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“‘De conversa em conversa’ é sobreviver ao tempo e ao mesmo tempo possuir um frescor”, afirma Daniela Aragão

Foto Daniela Aragao 2
A cantora juiz-forana Daniela Aragão lança “De conversa em conversa”, livro em que reúne crônicas musicais que dão a oportunidade ao leitor de aprender um pouco mais a respeito de Chico Buarque, Adriana Calcanhotto, Caetano, Joyce Moreno e tantos outros nomes do nosso cancioneiro – Foto Acervo Pessoal
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No último sábado, segui o conselho de Joyce Moreno e li Daniela Aragão “e todas as músicas que estão dentro dela.” Foram horas e horas passeando de um texto a outro e, sem dúvida, toda sua escrita literária parece sempre nascer embalada por uma canção. Ela tem alma sonora, como aponta o professor Júlio Diniz, e escreve, de maneira sensível, como se estivesse conversando com o leitor, como é próprio do gênero que ela visita.

“Tenho saudades da época das cassetes, quando um dos meus maiores prazeres era gravá-las para os amigos. No processo de seleção das músicas, treinava instintivamente minha sensibilidade, experimentando contrastes e texturas. Se o lado A começava, por exemplo, com um duo de piano e voz, as músicas seguintes, possivelmente, seguiriam num clima mais intimista, correspondendo à proposta sugerida na canção de abertura”, conta ela em “Am I blue?”.

“De conversa em conversa” (Chiado, 280 páginas) é o primeiro livro dessa cantora e escritora e reúne 62 crônicas musicais. Por meio dele, conhecemos um pouco mais de Adriana Calcanhotto, Joyce, Chico Buarque, Bethânia, Leila Pinheiro, Gal, Elis, Maria Rita, Milton, Gil, Caetano, Marina Lima e tantos outros grandes nomes da MPB. Embora apenas agora esteja sendo enviado para as prateleiras, pode-se afirmar que é gestado desde 2005, quando Daniela começou a escrever crônicas para o Jornal de Cataguases. “Fui tomando gosto pelo ofício e, ao longo dos anos, ganhando autores e interlocutores”, diz, ressaltando que resolveu reunir os textos em um livro depois que recebeu pedidos de amigos para que fizesse um compêndio do que já havia sido publicado.

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Uma live oficial de lançamento está sendo planejada, com participação do cantor e pesquisador Alcides Sodré e de Rodrigo Nogueira, do Som da Agulha. Por ora, o livro está à venda na Amazon e por meio das redes sociais da autora. Não posso deixar de relatar que o mestre Roberto Menescal, ao ler os originais da obra, confessou ter aprendido mais a respeito dos artistas com quem ele trabalhou. Daniela mostra o lado humano de cada um deles, observa o músico.

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Natural de Juiz de Fora, Daniela é formada em letras pela UFJF. Dedica-se a pesquisas sobre cantores e compositores da música popular brasileira. Cacaso foi tema de sua dissertação de mestrado. No doutorado, debruçou-se sobre a performance de Adriana Calcanhotto. Já, no pós-doutorado, mergulhou nos estudos a respeito de Clementina de Jesus. O primeiro CD, intitulado “Daniela Aragão face a Sueli Costa Face a Cacaso”, foi gravado em 2005. Além disso, desde 2020, comanda, no YouTube, o programa “Afinando a prosa”, por onde já passaram Joyce Moreno, Leila Pinheiro e inúmeros outros nomes da nossa música popular brasileira.

– Daniela, sua relação com a música e com os livros nasce ao mesmo tempo? Como começou sua história com as palavras?

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A música é a primeira manifestação artística que desponta em minha vida. Recordo-me de que, quando eu tinha quatro anos de idade, costumava cantar “Romaria”, de Renato Teixeira, e os vizinhos batiam à porta de minha casa para ouvir. Minha casa era cercada de muitos livros, e eu era encantada pela coleção de Mary França e Eliardo França. “A bota do bode” foi um que me acompanhou no período de pré-alfabetização, depois, mais adiante, o encantamento pela poesia de Cecília Meireles em “Ou isto ou aquilo”.

– Você cresceu em um ambiente repleto de estímulos artísticos. E isso, certamente, faz de você a artista que você é e influencia a sua criação. Você também passou pela academia. Fez Letras, mestrado em Letras e doutorado em literatura, sempre se dedicando a pesquisas que envolvem cantores e compositores da música popular brasileira. A passagem pela academia mudou o seu fazer literário e musical?

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Eu tive algumas fases. Quando cheguei à academia, fiquei muito seduzida pelo estudo da literatura, mergulhei em Antonio Candido, Ezra Pound e passei a ler poetas que eram para mim desconhecidos como Drummond, Oswald e Mário de Andrade. Cheguei à universidade muito determinada a pesquisar música popular brasileira, porém, no percurso, fui vendo que ali na UFJF eu teria que traçar o meu caminho. No doutorado na UFRJ fiz disciplinas que perseguiam um caminho canônico, mas tive a autonomia para vasculhar a obra de Cacaso e até tive acesso aos seus diários. Até a dissertação, eu possuía uma escrita única, ou seja, de dicção acadêmica. A partir do momento em que ganhei uma coluna no Jornal de Cataguases em 2005, comecei a desenvolver meu próprio estilo. Da coluna inaugural ao lado de nomes como Ronaldo Werneck, Lina Tâmega, Francisco Marcelo Cabral e François Fusco, migrei para outros jornais, como AcheiUSA e O Dia ( Teresina). Minha escrita da tese de doutorado, “Voz e performance em Adriana Calcanhotto”, já mostra um processo de liberdade, minha marca autoral começa a fluir.

– Lendo alguns de seus textos, como o “Blue skies”, em que você revela ter “saudade viva de Marina Lima”, tenho a impressão de que suas crônicas nascem no exato momento em que você houve um disco. É assim mesmo? Sua escrita literária é sempre embalada pela música?

Eu costumo ouvir o disco até exaurir e fazer um processo de apropriação. Ele se torna meu, e a gravação fica tão forte dentro de mim que traz de fato essa luminosidade de vida. Interessante é que depois que escrevo me vem um alívio e a música descansa até se esvair.

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– “Estou para escrever sobre Caetano faz tempo, mas o texto teimava em não sair: Os ícones costumam me assustar”, confessa você em “Caetano, sempre ele”. Diante dessa sua confissão, fiquei pensando no que faz uma pessoa que faz da escrita seu ofício quando as palavras não vêm?

É a velha luta com o deserto da página em branco. É insistir sem a necessidade agora de jogar bolas e mais bolas de papel na sexta de lixo. Ou simplesmente deixar o texto levar um chá de gaveta para que, quem sabe, num outro momento, ele ganhe certo vigor, outrora não reconhecido.

– Em geral, a crônica é feita para a circunstância. Às vezes, um texto toca o leitor naquele dia em que foi escrito, mas não sobrevive à leitura meses depois. Ao selecionar as crônicas para este livro, era uma preocupação sua escolher aquelas cujo interesse resistisse à passagem do tempo?

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Presumo que o grande trunfo do “De conversa em conversa” é sobreviver ao tempo e ao mesmo tempo possuir um frescor

 – O grande Roberto Menescal ficou impressionado ao perceber que, ao ler os originais do seu livro, descobriu muito mais a respeito dos artistas com quem ele trabalhou. Você mostra o lado humano de cada um deles, observa o músico. Ele também ficou impressionado com sua erudição. O que sente uma artista que está prestes a lançar um livro reunindo crônicas musicais com um elogio feito por um dos maiores músicos brasileiros?

Menescal é um mestre maior, referência para mim e para inúmeros de tantas gerações. Eu me acabei de chorar quando vi. Não podia ter outra reação.

Você entrevista, no seu programa, grandes nomes do nosso cancioneiro, como Joyce Moreno e Leila Pinheiro. Durante esse tempo, o que mais aprendeu de conversa em conversa com esses monstros da nossa música?

Essa turma que venho entrevistando no programa “Afinando a prosa” é de fato cursar uma pós-graduação. Não posso deixar de citar meu parceiro de trabalho Leandro Ramalho, que é responsável por toda a concepção de arte. O que mais aprendi é que as pessoas são humanas, com sua dores, sonhos e alegrias. Principalmente na pandemia isso ficou explícito.

“De conversa em conversa: Crônicas musicais”

Autora: Daniela Aragão

Editora: Chiado (280 páginas)

Onde adquirir o livro: Na Amazon. Também é possível encomendá-lo por meio das redes sociais da autora.

 

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