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Conheça Aline Almeida: artista visual que descobriu abstracionismo ‘através de Deus’

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Aline @offgrafias
Para Aline, a arte abstrata foi o caminho mais profundo para conseguir se expressar e acessar seus próprios sentimentos (Foto: offgrafias)
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Aline Almeida estava trabalhando como TI e fazendo faculdade nessa área. Tinha uma vida que acreditava que era a que queria e pensava se conhecer bem. Podia ter um futuro estável e gostava do que fazia. Até que, aos 18 anos, se converteu e começou a ter “um relacionamento com Deus”. Nesse momento, tudo mudou – e, pela primeira vez em anos, pegou um caderno para desenhar. “Conforme fui conhecendo a Deus, fui me conhecendo de novo. Comecei a pintar no meu momento com Deus e fui desenvolvendo isso. Entendendo que esse era o meu propósito de vida. Não tem como separar a arte e a religião, pra mim”, conta. Aos 26 anos, ela se mudou de São Paulo, onde sempre viveu, para Juiz de Fora, e passou a desenvolver a sua arte abstrata também na cidade mineira. Seu instagram tem mais de 11 mil seguidores, e ela vende suas telas para todo o Brasil.

A sua conversão para a Igreja foi atravessada por um momento delicado. “Eu estava bem, estava trabalhando, mas no meio desse caminho descobri uma doença que não tinha cura. Pra fazer o tratamento, eu ganhava pouco, e comecei a me endividar, porque não queria contar para os meus pais”, relembra. Apesar de ter crescido em um lar cristão evangélico, como conta, não estava frequentando nenhum tipo de culto religioso. No início daquele ano, no entanto, ela tinha feito um concurso para um outro trabalho, e não tinha passado. “Eu recebi uma carta me convocando para esse concurso que tinha feito no início do ano, que me faria ganhar o dobro e me ajudaria muito a continuar o tratamento. Mas eu não tinha passado, não estava entendendo aquilo, meu nome também não estava na lista. Mas a carta estava nas minhas mãos”, conta. Para ela, esse momento reabriu seus olhos para uma conexão que era muito importante. “Eu achava que me conhecia bem demais, até descobrir que aquela não era a verdadeira Aline. A arte foi uma descoberta vinda dessa outra descoberta. Mas foi difícil esse processo de mudar de carreira”, explica.

Por isso, ela continuou durante algum tempo mantendo o emprego no TI e a arte. “Era muito engraçado, porque nos intervalos eu ia comprar tela e chegava no trabalho e na faculdade com aquilo. As pessoas ficavam: ‘Meu Deus, o que você tá fazendo aqui?'”, ri. Quase tudo que Aline aprendeu foi sozinha, mas seu trabalho passa principalmente por muita tentativa e erro, observação de técnicas e fé no processo. Com o tempo, amigos e conhecidos da Igreja foram se interessando pelo seu trabalho, e ela foi aceitando cada vez mais encomendas, até que isso possibilitou que ela se dedicasse somente à arte. Como conta, esse processo não foi fácil: “Acabei saindo do meu trabalho e tive um seguro desemprego, que me ajudou nesse momento. Fiquei seis meses assim. Aí comecei a fazer meu ateliê na sala, dar aula na sala, e as coisas foram acontecendo. Até hoje não sei direito como as pessoas chegaram até mim”.

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Para ela, a arte abstrata foi o caminho mais profundo para conseguir se expressar e acessar seus próprios sentimentos, em uma jornada que não tinha imaginado antes que poderia ser a sua. “Me encontrei. Através das cores e das formas conseguia transmitir o que estava vivendo. O abstrato me permite pôr pra fora tudo aquilo que eu quero naquele momento, sem precisar ficar presa em um traço, uma linha, uma forma. É por isso que me cativou tanto”, explica. Desde que começou, portanto, privilegiou esse tipo de expressão, e não a figurativa. Cita, para explicitar, Kandinsky, que afirma que o abstracionismo é como uma música instrumental, que te toca apenas com o som. Para ela, é algo natural, até instintivo muitas vezes – e que é bonito justamente por acessar algo íntimo também nas pessoas.

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Descobrindo Juiz de Fora e ensinando arte

A partir da sua conexão com a religiosidade, Aline se tornou missionária. Vinda da zona leste de São Paulo, ela ouviu falar de Juiz de Fora por meio da Igreja One, que frequenta, e tem uma unidade na cidade. Veio então a possibilidade de se mudar para Minas, e ela aceitou, trazendo também novos desafios para seu trabalho. “Quando mudei pra cá, no fim de 2020, fiquei um pouco com medo. São Paulo é uma cidade muito artística e meu trabalho estava indo muito bem”, explica. Mas ela se arriscou e continuou, dentro de casa, com o ateliê. Até que a cidade nova também foi se revelando pra ela: “Juiz de Fora está me abrindo portas que São Paulo talvez nunca me abriria. Aqui fiz minha primeira exposição, conheci pessoas maravilhosas”.

Ela se define como uma “paulista raíz”, e pelo próprio momento em que chegou à cidade mineira, durante a pandemia de Covid-19, também sentiu um impacto da mudança. “Amo sair. Quando me mudei pra cá, por todo o contexto, não tinha tanto movimento na cidade, e sentia a necessidade de conhecer lugares quando fosse possível”, conta. Por isso, logo que as medidas de segurança permitiram, começou a procurar lugares como os que gostava em sua cidade, principalmente cafés, que são sua paixão. “Meus amigos que moravam em JF há anos falavam: ‘Meu Deus, como você conheceu esse lugar? Eu nunca tinha visto’. Aí resolvi criar uma página no Instagram”, relembra. Foi assim que nasceu o @descobrindojufas, que revela mais uma camada dela.

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Além disso, Aline também dá aulas de pintura. Foi algo que começou ainda antes da pandemia de Covid-19, e que adaptou para o on-line e, mais tarde, presencialmente com aulas individuais. “Muita gente ficou curiosa quando comecei a postar o que fazia de pintura. Eu achei que podia aproximar mais a arte das pessoas, porque é um campo em que ainda existe muito elitismo e que pode parecer muito distante. Mas acho que se expressar assim pode fazer muito bem para todos”, diz. Por isso, ela também busca aliar o ensino da arte com essa paixão por cantinhos charmosos, e está criando também como novo projeto, uma iniciativa que mistura café com arte, e reúne mais pessoas para se conectarem através dela.

(Foto: Offgrafias)

Imensidão

A arte pode apontar muitos caminhos, como ela mesma mostra. O que mais gosta na vida que escolheu, no entanto, é quando os traços que saem dela mostram algo para outra pessoa de tão íntimo, sem precisar dizer nada. “Já recebi mensagem de uma seguidora que disse que só viu uma foto de um quadro e começou a chorar com o que viu. Teve uma aluna que me disse, recentemente, que se emocionou muito. Não é só uma questão de beleza, existe algo profundo ali, que é possível acessar, e assim tocar outras pessoas”, afirma. Em sua arte, a predominância de tons azuis, dourados e tons terrosos, também passa a ter significados de acordo com as vivências de quem olha. “Alguns clientes também me contam a história deles para eu produzir a tela, acho isso incrível”, conta.

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Para ela, no entanto, é o pigmento azul turquesa que consegue revelar algo sobre todo esse caminho que percorreu. “Eu amo o azul do mar, e quando olho pro mar me lembro sempre da imensidão do amor de Deus, e que eu fui muito diretamente atingida. Sou muito tocada por isso. É algo particular, íntimo, mas que eu consigo expressar”, diz. Ela, que foi curada da doença que teve após afirmar que orou para isso, também quer trazer esperança através daquilo que faz. “O que eu mais quero fazer é trazer uma memória de leveza, beleza e também um toque de fé. Como um lembrete. Tem muito de mim também em cada tela”.

Leia mais a coluna Sem Lenço sem documento aqui.

 

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