesse realizar algo de que sentiu muita falta na própria vida: incentivar as pessoas que amam arte a não desistir. “A produção me parece ser uma área muito generosa. Eu crio laços, dou esperança para as pessoas. Tem gente que me manda mensagem falando ‘por favor, não desiste, porque se você desistir eu também vou'”. É por isso, acredita, que tantas pessoas lembraram do seu trabalho e indicaram para a coluna.

Ver o que conquistou por si mesma e para os outros é um presente diário para Arielle. E, seja com que idade for, seus sonhos não param nunca. Olhando para o passado, ela se emociona com a trajetória que percorreu para chegar até onde queria. Agora, aos 41 anos e olhando para trás, admite que falaria para si mesma, mais nova, apenas para continuar tentando, porque ainda conseguiria realizar o seu sonho. E acrescentaria, ainda, um último comentário: “Que bom que você não desistiu, danada. Você vai chegar mais longe ainda”.

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