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Conheça Paulo Sergio Talarico: artista plástico do Florestinha

Talarico Acervopessoal
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É possível encontrar o artista plástico Paulo Sergio Talarico no Bairro Florestinha, em uma casa em construção, que fica bem escondida entre as matas e os morros de Minas. Dentro do condomínio, o ateliê que ele chama de ‘casa torta’ é todo feito por ele, com suas pinturas penduradas nas paredes, presentes de amigos também artistas e fotos de família antigas. Há tecidos em que fez trabalhos e registros de uma carreira inteira, com mais de 40 anos de trabalho, tintas espalhadas pela mesa, cubos pintados e também materiais que ele irá transformar no futuro. O artista já passou por diversas cidades brasileiras, trabalhou como chargista em grandes jornais e foi até marqueteiro, mas voltou para Juiz de Fora já há 9 anos, para continuar uma história que começou desde quando se entende por gente. Chama o que faz de “brincar” – mas tem rotina e é coisa séria, como confessa. Isso não impede, no entanto, que tenha um prazer enorme com o que faz.

A trajetória do artista começou quando ele veio de Cataguases para Juiz de Fora, por volta dos 10 anos. “Desde que eu me lembro por gente já estava desenhando, fazendo essas coisas, sabe? É difícil até de explicar. Parece uma missão, tá na gente. Tem que fazer aquilo”, reflete. Foram muitas andanças desde então: já morou em Goiânia, Rio de Janeiro, São Paulo, outras cidades mineiras e até na Bahia. De cada lugar tirou um pouco, que está refletido em sua arte, e também foi ditando como seria sua carreira. “Descobri uma cena artística em Goiânia. Conheci o Siron Franco, um dos meus grandes mestres”, relembra. Ao longo da vida, também se inspirou em Ziraldo, Millôr Fernandes e Roberto Vieira, e pôde trabalhar com os artistas.  Durante sete anos, no entanto, Talarico, como é conhecido por amigos, se afastou do mundo das artes. “Eu acordava muito cedo, morava na Barra, ia pro Centro à noite pra estudar e chegava em casa cansado. Comprava material, mas não dava. Não funcionou pra mim”, relembra. 

Aquilo não era a vida que queria levar, e por isso foi buscando outros caminhos.  “Eu sou muito sincero comigo, na busca desse sonho do ‘flower power’, dos anos 60, o sonho encantado, de viver no meio de uma floresta em uma casinha de sapé. É a minha forma de buscar a minha realização da experiência de ser humano, que está aqui neste planeta”, reflete. Por isso, sempre buscou explorar ao máximo as habilidades que tem, tendo trabalhado em jornais e também junto com uma companhia de teatro, em Mariana, onde pôde trabalhar durante anos com pigmentação natural,  em um processo bastante artesanal e que faz com que a cor seja o mais natural possível. “Pigmento é tudo aquilo que suja as mãos. Aquilo é cor”, explica. Esse processo artesanal gerou algumas exposições em Juiz de Fora, e ele teve peças vendidas para a galeria conhecida hoje pelo nome Galeria Almeida & Dale, que colocava seus quadros inclusive próximos ao de Portinari. Ele se lembra do período e da técnica com gosto: “Há alteração das cores com o tempo. Esses quadros já estão com 30 anos e ainda não teve. Mas me disseram que com uns 100 ainda vai ter. É engraçado isso, né? Eu não vou estar nem mais aqui”, conta.

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Foram muitos caminhos e experimentações até que, nove anos atrás, decidisse se basear de vez em Juiz de Fora, no Florestinha, e se deixasse também afetar pelo ambiente em que estava. Para ele, no entanto, dá pra perceber que não é exatamente o mesmo caminho que a humanidade quis tomar:  “Não consigo largar esse prazer em trabalhar, inventar coisas, colar. Poder brincar. Quero fazer bonequinhos agora. Digo que estou cada vez mais perto de virar um Gepetto, que fez o Pinóquio, e que brinca de inventar coisas. Mas é a contramão da humanidade, que foi pra outro lado, pra esse jeito mais capitalista”. 

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“Não consigo largar esse prazer em trabalhar, inventar coisas, colar. Poder brincar. Quero fazer bonequinhos agora. Digo que estou cada vez mais perto de virar um Gepetto, que fez o Pinóquio, e que brinca de inventar coisas”, admite Talarico (Foto: Arquivo pessoal)

Momento de mudança

O momento em que o trabalho de Talarico está, agora, é de mudança. Mas esse é um processo que se repete ao longo de sua carreira ainda mais considerando que é justamente o que o artista acredita ser necessário: “A gente não é a mesma pessoa a vida inteira, é até desonesto tentar manter uma coisa só. E eu sou prolixo, tudo me interessa. Converso de futebol até física quântica. Se a gente não fizer uma reflexão do que acontece em volta, e poder ser uma figura que reage e comenta isso, fica só um pintor”. Para ele, agora, vem “outro trabalho, outra coisa, outra maneira de dizer”. Durante anos, seu trabalho tinha algo muito figurativo, que veio do cartum e da vontade de fazer humor. Mas em São Paulo, o cenário foi afetando o seu trabalho. “Aquela coisa de helicóptero, metrô, radiopatrulha, ambulância, ônibus. Eu não queria. Eu aqui tem passarinho, pica-pau. Quero a vida mais livre”, diz.

Quando retornou para Juiz de Fora, então, recuperou a tradição dos pintores de campo, e passou a retratar mais a paisagem da cidade ou ainda outras da região. Até que veio a pandemia e seu trabalho novamente se alterou: Aquele momento começou a dar aquela depressão, e eu morava sozinho, isolado. Me questionava o que ia ser da humanidade, quem ia morrer. Foram anos de sofrimento para a humanidade. E aí comecei a ter vontade de desenhar flor, colorido. Queria fazer o contrário daquilo”, conta. Também nesta época, criou um canal no YouTube. Depois de anos afastado da figura humana, no entanto, ele vê o presente como um retorno. “Não dá pra ficar à margem desse mundo em que está acontecendo tanta coisa ruim. Estão acabando com o planeta. Quero voltar pro humor, cutucar, falar sobre essas questões”, explica.

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Projetos futuros por Talarico

Por essa vontade de ir mudando e criando, ao mesmo tempo, Talarico tem vários projetos para o futuro, incluindo um livro de memórias chamado ‘Aventuras de um Meia Pataca’. “Atrás da casa da minha avó tinha um ribeirão chamado Meia Pataca. Meia pataca também é a moeda. E o meio pataca teve um acidente, com uma usina de papel, que jogou um material poluente no rio. E aquilo foi matando até o Atlântico, como o que aconteceu em Brumadinho. Então começo contando sobre esse incidente, sobre a ganância, e vou contando a história da minha vida. Estou escrevendo essas memórias e no meu último suspiro eu coloco um ponto final”, conta. 

Em breve, o artista completará 50 anos de carreira, e para o marco pretende fazer vídeos que registrem o seu processo criativo ao longo dos anos. Além disso, também tem vontade de terminar a construção do ateliê, e deixá-lo para outras pessoas seguirem seus trabalhos. “Eu não tenho filhos, mas pretendo deixar isso e criar o núcleo ‘Ateliê Casa Torta’. Quero colocar uma meninada pra trabalhar e que continuem depois que eu me for, pra estudar e tudo”, conta. Como na pintura, o fim é o mais difícil:  “É muito difícil. Eu, na verdade, acho que não acaba nunca. Procuro assinar pra acabar. Mas sempre tem algo que a gente percebe que podia fazer um pouco melhor”, diz.

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