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Vampiros à brasileira

Catia Mourão site
À frente da Ler Editorial, a escritora Catia Mourão participa de mostra internacional com texto do livro “Contos e poemas góticos de Carlie Marie” – Foto Divulgação
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A carioca Catia Mourão lança “Elos do destino” em 1997. A obra marca sua estreia no mercado editorial brasileiro, mas, somente, em 2013, com a publicação do primeiro volume da saga “Mais além da escuridão”, é que ela deslancha como escritora. A série cativa os apaixonados pelo universo fantástico dos vampiros, e a autora, hoje proprietária da Ler Editorial e membro do Núcleo Acadêmico de Letras e Artes de Buenos Aires e do Núcleo Acadêmico de Letras e Artes de Lisboa, passa a ver leitores fazendo juras de amor para suas criaturas.

O mais interessante nisso tudo é que as personagens fazem tanto sucesso que uma, em especial, não se limita à saga e tem um livro só para ela, chamado “Contos e poemas góticos de Carlie Marie”, publicação de onde saiu texto selecionado para a exposição itinerante internacional Sorrisos e Ares, que fica em cartaz até janeiro de 2018. Na obra, podemos mergulhar nos escritos que vão desde poesias góticas a contos de suspenses e terror escritos pela própria protagonista. Catia dá à jovem vampira o papel de autora.

“Acho que o poema foi selecionado para a exposição, justamente, por conta deste diferencial do trabalho: de você ter um poema que, apesar de ter sido escrito, teoricamente, por uma personagem de uma história, é muito real. Ele conversa com o leitor e emociona. É muito diferente você ler um livro inteiro escrito com textos que seriam não do autor, mas da personagem. Essa é uma proposta bem original e, talvez, tenha sido o motivo de despertar o interesse da exposição. Estou muito feliz por poder representar os artistas brasileiros no exterior, mostrar um pouco do nosso trabalho, principalmente, numa exposição como esta, que integra vários tipos de arte. Não só a literatura, mas fotografias, pinturas e esculturas”, comemora a escritora, atualmente envolvida no projeto de “A sociedade secreta”, série de novelas eróticas publicadas no formato e-book. Em 2018, o livro físico reunindo as quatro histórias ganhará as prateleiras de todo o país.

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A mostra “Sorrisos e ares” é organizada pela Literarte – Associação Internacional de Escritores e Artistas, com a promessa de ir muito além do tradicional, promovendo uma revolução na sociedade e na crítica. Antes de voltar para o Brasil, ela já percorreu Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile.

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Marisa Loures – Como é a Carlie Marie?

Catia Mourão – A Carlie é uma vampira jovem. Na história, ela acabou de completar o primeiro século de vida. Ela sempre viveu como se estivesse numa redoma. Tem um mentor, um vampiro mais velho que sempre ficou responsável por tudo na vida dela. Numa viagem que ele faz pela Europa, ela fica aqui sozinha e acaba se envolvendo com um anjo caído. Só que na história, no nosso universo fantástico, essas são raças rivais: os vampiros e os anjos caídos. Quando o mentor dela retorna e descobre o envolvimento dela com esse anjo, ele cria uma tremenda confusão por conta desse romance.

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– Depois da série “Mais além da escuridão”, nasceu o livro “Contos e poemas góticos de Carlie Marie”, em que os textos são escritos pela própria vampira. Como foi essa experiência para você?

– A ideia é dar voz à personagem. O livro é todo narrado como se ela escrevesse os textos. Os contos são de terror, sempre com essa temática vampira. Tem poemas até de romance, mas sempre relacionados com experiências de vida que ela, como vampira, teria. É bem interessante, é um trabalho bem diferente. Foi muito bacana escrevê-lo, porque pude ter a liberdade de deixar a Catia autora um pouquinho de lado e me inspirar completamente na personagem.

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– A paixão pelo universo dos vampiros a levou, de forma natural, a criar seus próprios vampiros. Quais são as peculiaridades das suas criaturas?

– Meus vampiros não são bonzinhos, são mais tradicionais. Eu, realmente, sou apaixonada por esse universo. Acho que o personagem vampiro tem toda uma fantasia ao redor, toda uma fantasia de sensualidade, essa coisa que remete à eternidade que o ser humano busca, essa coisa de viver mais e melhor, mantendo a juventude. Acho que é muito fascinante e, até hoje, é um personagem que, vira e mexe, volta e está em alta de novo. Mexe muito com nosso imaginário.

– Você é uma editora de livros que escreve, ou uma escritora que se tornou editora? Os dois lados se dão bem?

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– Sou uma escritora que se tornou editora por conta das dificuldades que encontrei no mercado editorial para publicar meus próprios trabalhos e por conta das dificuldades de colegas autores que sempre reclamavam, achavam que as editoras que estavam no mercado não atendiam os objetivos deles. Hoje, a editora e a escritora ainda se entendem bem. Apesar de que a editora tem me tomado um pouco mais de tempo, não abro mão de continuar escrevendo meus livros e publicando minhas obras.

– No site da Ler diz que, alinhada com as novas tendências do mercado, a editora também disponibiliza as obras em formato digital. A plataforma digital não é um concorrente para quem lida com o livro físico?

– Sei que algumas editoras mais tradicionais ainda encaram dessa forma, mas não vejo assim. Acho que o livro digital veio para agregar e, em nada, ele desmerece o livro impresso, ao contrário. Temos hoje muitos leitores que adquirem até os dois formatos, fazem questão de ter o livro impresso lá na estante bonitinho, mas eles também querem o e-book, porque, quando viajam, é mais fácil. Eles conseguem, num aparelho leitor de e-book, levar vários livros, sendo que, vários exemplares na mala, pesariam muito. Vejo como um complemento e não como uma concorrência.

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– Você é membro do Núcleo Acadêmico de Letras e Artes de Buenos Aires e do Núcleo Acadêmico de Letras e Artes de Lisboa. Como se dá o diálogo entre a literatura brasileira, argentina e portuguesa?

– Infelizmente, lá fora, você tem um reconhecimento muito maior pelo seu trabalho do que aqui no seu próprio país. E, para nós, que somos brasileiros, é um pouco frustrante saber que tem mais prestígio quando sai do seu país. A gente precisa, realmente, investir mais em cultura, investir mais na leitura e, principalmente, na formação de leitores. Hoje se fala muito sobre isso: “Ah, vamos formar uma nova geração de leitores”. Mas na verdade, você tem um problema muito sério na base educacional do país que inviabiliza isso. Como é que você vai falar de formação de leitores se você tem uma educação de baixa qualidade? O governo deveria olhar mais para isso, mas olhar com seriedade, para que a gente possa, no futuro, dizer que temos um país de leitores como acontece em Portugal, na Argentina, como em tantos outros países.

Com a saga “Mais além da escuridão” a carreira de Catia Mourão como escritora deslanchou no mercado editorial

– Não sei se é reflexo disso que você apontou, mas “Elos do destino” foi escrito em 1997, e sua carreira somente deslanchou com o primeiro volume de “Mais além da escuridão”, de 2013. O que faltava para você acontecer como escritora?

– O “Elos do destino” completou, em 2017, 20 anos de lançamento. Ele só estourou, realmente, de uns três anos para cá, com a edição nova. Acho que, naquela época, tudo era muito mais difícil, não tínhamos o recurso das redes sociais para fazer uma divulgação como hoje. Não tínhamos também a facilidade da Amazon, que está presente no Brasil, oferta os e-books e facilita o acesso dos autores que querem publicar seus primeiros livros. Costumo falar para meus autores quando os escuto reclamando: “Gente, vocês não têm noção de como era antigamente, era muito mais difícil. Mal ou bem, caminhamos uma longa estrada, conseguimos evoluir bastante nesse sentido. Hoje temos uma série de novas editoras que, há dez anos, não existiam e que estão dando espaço para os autores nacionais, não vivendo apenas de trazer para o Brasil best-seller feito lá fora. Estão investindo nos autores aqui dentro.” Esse é o caminho. A gente precisa valorizar o nosso autor, nosso produto.

– Em uma declaração de 2015, você disse que seu sonho era ver a saga “Mais além da escuridão” ser adaptada para o cinema, mas achava isso impossível aqui no Brasil. Por quê?

– Gostaria muito de ver a saga adaptada para o cinema ou para uma série de TV. Achava, há alguns anos, que isso era impossível, porque tratar de um mundo fantástico demanda muitos efeitos especiais e tudo mais, e a gente sabe que, aqui no Brasil, isso não existia muito, era tudo muito arcaico ainda. Hoje a gente já tem umas tecnologias mais modernas, tem um pessoal fazendo cinema aí digno de Hollywood.

“Contos e poemas góticos de Carlie Marie”

Autora: Catia Mourão

Editora: Ler Editorial (82 páginas)

 

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