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Um livro de bruxas, vampiros e assombrações

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Presidente da LeiaJF, Artur Laizo organiza “Halloween – um conto fantástico”, livro em que 15 autores criaram histórias aterrorizantes – Foto Divulgação
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No último sábado, foi o lançamento de “Halloween – um conto fantástico” (Paratexto, 136 páginas). A antologia assombrada conta com 15 autores, sendo 12 aqui da cidade, além de representantes do Rio de Janeiro, São João Nepomuceno e Belo Horizonte, selecionados por meio de um concurso literário. Anna Schwartz, Arlindo Tadeu Hagen, Artur Laizo, Bárbara Pippa, Carlos Erreoliveira, Daniel Medina, João Peçanha, J.R.Amorim, Júlia do Passo Ramalho, Marisa Timponi, Michelle Valle, Ramon Brandão, Rosângela Rossi, Valéria Magalhães e Vanda Maria Ferreira compõem o time que recebeu o desafio da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora – LeiaJF de aguçar a imaginação do leitor com um conto de terror.

Cada contista tem um personagem do mal preferido e o levou para a narrativa. Vampiros, bruxas, loura do banheiro e assombrações de todas as espécies povoam a obra, organizada por Artur Laizo. Médico e escritor, Laizo resolveu retornar com Frederich Augspartem, a criatura das trevas, personagem da trilogia “A mansão do Rio vermelho”, de sua autoria. Mais uma vez, o ser maligno envolve-se em uma contenda com uma bruxa aterrorizante.

“Juiz de Fora, há muito, vem provando que tem muitos bons artistas em todas as áreas. A literatura da cidade é fortíssima e temos autores conhecidos mundialmente. O terror atrai até quem diz que não gosta e tem medo. Exemplo claro da atração pelo terror é a leva de filmes atuais que arrastam o público para o cinema para ver trabalhos desse gênero”, comenta Laizo, também presidente da Leia JF. Ele é o convidado do Sala de Leitura de hoje, mas, antes de seguir para a entrevista, preciso contar que “Halloween – um conto fantástico” me fez descobrir que Juiz de Fora tem até bruxas que bailam “por entre as folhas douradas do parque Halfeld”.

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Marisa Loures – Quais são os ingredientes necessários para se escrever uma narrativa de terror que, realmente, crie uma atmosfera de medo e agrade o leitor?

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Artur Laizo – Escrever é um dom, mas também é treino, estudo e, principalmente, observação. Através dos livros que lemos, temos a capacidade de dar a uma frase o efeito necessário para que o leitor tenha o prazer de ter medo, de levar um susto. Você sabe que vai acontecer alguma coisa ruim, mas ela deve ser descrita para te levar ao arrepio, ao impacto daquela cena. Há um misto de descrição e ao mesmo tempo ocultação dos dados que somente serão mostrados na hora correta.

– Como organizador dessa antologia de contos, teve contato com textos de diversos autores e estudou o cenário atual da literatura de terror no Brasil. Como vê o mercado atual desse gênero em nosso país? Temos quantidade e qualidade?

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Eu tenho contato com muitos autores do país inteiro através dessa participação em antologias e divulgação dos meus livros em âmbito nacional. Há grandes escritores brasileiros que precisam atingir o leitor porque escrevem muito bem. Não atingiram ainda porque a divulgação da literatura no Brasil é difícil. A literatura fantástica é muito promissora e tem um mercado enorme. Temos muitos escritores brasileiros de altíssima qualidade que ainda não despontaram na mídia. Aqueles que eu posso, eu divulgo sempre todos eles, seja através da minha rede social ou através de resenhas no meu Blog.

– No seu conto, vemos o retorno de um personagem de uma trilogia sua iniciada em  – “A mansão do Rio Vermelho” . Por que trazer o vampiro Frederich Augspartem de volta?

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Ainda estou envolvido com o Frederich Augspartem e talvez esteja para o resto da minha vida. Estou precisando lançar o terceiro volume da trilogia onde há uma grande batalha envolvendo vampiros, bruxas, lobisomens e até zumbis, e o Frederich é o centro da história. Outros vampiros aparecem, inclusive “O vampiro Douglas” – nome de um próximo livro – que mora debaixo do Parque Halfeld e vive em Juiz de Fora desde 1850, quando a cidade recebeu o nome atual e a condição de cidade.

Vestidos a caráter, os autores lançaram “Halloween – um conto fantástico” – Foto Divulgação

– Você é médico e se especializou em cirurgia gastroenterológica. Como começou sua história com as palavras?

Comecei a escrever aos 10 anos de idade. Nessa época, datilografei uma história, coloquei uma capa de papelão com um desenho meu e disse a todos que era o meu primeiro livro. Na verdade, o meu primeiro livro foi escrito quando eu tinha treze anos, “Lembranças do Oriente”, que eu só publiquei em 2003. Sempre escrevi e guardei. Em 1997, resolvi publicar um livro de poesias, “Coisas da Noite”; em 1998, um livro de crônicas, “Maloca Querida”; em 1999, publiquei “É difícil morrer”; e, em 2011, “A festa derradeira”. Mas, somente a partir de 2015, resolvi dar um empurrão na minha carreira de escritor quando lancei “A mansão do Rio Vermelho” em 2016, “A Mansão do Rio Vermelho 2 – um vampiro nos trópicos”, e participei de dez antologias diferentes entre contos de terror, poesias, crônicas. Aguardando para publicar muito mais coisas.

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– De alguma forma a medicina te inspira na literatura?

No meu livro de crônicas e no meu blog, há algumas crônicas inspiradas no cotidiano da medicina, mas nunca nada real. A vida nos inspira o tempo todo e muitos médicos acabam por publicar casos engraçados. Meu livro “É difícil morrer” nasceu de uma inspiração que tive dentro do CTI: um morador de rua que foi atropelado e chegou mal ao setor. Imaginei que ele seria tratado, curado, ficaria com sequelas provocadas pelo acidente, mas teria alta hospitalar. Iria para onde? Dessa inspiração momentânea, surgiu o livro onde eu traço a vida de um personagem, José Maurício, morador de rua e o médico que cuida dele. Personagens fictícios, história totalmente fictícia, inspirada em uma situação real.

– Já vi autores de livros de terror dizendo que acreditam nas histórias fantasiosas que criam e que, de certa maneira, elas realmente existiram em algum tempo ou lugar. Qual a sua relação com as histórias que escreve? Acredita nas situações que cria?

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Primeiramente, muitos amigos e até mesmo escritores amigos costumam me chamar de “vampirão” ou só de “vampiro”. É engraçado, mas o personagem acaba andando junto com a gente. Douglas é um vampiro mais meu amigo que o Frederich Augspartem. Eu já atropelei o Douglas na garagem de casa, saindo de ré – vampiros não refletem no espelho. Augspartem é mais longe, é mais na dele, e eu o respeito muito. Com ele, o trem anda nos trilhos. Talvez até porque o Douglas more em Juiz de Fora, é mais meu companheiro do dia a dia. E, no livro, vocês vão ver, não só existem vampiros em Juiz de Fora como bruxas, lobisomens e qualquer coisa que a nossa imaginação puder criar.

“Halloween – um conto fantástico”

Autores: Anna Schwartz, Arlindo Tadeu Hagen, Artur Laizo, Bárbara Pippa, Carlos Erreoliveira, Daniel Medina, João Peçanha, J.R.Amorim, Júlia do Passo Ramalho, Marisa Timponi, Michelle Valle, Ramon Brandão, Rosângela Rossi, Valéria Magalhães e Vanda Maria Ferreira.

Editora: Paratexto, 136 páginas.

 

 

Trecho do conto “O batizado”

Por Artur Laizo

“A mansão dos Magalhães se encheu de gente naquela noite festiva. Era a festa de apresentação do primeiro neto do magnata e futuro herdeiro da riqueza da família. O anfitrião não cabia em si de contente. Enfim, Roberto Magalhães, seu único filho, lhe dera um neto. E a sua riqueza, construída, paulatinamente, e, muitas vezes, por meios não lícitos, teria com quem ficar. Seu filho já administrava um quarto dos negócios da família, e, em breve, tudo passaria para seu nome. Alberto Magalhães tinha feito até planos de viajar por dois meses com a esposa pela Europa. Mas, para ausentar-se tanto tempo, precisava ter a certeza que Roberto daria conta da empreitada. 

Muitos amigos, poucos parentes estavam presentes no enorme salão de festas da mansão. Mandaram chamar o padre Gonçalves. Claro que o religioso recebia um soldo muito bom para suas obras e passava o dia na mansão onde sempre comia muito bem. Nessa noite estava muito bem, via os convidados e sentia-se um pouco dono da fazenda.

A família estava feliz com os amigos reunidos e pediram ao padre que desse uma bênção ao pequeno Giuliano. Enquanto o padre rezava e pedia a Deus pela casa e, principalmente, pelo bebê, não perceberam que no último banco estava sentada a irmã de Alberto, tia-avó do infante centro de todas as atenções. Os olhos sombrios da velha demonstravam antes de tudo ódio e muita raiva por tudo que estava acontecendo. Ela não fazia parte daquela festa e daquela alegria toda. Estava sozinha no último banco da igreja.”

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