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Adriana Gamelas: “Que os leitores possam viver poeticamente”

Adriana Gamelas foto destaque
Adriana Gamelas 2023
Adriana Gamelas homenageia Carlos Drummond de Andrade com o lançamento de “Pergunte ao vento” – Foto: Acervo pessoal
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A pequena Maria Julieta, ou Juju, está atrás de respostas para a seguinte pergunta: O que é poesia? Seu pai não dá a resposta que ela quer, mas indica alguém que pode ajudá-la: “Corre, menina, corre, pergunte pelo caminho ao vento”. E assim a curiosa garotinha de Itabira faz. “Pergunte ao vento” (36 páginas) é o novo livro da escritora e professora Adriana Gamelas, e ele nasce em forma de homenagem a Carlos Drummond de Andrade. Aliás, não é por acaso que a protagonista dessa aventura se chama Maria Julieta. Esse é o nome da filha do poeta mineiro.

“Essa história foi escrita com uma linguagem simples, porém repleta de camadas. Aprofundar ou não, dependerá da bagagem e vontade de viajar, nas asas do vento, de cada leitor. Maria Julieta precisava de livros de poesias e respostas. Na verdade, ela queria mesmo era impressionar no primeiro dia de aula na escola nova. Percorre todo o caminho buscando alguém que lhe fale sobre o assunto, e o vento, com toda a sua generosidade e leveza, acaba soprando-lhe uma poesia. Será que a brisa poética foi suficiente para a Julieta se apresentar para o menino mais bonito da escola?”, questiona Adriana, que, no último domingo, arrastou adultos e crianças para a Praça do Bom Pastor, onde ocorreu o lançamento da obra. No evento, a meninada pôde, é claro, apreciar poesia, percorrer os caminhos drummondianos e dançar ao som da Escola de Música Catavento.

Adriana Gamelas estreou na literatura em 2021, com “O vilarejo” e, no mesmo ano, publicou “A menina com cheiro de alecrim”. Nascida no Rio de Janeiro, ela veio para Juiz de Fora em 2012 e, agui, integra a Liga de Escritores, Ilustradores e autores de Juiz de Fora. “Pergunte ao vento” está sendo lançado com apoio da Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura.

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Marisa Loures – Inspirada pela frase de Carlos Drummond de Andrade que você usou como epígrafe do livro, pergunto: Como professora e escritora, que caminho você percorre para fazer a criança sentir sede de leitura?

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Adriana Gamelas – É desafiador incentivar a leitura e formar o hábito de ler, principalmente com as novas gerações de crianças que já nascem mergulhadas em tecnologia. Antes mesmo de uma criança começar a ler, e isso falo como alfabetizadora, já é possível apresentá-la ao mundo dos livros. Diria que esse é o primeiro passo para percorrer, com sucesso, esse caminho tão lindo! Ao ouvir histórias com frequência, as crianças percebem o quanto a escrita está presente em nossas vidas e acredito que o exemplo é fundamental para que elas se tornem leitoras no futuro. Ler em voz alta, montar grupos e cantinhos de leitura, respeitar os gostos literários e apresentar diversidade de livros, também, são formas de promover uma leitura viva e estimular a vontade de estar presente nesse universo literário.

– Por que homenagear Carlos Drummond de Andrade?

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A minha paixão, desde sempre, pelas poesias de Drummond foi o ponto de partida. Na minha cabeça (e coração) é tão fácil amar esse poeta, que fica parecendo óbvio o motivo da homenagem. Quando comecei a pesquisar sobre a vida de Carlos Drummond, a minha admiração e vontade de homenageá-lo só cresceram. A generosidade dele em abrilhantar alguns poetas, como Adélia Prado, me traz uma sensação boa de que, em algum momento, a minha história será validada.

Lançamento de “Pergunte ao vento” contou com a participação da Escola de Música Catavento – Foto Acervo Pessoal

– “Pergunte ao vento” é um verdadeiro encontro entre você e Maria Julieta, a filha de Carlos Drummond de Andrade, que serviu de inspiração para a Maria Julieta, protagonista desta história. Além disso, Weder Meirelles se junta a vocês duas para contar essa história repleta de poesia. Como ocorreu esse encontro entre os três? Por que você foi buscar em Maria Julieta a inspiração para sua personagem?

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O nosso encontro foi poético, repleto de energias boas, forte e ao mesmo tempo leve como o voo de um passarinho. Ocorreu quando uma brisa suave soprou, em nossas “intuições”, que essa história nos despertaria a vontade de enxergar poesia em tudo. O Weder Meirelles é o ilustrador e designer gráfico de todos os meus livros, pois temos uma boa sintonia e a mesma paixão por livros.Como se tratade uma homenagem ao poeta, eu não teria como escolher outra protagonista. Segundo Carlos Drummond, a filha foi o seu melhor livro e sua melhor amiga. O amor de um pai por um filho é tão puro, cristalino e genuíno que fez transbordar em mimas inspirações necessárias para criar a personagem.

– Você se baseou na história real de Maria Julieta Drummond de Andrade para criar sua personagem? O que sua protagonista tem de característica da verdadeira Maria Julieta?

Eu pesquisei bastante sobre a vida e a obra de Maria Julieta. Claro que ela foi a minha grande inspiração, mas não conto a história real da vida dela.Aprendi com a Maria Julieta, grande escritora, que tenho liberdade para escrever. A literatura nos proporciona asas e nos faz pousar delicadamente na imaginação dos leitores.A paixão pelos gatos, livros, arte e pela natureza! Acredito, também, que uma vontade latente de mudar o mundo com as próprias atitudes. As duas enxergavam poesia em quase tudo!

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– Adriana, em 2021, “Pergunte ao vento” já estava pronto. Na época, você me disse que ele tinha sido aprovado pela Lei Rouanet. Agora, ele está sendo lançado pela Lei Murilo Mendes. Por que seus planos mudaram? E, com essa mudança, o projeto também sofreu alterações?

A Rouanet depende de captação de recursos e, infelizmente, não obteve sucesso, apesar de o projeto ter sido contemplado pela Lei. Levantei a cabeça, sacudi a poeira e enviei o projeto para Lei Murilo Mendes. Dessa vez, feliz e grata, pude executá-locom louvor. Algumas alterações em relação à quantidade tiveram que ser feitas, mas nada que tirasse a luz e a energia dos novos ventos.

– Aliás, este é o terceiro livro que você lança e os três foram publicados com apoio de uma lei de incentivo. O primeiro, pela lei Aldir Blanc; o segundo, pela Lei Murilo Mendes; e o terceiro,também pela Lei Murilo Mendes. De que forma essas leis foram determinantes para que você se lançasse como escritora?

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Sou eternamente grata às leis de incentivo e principalmente à Lei Murilo Mendes. A Funalfa faz um trabalho belíssimo, dando oportunidade aos artistas locais.

Você instiga o leitor a seguir atrás da Maria Julieta a fim de encontrar resposta para a seguinte pergunta: o que é poesia? Que resposta você, enquanto poeta, apresenta para essa questão?

Sim. Eu gostaria que os meus leitores se perguntassem: o que é poesia? Ela mora nos livros? Repousa em algum lugar? É fácil encontrá-la? Todos nós somos poetas?Será interessante uma pausa, nessa correria cotidiana, para perceber poesia no vento, nas árvores, nas sementes, nos girassóis, no sol, nas nuvens e até no algodão doce. E, muitas vezes, encontraremos as respostas na caminhada mesmo.O conceito de poesia é uma forma de expressão marcada pela subjetividade, que tem como objetivo revelar pensamentos, sentimentos e estado de espírito. Ela retrata algo pela ótica da imaginação do poeta e do leitor, ou seja, tudo dependerá dos olhos que leem, do coração que sente, das mãos que escrevem e dos ares de quem respira. O meu desejo é que os leitores elaborem os seus próprios conceitos de poesia, já que não trago respostas (Jamais!) e que eles possam enxergar, respirar, escrever e viver poeticamente.

Em dia de muita poesia, a criançada percorreu os caminhos drummondianos durante lançamento de “Pergunte ao vento” – Foto Acervo Pessoal

 

– Para o lançamento do livro, você preparou atrações superespeciais, com direito à montagem dos caminhos drummondianos. Nos próximos eventos, vão acontecer as mesmas ações do último domingo?

Idealizei o lançamento ao ar livre e que tivesse a cara do livro e, principalmente, da Maria Julieta. Nada mais romântico do que uma praça cheia de crianças, com poesias espalhadas pela grama, árvores com livros pendurados, sino dos ventos tocando, varal com muitas artes, bastidores com poesias de Drummond para todo lado, fitas de cetim coloridas bailando com o vento e livros do poeta “maior” espalhados pelos bancos da praça. Contamos, ainda, com a participação especial do Centro de Educação Musical CataVento. Não poderia faltar a CataKombi, a charmosa mascote do CataVento, que chegou na praça proporcionando uma experiência musical ímpar. Os Caminhos Drummondianos fizeram o maior sucesso, pois as crianças tiveram contato com as poesias de Carlos Drummond de Andrade de uma forma lúdica.O “Pergunte ao vento” segue levando os Caminhos Drummondianos pelas praças e escolas.Me sigam no Instagram (escritora.adrianagamelas) e acompanhem os próximos lançamentos. Será um prazer recebê-los!

“Pergunte ao vento”

Autora: Adriana Gamelas

Ilustrador: Weder Meirelles

Funalfa Edições (36 páginas)

 

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