O lançamento do romance “Rosa Egipcíaca, Afeto de Deus”, da professora Bárbara Simões, promete ser um evento significativo, especialmente considerando o contexto histórico e cultural que a obra aborda.
A autora, que é professora da Faculdade de Letras da UFJF, mergulha na complexidade da história brasileira, destacando aspectos muitas vezes negligenciados ou esquecidos, como a brutalidade da escravidão em Minas Gerais e o genocídio dos indígenas pelos tropeiros. Além disso, Bárbara explora o papel das mulheres e das instituições coloniais que influenciaram profundamente o pensamento nacional. “Meu livro não é um livro de história. É uma ficção. Acho que o leitor pode esperar uma versão da nossa história, incrivelmente íntima de todos nós”, destaca Bárbara.
A obra, embora ficcional, dá vida a personagens históricos como Rosa Egipcíaca, cuja trajetória Bárbara encontrou desafiadora, mas profundamente reveladora. A colaboração com o professor Luiz Mott, um especialista na vida de Rosa, enriqueceu o projeto, proporcionando uma visão única sobre as complexidades e ambivalências da escravidão no país. “Estabelecemos uma troca de mensagens muito boa. Acho que foi muito interessante para ele, ver sua biografada Rosa, transformada em personagem literária. E junto com todas as testemunhas do processo de inquisição, ganhar vida no romance. Acho que estudar a história de Rosa me ajudou a compreender o quanto a escravidão no Brasil foi cruel e, ao mesmo tempo, repleta de ambiguidades e complexidades. Nosso país é muito complexo. E Rosa é parte dessa história violenta, mas também fascinante.”
O lançamento será nesta quinta-feira (29), às 19h, na Autoria Casa de Cultura, no Granbery, oferecendo uma oportunidade para o público conhecer uma versão do Brasil que, nas palavras da autora, muitos preferem ignorar. A entrada é aberta para todos os públicos.
Rosa Egipcíaca: “A maior santa do céu”
Rosa Egipcíaca é uma figura histórica, cuja vida oferece um retrato das realidades da escravidão, da religiosidade e da resistência no Brasil colonial. Nascida em 1719 na Costa de Uidá, na atual Benin, Rosa foi vendida como escrava ainda criança e trazida ao Rio de Janeiro, onde enfrentou os horrores do cativeiro, incluindo abusos e violência sexual.
Aos 14 anos, foi enviada para Minas Gerais, onde viveu em um ambiente ainda mais opressivo. Após 15 anos de prostituição, Rosa começa a manifestar fenômenos interpretados como possessões demoníacas, levando-a a sofrer múltiplos exorcismos. No entanto, essas experiências a conduzem a uma conversão ao catolicismo, marcada por intensas experiências místicas.
Rosa Egipcíaca acabou atraindo a atenção da Inquisição católica, sendo presa por suas atividades religiosas. Apesar das adversidades, foi reverenciada por alguns como “a maior santa do céu”, refletindo a complexidade das crenças e das resistências culturais da época. Sua vida foi tema do enredo da escola de samba Unidos do Viradouro, vice-campeã do Carnaval carioca de 2023.
Mesa-redonda
Também nesta quinta (29), a mesa-redonda “Rosa Egipcíaca, Afeto de Deus: uma santa africana no Brasil” será realizada no Anfiteatro 2 do Instituto de Ciências Humanas (ICH) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O evento vai contar com a presença do professor aposentado de Antropologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Luiz Mott, e da professora Bárbara Simões. A conferência começa às 14h e é promovida pelos programas de pós-graduação em Ciência da Religião, Estudos Literários e História. O evento é aberto para toda a comunidade e não é necessária inscrição prévia para participar.
Luiz Mott é autor da biografia “Rosa Egipcíaca: uma santa africana no Brasil” e também uma das referências do movimento nacional pelos direitos LGBT, além de fundador do Grupo Gay da Bahia (GGB). Mott é, ainda, autor de outros 19 livros e mais de 150 artigos em revistas científicas sobre inquisição, escravismo, homossexualidade e direitos humanos.
Leia também: Magda Trece: ‘A literatura, antes de qualquer função, precisa encantar’