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Conheça Danielly Gomes Oliveira: artista das pinturas na sala de leitura da Praça CEU

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Danielly Gomes Oliveira trabalha de segunda a sábado na sala de leitura da Praça CEU, em Benfica, organizando as estantes, anotando doações e empréstimos. Apesar desta ser sua principal função, lá mesmo ela já fez mais que isso – as paredes do local são pintadas por ela, parte em parceria com amigos, e contam com os semblantes de Conceição Evaristo e Machado de Assis. Não só lá, mas também em diversos pontos de ônibus da cidade e outras praças, seus traços ajudam a deixar os espaços mais bonitos e marcam a presença de pessoas como ela. “Por ser uma artista preta e que veio de periferia, por muitas das vezes a gente não ocupava esses espaços, como uma biblioteca. A gente não conhecia e não tinha referências. Por isso faço questão de pintar autores negros aqui”, revela. Aos 24 anos, ela tem buscado aprender a usar vários materiais, aperfeiçoar seu trabalho e se reconhecer como artista. 

Artista pintou os rostos de Conceição Evaristo e Machado de Assis na biblioteca da Praça CEU, onde trabalha

Sua relação com a arte teve início ainda criança, brincando sozinha. “Minha mãe tinha que trabalhar e me deixava com a minha vó, que me deixava desenhar em tudo, até nas paredes e no chão. Eu tive liberdade para fomentar esse meu lado criativo”, relembra. Naquele momento, ela desenhava com lápis grafite os rostos de sua mãe e de seus professores. Foi assim que, aos poucos, foi aprendendo sozinha o que queria fazer e observando com ainda mais atenção os detalhes que desejava introduzir. Para ela, o mais importante é sempre acertar o olhar, que é o que faz diferença tanto na hora de produzir um retrato bem feito quanto na hora de perceber o que ainda precisa melhorar.

Já por volta dos 14 anos, começou a se aventurar na aquarela, que permitia que ela explorasse mais tons e trouxesse novas camadas para os seus desenhos. Foi só na pandemia, no entanto, que começou a pintar com tinta acrílica e a óleo, quando ela e seu marido encontraram algumas bisnaguinhas jogadas no lixo. “Peguei um pincel de maquiagem e tentei pintar minhas cachorrinhas. No primeiro contato com a tinta, me apaixonei”, conta. Foi pouco depois disso que começou a trabalhar na Praça CEU e conheceu Lúcio Rodrigues, que também trabalha no local e se tornou professor de artes dela. Pela primeira vez passou a ter alguém que a ensinasse e estimulasse, e que já tinha começado as pinturas no local: “Ele me ensinou muitas coisas e me incentiva até hoje. Eu tinha muito medo de errar. Ele colocou o spray na minha mão e me disse para ‘só ir’. E eu fui”, relembra. 

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Foi a partir da parceria entre os dois que ela também começou a trabalhar com arte urbana, fazendo murais. “Aqui eu usei a técnica de pincel e spray. Foi uma mescla, gosto de usar espuma também, porque preenche rápido dando um efeito muito legal. Aprendi que a gente não precisa de muita coisa para fazer arte. Pode usar qualquer coisa e transformar. Misturo pigmentos para chegar no tom que quero, uso massa corrida, faço o que for preciso para criar. Até para as telas eu uso madeira, pedaço de guarda-roupa, papelão”, conta. Formada em História, ela também buscou a graduação em Artes Visuais, e quer se aprofundar ainda mais nos conhecimentos dessa área. “Quero transformar as pessoas com a arte como eu fui transformada. Fazer com que seja acessível. Meu maior sonho é esse, que as pessoas como eu saibam que é possível”, diz.

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Rostos por toda parte

Danielly começou pintou rostos de pessoas ao seu redor, com inspirações e fotos. Atualmente, ela faz as pinturas de memória

Criar rostos através da arte sempre foi o que Danielly mais gosta de fazer, desde que começou a desenhar ainda criança. “Faço natureza morta, paisagens, mas o que gosto mesmo são rostos. Pessoas”, conta. Por isso, tanto nos murais que faz quanto nas telas e em exposições, esse é sempre o foco. Com o tempo, porém, o modo de fazer isso foi se alterando: “Inicialmente, eu pintava muito as pessoas ao meu redor, pegava inspirações e fotos. Hoje em dia, posso até pegar uma referência na internet do movimento, mas agora tento mais fazer o processo de pintar de memória. E sempre saem pessoas diferentes! A gente muda um pouquinho, um nariz diferente, uma olheira diferente, saem pessoas que a gente criou”. 

Nesses mesmos rostos, ela enxerga que é possível refletir muita coisa sobre si mesma e sobre sua trajetória. “Tudo que a gente vive impacta na nossa obra final. A minha faculdade de História, a minha vivência no teatro, a minha infância difícil. Tudo está ali”, conta. Apesar de ser um trabalho, é algo que ela consegue fazer para relaxar e onde deixa sua criatividade fluir. “Eu chego em casa por volta de 19h, 20h, e assisto a séries pintando. Comecei a produzir peças de roupa, também pinto roupas e cadernos personalizados. Além de ser um prazer, é como eu vejo a retribuição de alguém que queira comprar”, conta, e explica que as encomendas chegam, na maioria dos casos, através de seu Instagram.

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Artistas da Zona Norte se incentivam

A Praça CEU, onde Danielly trabalha, também foi um dos seus pontos de chegada quando se mudou para Juiz de Fora, há seis anos, e que possibilitou que ela fizesse cursos e aulas gratuitas. A Zona Norte é parte de sua trajetória desde que chegou à cidade, onde mora atualmente e inclusive onde se juntou com outros artistas, para potencializar o próprio trabalho. “O coletivo Artes ZN surgiu com a proposta justamente de um ponto de encontro no qual um artista pode dar força para o outro, e desenvolveu um projeto de pintar ônibus com releituras de pinturas da Semana de 22, a partir do qual tomou força. A gente foi chamando mais e mais gente. Conseguimos concluir o que estava proposto e ficamos com aquela sensação de ‘E agora?’. Resolvemos continuar, até porque as pessoas foram gostando, iam passando de carro enquanto estávamos pintando e falavam da arte”, relembra. 

Recentemente, o coletivo também conseguiu a liberação para pintar dez pontos de ônibus. Eles não vão receber nenhum tipo de verba para isso, mas se reúnem porque é disso que gostam e acreditam no potencial do trabalho que realizam. Para Danielly, além de conseguir agregar os talentos, a união dos artistas serve para esse apoio: “O coletivo incentiva a gente, um artista vai dando força para o outro. Sair pra pintar na rua sozinho é difícil, e quando a gente faz isso junto é reconfortante, é divertido”. Em conjunto com outras pessoas, acredita ainda que é possível muito mais, e já faz planos para conseguir isso. “A arte traz vida. Sou de uma comunidade em Belo Horizonte chamada Santa Mônica. Lá, onde via um grafite, me chamava a atenção. A arte deixa tudo mais bonito, faz com que a gente queira estar no lugar. A gente se sente pertencente ao lugar, tem vontade de cuidar dele. Acredito que isso é muito importante pra toda comunidade”, diz.

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