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Teatrando lança segundo livro da trilogia que traz processo de montagem de espetáculos da companhia

Foto Adryana Ryal Tribuna1
Adryana Ryal lança “Cia. Teatrando tecendo histórias no teatro – Entre memórias, ilusões e fábulas”, no próximo dia 29, na programação do Inverno Cultural de São João del-Rei – Foto Divulgação
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Oito meses depois do lançamento do primeiro livro da trilogia “Cia. Teatrando  tecendo histórias no teatro”, a trupe comandada por Adryana Ryal entrega aos leitores o segundo volume da publicação. “Entre memórias, ilusões e fábulas” será lançado no próximo dia 29 de julho, no Inverno Cultural de São João del-Rei. Aqui na cidade, será apresentado ao público dia 8 de agosto, às 20h, na Casa de Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Assim como na obra, o novo livro traz apresentação e processo de criação e produção de três montagens da companhia. Desta vez, os trabalhos contemplados são “O casulo das memórias resignadas”, “O retiro das ilusões” e “Ratinho Tatá: em histórias de bonecas.” Os três textos são acompanhados por rubricas e fotos. A intenção é que o leitor interaja com a Teatrando e se inspire nos trabalhos apresentados.

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“A gente apoia todo tipo de espectador e incentiva o espectador coautor, para que ele tenha liberdade de interpretar a obra. Isso aconteceu até mesmo com “As sementes de aço”, que está em processo de apresentação. Fizemos algumas leituras do texto e, depois de assistirem ao espetáculo, algumas pessoas comentaram que a experiência foi surpreendente, porque leram de uma maneira e, depois, tiveram outra leitura inimaginável. Duas companhias de teatro que não são de juiz de fora pediram para utilizar uma obra nossa a partir da leitura do ‘Cia. Teatrando tecendo histórias no teatro – 3 vezes drama’. Estou curiosíssima para ver como eles vão montar a peça, para ver qual a visão eles tiveram dela. Uma deles é ‘Obsessão, amor e dor’. O outro grupo pediu para fazer ‘As sementes de aço’, mas não o espetáculo inteiro. Querem fazer como fragmento de cena. O ‘Sementes’, hoje, é interpretado por mulheres, e o pedido é para ser feito por dois homens”, conta a diretora, ansiosa com o que vem por aí.

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“Vamos fazer outra tiragem do livro, que vai chegar com o lançamento do segundo, porque a primeira foi toda vendida. A partir de 20 de agosto, ele vai ser inserido no Estante Virtual, no site das Lojas Americanas, enfim, no circuito nacional de vendas.” Quem passar pelo lançamento em Juiz de Fora, vai poder conferir uma leitura dramática de parte dos textos “O retiro das ilusões” e “O casulo das memórias resignadas”. Este último espetáculo vai ser apresentado nos dias 9 e 10 de agosto, a partir das 20h, também na Casa de Cultura da UFJF, dentro da programação da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança.

Como a Teatrando não para, já está sendo planejada a segunda Mostra INventaINCena. As inscrições estarão abertas no final de agosto, e o evento será realizado na segunda quinzena de novembro. Neste ano, além de as cenas curtas serem competitivas, outra novidade é que vai haver mostra de espetáculos teatrais. E o que dizer do terceiro e último livro da trilogia? Será todo voltado para montagens infantis. Agora é só aguardar.

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Marisa Loures – Neste segundo livro, você traz os espetáculos “O casulo das memórias resignadas”, “O retiro das ilusões” e “Ratinho Tatá em: histórias de bonecas.” O que traz cada uma dessas histórias?

Adryana Ryal – “O retiro das ilusões” é fortíssimo. A gente faz umas referências às grandes guerras já instaladas no mundo. Cita Hiroshima e Nagasaki, essas conturbações, matanças, grandes bombas nucleares construídas pelo homem, e a gente faz uma metáfora para falar sobre elas. A metáfora é esse “Retiro das ilusões”. Trata-se de uma família que é presa dentro desse lugar chamado de Ilusão, e eles têm esperança de sair de lá. Quando eles encontram esse campo de concentração, eles se deparam com figuras que já estavam presas lá dentro, e cada uma dessas figuras tem uma história que é revelada. É um espetáculo que nos faz refletir sobre qual lugar é melhor para você e nos mostra que existem pessoas em condições infinitamente piores do que as nossas. “O casulo das memórias resignadas” foi construído a partir de uma pesquisa feita em cima de questões ligadas ao sentimento da vaidade. Uma das frases da peça diz assim: “Quem vai saber do seu caráter apenas olhando pela sua roupa ou pela maneira como você se comporta? Nós somos avaliados por aquilo que nós mostramos ser e não pelo que nós somos.” Conta a história da Virgínia D’Avignon, uma mulher que tem uma vida conturbada pelas memórias que estão resignadas. Ela não gosta das memórias, mas também não consegue se livrar delas. Essa mulher tem uma luta pessoal. Quer ter mais do que ser, adora ter dinheiro e poder, mas não gosta de lembrar quem ela foi, quem ela é. É perturbada pelo passado que bate à porta. É um espetáculo que significa muito para mim, pois trata a questão do respeito em relação à convivência entre o eu que você quer ser e o eu que você quer mostrar. É uma grande provocação, te leva a refletir sobre quem você é no mundo atual. Já o Ratinho Tatá é um amigo fiel. Usa óculos, é gago, aquele diferente que as pessoas ficam olhando na escola. Ele se sente isolado durante muito tempo. É uma figura singela, gentil e encontra apoio nas amigas que estão adormecidas. Ele conversa sozinho com bonecas que foram abandonadas no sótão e que não têm vida, até o dia em que ele recebe a visita de uma fada que se torna muito amiga dele e dá vida a essas bonecas.  O terceiro livro vai ser voltado só para crianças, mas a gente quis mostrar nesse uma mescla de memórias, ilusões e de fábulas, porque são três componentes indispensáveis para o teatro.

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Adryana Ryal e Ana Paula Ozório, em “O casulo das memórias resignadas” – Foto divulgação

– Dos três espetáculos, somente “Ratinho Tatá” é voltado para o público infantil. Quais são os desafios de se trabalhar para esse público, principalmente, em Juiz de Fora?

– A maior dificuldade, atualmente, é a questão de a criança ter tudo à disposição a partir de um celular. Trazer a criança para um mundo lúdico de uma contação de histórias ou de um universo onde um ratinho usa óculos, é gago e vive dentro de uma casa que foi abandonada, é uma tarefa árdua. A resistência do mundo lúdico vem com os youtubers, com essa mídia esmagadora que, infelizmente, não é funcional. Não sou a favor porque tem muita coisa desnecessária na internet. A criança tinha que ficar um tempo um pouco maior curtindo a infância dela, sabendo quem ela é, mas, hoje em dia, ela descobre quem ela é e cria quem ela é a partir de informações da internet. O vocabulário, a gíria e os gestos dela são todos da internet. É mais fácil uma criança querer ver um vídeo do Frozen humanizado, e tem muito dessas meninas que se vestem de personagens na internet, do que ir ao teatro. O grande x da questão é o incentivo dos pais. A gente precisa que eles retornem com os filhos para o teatro, e a gente precisa que os produtores e diretores tenham consciência de fazer espetáculos voltados para o mundo dos pequenos, que resgatem a criança e mostre para ela que ela pode ser criança por um tempo um pouco maior.

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– “O retiro das ilusões” surge a partir do roteiro interativo de cinco pessoas. Além de você, tem Tiê Fontoura, Lucas Nunes, Indiara Silva e HigorZoffoli. Como foi essa experiência de criação em grupo?

– É um texto que foi para a gente uma descoberta, porque surgiu da seguinte maneira: estávamos fazendo uma matéria em comum sobre roteiro de criação interativa, e cada um tinha que produzir um texto. Cada um dos cinco textos tinha que ter como pano de fundo uma figura que fosse da sua memória, e uma história que tivesse a ver com uma guerra. Eu trouxe a imagem de uma mulher, que é a minha mãe. Ela nasceu na década de 1950, teve uma criação bastante difícil. Trouxe todas as dores pelas quais ela passou ao longo da vida. A Indiara traz a figura de um ser mais novo; o Lucas traz o filho, e o Higor, uma figura que tem problemas de conturbação quase esquizofrênicos.  É um texto que tem fatos reais das grandes guerras, das personagens e fatos reais da nossa vida pessoal. A grande costura é muito delicada e foi feita pelo Tiê Fontoura. Ele traz uma carga de sufocamento, de prisão muito intensa. Quando o Tiê fez essa costura, ele disse que  via uma família presa num lugar, oprimida por um carrasco, e esse carrasco, criado por ele, faz a amarra do texto. A frase que move a gente é a fala de uma criança. A gente ouviu muito isso nas pesquisas: “Mãe, eu não quero morrer aqui”. E muitas crianças e jovens morrem nesses lugares, muitas mulheres foram estupradas dentro desses campos. É um texto que ainda não foi montado em Juiz de Fora. Temos vontade de trazê-lo para cá. Ele teve muito sucesso fora daqui.

– “Ratinho Tatá” é de 2010. Como manter um espetáculo em repertório e fazê-lo ter fôlego por anos?

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– O “Ratinho Tatá” é um dos espetáculos infantis mais premiados que já tive, e em todas as categorias. Rodamos mais de dez cidades com ele por mais de três anos, fizemos apresentações em locais que foram impagáveis, como em um orfanato onde as crianças nunca tiveram contato com o teatro. Levamos para cidades em que as pessoas não conheciam teatro, como Senhora de Oliveira, aqui em Minas, e para vários festivais. O cenário é um pouco maior, o figurino é mais delicado, então, transportá-lo para grandes distâncias, é mais difícil. Acho que a grande sacada de manter um trabalho rodando por três anos ou mais é você não fechar o espetáculo, estar sempre aberto para ele crescer, moldar-se, adaptar-se ao tempo e ao espaço, sem fechar a essência, e ter atores com disposição para fazer com que isso aconteça.

– Sua companhia está em quase todos os festivais de teatro aqui de Minas Gerais. Você, quase sempre, faz parte do corpo de jurados. De que maneira esses eventos têm contribuído para o crescimento da Teatrando e para o seu crescimento enquanto atriz, produtora e diretora?

– São três os estados que percorro com frequência durante anos: Minas, Rio e, nos últimos quatro ou cinco anos, tenho participado do circuito de Curitiba. De todos que são possíveis em Minas, nós vamos ao longo desses dez anos de companhia. A maior recompensa desses festivais não é a premiação, porque a companhia é muito premiada, não posso nem reclamar. Ela tem mais de 70 prêmios ganhados em dez anos, e a gente participa, também, de muita mostra, que não é competitiva. Meu intuito, ao ir para esses eventos, não é ganhar troféu, é poder trocar. Essa arte do encontro oferece um compartilhamento de cultura e de especificidades de cada grupo que é muito maior do que quatro anos de faculdade, digamos assim. Este ano já assisti a cerca de cem espetáculos teatrais, participei do júri três vezes, e cada festival traz, em média, de 20 a 25 peças, assisti aos espetáculos de Juiz de Fora e do Rio. A companhia participou, este ano, de cerca de cinco festivais de teatro. Sempre que vou a esses eventos, tenho a oportunidade de ver o trabalho de outra pessoa, de outra região, ver outra linguagem, outro pensamento, e isso traz experiência e vivência. Frequento o corpo de júri de vários festivais de Minas há quatro anos, e acho que é uma responsabilidade muito grande você sentar numa cadeira e receber um crachá de júri. É até constrangedor falar sobre isso, porque você observar com olhos cuidadosos o espetáculo de um amigo, o espetáculo de uma categoria específica e poder contribuir de alguma forma para que esse artista saiba o que é que está sendo visto e entendido da peça dele, é uma posição muito delicada. Não é uma posição para achismos nem para gosto pessoal, é uma posição de respeito, de conhecimento e de compartilhamento, principalmente, de possibilidades.

Cena de “Ratinho Tatá em: histórias de bonecas” – Foto divulgação

– Muito se fala sobre a falta de espaço para os artistas de Juiz de Fora se apresentarem, e , certamente, a Teatrando já passou por isso. Juiz de Fora, finalmente, viu a abertura do Teatro Paschoal Carlos Magno, aguardado com ansiedade para ajudar a dar fim a esse problema. O espaço atendeu aos anseios da classe artística?

– Em Juiz de Fora, o grande xodó da Teatrando era o Centro Cultural Bernado Mascarenhas. Lá é onde tudo começou. Infelizmente, tivemos a casa fechada por questões de segurança para o púbico e para os artistas. Aí, realmente, Juiz de Fora ficou com défict de locais para apresentação. O Pró-Música, também, teve que ser evitado até ter uma boa reforma, e a gente sabe que isso leva tempo. O Central é belíssimo, mas é um teatro para mais de mil pessoas e com o aluguel extremamente caro. E a gente conta com espaços alternativos que foram sendo abertos por amigos, como OAndarDeBaixo, o Compartilha, o Tenetehara Instituto Cultural, a nova sede da Estação Palco e a Sala de Giz, que agora tem espaço de encenação. Não podemos deixar de citar a Casa de Cultura da UFJF. São lugares que foram ganhando vida, mas são locais que comportam, no máximo, de 70 a cem pessoas. De teatro que comporta 300 pessoas, ficamos contando apenas com o Solar que, infelizmente, tem uma agenda disputada o ano todo. O Phascoal também é um local que surgiu, com 400 lugares, esperado há três décadas pelos artistas e vai atingir grande parte dos produtores de Juiz de Fora. A grande diferença é o tipo de espetáculo que é feito para cada lugar. Então, os espaços alternativos vão continuar atendendo a uma grande gama de linguagem teatral de Juiz de Fora, e o Paschoal vai atingir outra gama.

Lançamentos de “Cia. Teatrando tecendo histórias no teatro – Entre memórias, ilusões e fábulas”

29 de julho – Inverno Cultural de São João Del-Rei

8 de agosto, às 20h,  na Casa de Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora (Av. Barão do Rio Branco 3.396).

 

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