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Marisélia Souza lança “Dante, o elefante comediante”

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Autora de cinco livros, Marisélia faz parte da Liga dos Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora, movimento que luta pela visibilidade da produção literária local – Foto Divulgação

Na casa de assoalho de tábuas, não tinha TV. Então, ao lado da mãe, assentada no chão antes de dormir, a pequena Marisélia Souza divertia-se a valer, ouvindo o pai contar causos e fazer músicas rimadas com os nomes dos vizinhos. Livros, por lá não existia. Era artigo raro, só encontrado na escola. Ficou na memória, a figura de uma professora, na Escola Municipal Amélia Mascarenhas, contando a história “Um certo embornal mágico”. Vários anos se passaram. Talvez influenciada pelas lembranças da infância, tornou-se professora. Também é contadora de histórias e autora de livros infantis.

Não é de hoje que faz a alegria da garotada não só de Juiz de Fora, mas da região, com “Bolas, ora bolas”, “Um presente para o galo José”, “O casamento do galo José” e “O sequestro do galo José”. Engrossando a lista de obras de sua autoria, na última sexta-feira, ela encheu o setor infantil da Biblioteca Municipal Murilo Mendes de crianças e adultos para o lançamento de “Dante, o elefante comediante” (Gryphon Edições, 12 páginas). Ao texto de Marisélia, somam-se as cores das vivas ilustrações, de Rosália Lopes.

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“Não gosto de dizer que meu livro é indicado para tal faixa etária, porque acredito é no trabalho que será desenvolvido com ele. Isso dependerá do mediador. Trabalho com os meus livros do maternal à EJA (Educação de Jovens e Adultos), de acordo com enfoque para cada etapa. Com os pequenos: o encantamento, a aproximação. Com os maiores, despertando o interesse, o prazer em ler, ouvir e contar histórias, e até mesmo produzir a própria história”, afirma a autora, que nos entrega um elefantinho supercarismático, à procura de uma profissão. Ele era muito elegante, mas desfilar não podia, já que “roupas do seu tamanho eram difíceis de achar”. Foi trabalhar e encontrou a girafa Rafa e a Centopeia Dedeia. As duas estavam com muita dor, e o amigo comediante acabou entretendo-as com muitas piadas.

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“Quero passar solidariedade, a preocupação com o outro, o encantamento em ouvir e contar histórias”, dispara Marisélia, atuante na cena literária da cidade. É uma das contadoras do grupo Caravana de Histórias e membro da Leia JF (Liga dos Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora). Além de se dedicar à escrita, aventura-se, também, na ilustração. “Quero me encantar com o que estou lendo. Se me encanto, levo para que os outros se encantem também.”

 Marisa Loures – Atuar como professora influenciou sua escolha pela Literatura Infantil?

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Marisélia – Sim, sem dúvida. Sempre contei, li e ouvi histórias junto aos meus alunos. Isso fez com que eu passasse a gostar cada vez mais. Temos muitos autores brasileiros com excelente trabalho e ainda os traduzidos, como os contos de fadas, dentre outros. Trabalho muito com a obra de Monteiro Lobato, influência da TV, na minha infância, com “Sítio do Picapau Amarelo”. Enquanto professora, li a obra. Sempre falo para as crianças que minha “cachola” não para de pensar e inventar. Além disso, quando vou apresentar minhas histórias nas escolas ou em outros lugares, como tenho experiência de 30 anos na educação infantil, fica muito mais fácil lidar com este público.

– Como você vê a importância dos livros didáticos e qual o diferencial que eles deveriam ter ou poderiam ter para, também, fisgarem as crianças?

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– Quanto aos livros didáticos, ao longo dos anos tenho visto uma evolução. Autores mais preocupados com a contextualização, eles “saíram daquele vazio”. Agora vejo mais a Literatura Infantil inserida. Porém, se o mediador/professor não souber fazer um trabalho diversificado que desperte interesse nos alunos, isso se perde. Não será nada mais que um texto de um autor qualquer no livro didático. O professor precisa ir além do livro didático.

– Quais suas maiores influências em termos de escritores?

– Monteiro Lobato me encanta com sua turma. A inteligência e perspicácia da Emília, a sabedoria dos mais velhos, a invenção e imaginação das crianças. Jonas Ribeiro com suas histórias, principalmente, aquelas da bruxa Cremilda; Bia Bedran com sua contação, sua música e livros; Magda Trece com a vó Filó; Margareth Marinho, nossa “sacióloga”; e tantos outros por quem sou apaixonada.

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– Livros para crianças devem divertir ou educar?

– Digo que, primeiro o livro tem que cativar, divertir. Falo com as crianças que “livro é para brincar”.  O que criança mais gosta não é de brincar? E, até para os adultos. A gente não brinca com a nossa imaginação ao ler uma história, entrar nela, viajar? Esse termo “educar” é muito amplo. Posso educar criando o hábito de leitura, despertando o prazer na criança de pegar um livro para ler ou inventar histórias. Não preciso ler ou contar uma história e perguntar depois: “o que o elefante fez para as amigas”. Isso criança já conclui ao ouvir as histórias. Nós professores, aí me incluo nesta, pois já fiz isso, temos a mania de ler uma história e, em seguida, começar os questionamentos com perguntas óbvias. Seria preferível oferecer tempo para que as crianças expressassem a história, dramatizando, recontando, criando com papéis e outros materiais o que entenderam. Assim, a aprendizagem seria mais rica e significativa. Vejo por minha própria experiência. Quando a professora leu a história “Os três desejos”, eu e meus colegas dramatizamos e até hoje não a esqueci.

– Um dos principais objetivos do Leia é lutar por mais visibilidade do autor e do ilustrador juiz-forano. Já ouvi escritores da cidade, lamentando a falta de divulgação do escritor local e, consequentemente, o baixo número de leitores. Como é o mercado da literatura infantil de Juiz de Fora?

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– O mercado local é realmente difícil. Poucos livreiros nos valorizam, preferem autores de fora, e muitos pais deixam de levar uma criança a eventos literários para fazer outras coisas. Nossa cidade, atualmente, promove muitos eventos. Temos autores dispostos a fazer apresentações. Mas ainda é pequeno o público infantil, pois não depende da criança, e, sim, do adulto que está disposto a incentivar essa criança. Para formar um público infantil, no qual queremos despertar o gosto e o prazer pela leitura e pela contação de história, primeiro precisamos formar o público adulto, que também ainda é pequeno para uma cidade como a nossa.

– O Leia está atuando na cidade desde 2015. Quais são as ações concretas do movimento?

– Participamos da 1ª Bienal do livro de Juiz de Fora, da FLIR (Feira Literária de Rio Novo), da Feira Literária de Ubá e, aqui na cidade, realizamos saraus toda primeira sexta-feira do mês no Espaço Excalibur. Um bom número de participantes do Leia participa também dos saraus “Chá com Poesia”, na Biblioteca Murilo Mendes, toda última segunda-feira do mês.  Somos convidados a ir às escolas conversar com os alunos, ler e contar histórias. A gente está tentando também incentivar a Karol Ferraz, do Slam Poético, que irá representar o Brasil na França, e é um orgulho para nós.

– E houve avanços no cenário literário local desde então? Quais?

– O cenário Literário de Juiz de Fora está crescendo. Os saraus estão ficando mais cheios, as escolas têm convidado mais autores locais para participar das feiras literárias, e algumas livrarias têm nos convidado para fazer parcerias. Elas vendem nossos livros, e a gente vai até as escolas junto com elas e participa das feiras literárias.

“Dante, o elefante comediante”

Autora: Marisélia Souza

Ilustradora: Rosália Lopes

Editora: Gryphon (12 páginas)

 

 

Sala de Leitura

Quinta-feira, às 9h40, na Rádio CBN Juiz de Fora (AM1010)

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