Nat Baby toca nas noites de Juiz de Fora como DJ open format – isso significa que ela se adapta ao que pedirem, em cada festa que vai, seja nas principais casas de show, em casamentos ou outros eventos privados. Já são seis anos trabalhando neste ramo, inclusive marcando presença em grandes festivais da cidade, que tiveram a presença de artistas como Duda Beat, Gilsons, Marina Sena e Ana Cañas. Essa história, no entanto, começou por acaso, quando ela e uma amiga, que já tinha experiência como DJ, tiveram que fazer uma festa juntas para um trabalho de faculdade. Desde então, buscou se capacitar mais, fazer cursos e, assim, foram muitas noites se virando, trabalhando de madrugada e fazendo tudo sozinha para divulgar o seu trabalho. Mas sentiu que valia a pena, desde que tocou pela primeira vez, e percebeu algo diferente das suas vivências anteriores: “Foi uma experiência de conseguir tocar as pessoas através da música. Me senti pertencente e preenchida”, relembra. Conseguir expandir esse efeito e fazer com que mais pessoas pudessem ser tocadas pela arte se tornou uma tarefa que ela leva muito a sério, mesmo em períodos difíceis, como em crises depressivas ou durante a pandemia de Covid-19, que afastou todas as pessoas dos espaços nos quais ela costumava tocar.
Natalia Cyrne Braga veio para Juiz de Fora de Valença, cidade do interior do Rio de Janeiro, e a cerca de 100 km de distância, para fazer a faculdade de Publicidade e Propaganda. Apesar de ter trabalhado na área, depois de se formar, nunca foi o que realmente despertava nela um prazer maior de fazer. “O que me move mesmo é a música e as conexões que fiz através dela”, conta. Há mudanças, no entanto, que vieram na sua vida já no começo da faculdade, quando chegou em uma cidade com cerca de sete vezes mais habitantes do que a sua de origem, e que vem da vontade de se reinventar – a começar pelo apelido, que é seu nome artístico. “Na minha cidade tinha várias Natálias, é um nome comum. E eu sou muito grandona, alta, e sempre tive um jeito meio criançona. Então faziam bullying comigo falando ‘Natália bebezona’, coisas do tipo”, conta a DJ, que tem 1,80 de altura e 32 anos. Mas o que era algo pejorativo, de repente foi ressignificado. “Resolvi pegar e usar como uma força. Era algo que me deixava pra baixo, mas hoje é a minha potência onde chego e como posso brincar com o jeito que as pessoas me veem”, diz.
Apesar de ter encontrado algo que se tornou sua vocação e que soube que era o que realmente queria fazer, percalços fizeram com que tivesse que recalcular a rota algumas vezes e a deixaram realmente com medo do que viria pela frente. A pandemia de Covid-19 é um exemplo evidente disso. “Eu sou virginiana e muito hipocondríaca. Fiquei apavorada, porque não tinha vacina e tinha muita gente morrendo. Pensava: será que é possível que vai acabar agora, quando eu finalmente estava conseguindo ocupar espaços legais e viver o auge da minha carreira?”, relembra. O importante, para ela, foi “não deixar a peteca cair”, e por isso passou a fazer lives com seus sets. “Era pra me ocupar, mas também pra tentar ajudar a levar um pouco de alegria”, diz. Para seu sustento, ela também foi trabalhar como garçonete no restaurante Gema, o que também acabou adorando fazer. Até que os movimentos culturais voltaram a poder acontecer e ela foi retornando ao trabalho como DJ, dessa vez com propostas diferentes e uma valorização maior dos espaços abertos. Sua agenda costuma ser fechada através do seu perfil no Instagram, falando diretamente com ela.
Um desafio também bastante claro na profissão que segue é conseguir uma estabilidade e ser empregada com preços justos nos eventos de que participa. “Eu acho que a gente precisava de um teto e estabelecer um preço mínimo a ser cobrado. Eu sinto que, às vezes, meu trabalho é desvalorizado, porque as pessoas não sabem o tempo que gasto pesquisando as músicas, baixando com qualidade ou investindo nos equipamentos”, diz, e ressalta que também falta uma união das pessoas que trabalham nesse ramo para se fortalecerem. Nat Baby também enfrenta depressão, e trabalhar na noite animando pessoas em festas através da música, muitas vezes, pode parecer paradoxal em relação ao modo como está se sentindo. Por isso, busca se cuidar da melhor forma possível antes dos shows e sentir a endorfina que o trabalho traz. “Toda vez é uma vitória. Porque aí também lembro o porquê estou lá”, conta Nat Baby.
Nada de óbvio
Um DJ open format, como Nat Baby, é aquele que se propõe a misturar diversos estilos musicais em seu set e a seguir o que cada festa pede, de acordo com o público e o que querem. Para isso, como ela explica, é preciso ter um conhecimento amplo de música e também uma sensibilidade especial para perceber como a pista está reagindo ao que ela escolhe. “Eu toco em casamento, em coquetel de lançamento, em festival, em balada. Gosto desse desafio. Tem gente que acha que quem toca tudo, não toca nada, mas eu enxergo de outra forma. Acho que é assim que eu consigo surpreender e criar emoções. O que eu mais gosto é isso, quando não fica nada óbvio”, conta. Para ela, então, é um prazer misturar Billie Eilish e Pabllo Vittar, por exemplo, em seus sets, e ver o que essa junção pode gerar.
Pensando nessa diversidade que gosta de trazer, busca colocar sempre brasilidades no que vai fazer. “Acho que a música brasileira pode agradar a todo mundo. Desde uma criancinha pequenininha até o mais velho, com músicas que parecem atemporais”, explica. Isso é o que faz, por exemplo, nas rodas do Batuque Delas, em que se junta com outras mulheres em uma roda de samba. Lá, Nat Baby também está aprendendo a tocar o surdo – para ela, é um instrumento que parece um coração, e que veio na sua vida para reafirmar que o ritmo e a batida são essenciais em tudo.
Nat Baby do passado e do futuro
Quando Nat Baby chega em uma pista e começa a trabalhar, muitas vezes no meio da madrugada, também tenta pensar no que está representando: “Eu acho que é uma forma de mostrar que a mulher tem a força dela, o talento e que pode estar onde quiser. Também por ser uma pessoa plus size, busco isso. Quero transmitir essa força de que não é só a padrão bonitinha, do cabelo liso, que vai estar lá. Eu também posso ocupar esses lugares porque isso me traz felicidade”, diz.
Faz isso pensando inclusive em suas versões anteriores, que ainda vivem nela. “A Nat criança é uma força que me mantém de pé. É uma garota sonhadora, guerreira e que tem muita força. E que não deixou essa chama se apagar em mim”, conta. Pensando nisso, tenta seguir seu caminho sem se comparar com trajetórias diferentes da sua, de pessoas mais privilegiadas, ou de propósitos diferentes. E ainda tem seus sonhos, como tocar no festival Rock the Mountain, em Teresópolis, mas diz: “Entendo que tudo tem seu tempo.”