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Rogério Tadeu escreve sobre amor, existência humana e autoconhecimento em “Arrebentando barbantes”

Foto Rogério TAdeu site
Membro da LeiaJF, Rogério Tadeu programa lançar “Arrebentando barbantes” na Fliminas, em Rio Novo – Foto Divulgação
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Rogério Tadeu tinha lá seus 15, 16 anos. Uma garota pediu a ele que escrevesse uma carta para que ela conseguisse reatar com o namorado. Prontamente, ele atendeu ao seu pedido. Escrevia, pensando nela. A partir daí, foram aparecendo várias solicitações de ajuda em redações. “Acabei vestindo uma roupa romântica como conquistador através das palavras com as mulheres para compensar toda a timidez e meu precoce complexo de “inferioridade”, conta ele que, à época, sem saber, já se fazia poeta.

Mineiro de Recreio, MG, Rogério é membro da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora (LeiaJF). Dedica-se, também, ao teatro, à fotografia e compõe músicas. É autor dos livros “O porte”, “Sensível homem que sou”, “Dormindo em queda livre” e o novíssimo “Arrebentando barbantes” (Paratexto, 122 páginas). Este último é composto por poemas que refletem “as relações do homem com o tempo, os desejos da carne e os anseios emocionais”. Ele foi lançado na última sexta-feira, no Espaço Excalibur, onde as quatro obras são vendidas. Aliás, neste mês de lançamento, na compra da nova publicação, o leitor ganha um exemplar de seu primeiro livro publicado.

“O nome do livro, no sentido metafórico, é uma observação a pessoas que usam termos pesados para tratar de coisas simples. A palavra ‘arrebentar’ soa-me tão violenta e o barbante tão frágil se comparado a uma corrente ou um cizal. É, literalmente, uma recordação de infância: do homem na padaria, que repetia o processo com a mesma eficiência todos os dias, e parecia-me que a vida não seguia adiante. Nem a dele nem a minha. Na minha casa, quando voltava, tudo ainda estava a mesma coisa. Muitas palavras pesadas trocadas entre corações frágeis!”, diz o poeta, que segue, em setembro, com “Arrebentando barbantes”, para a edição 2018 da Fliminas, em Rio Novo.

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“O poeta tem que ser o poeta que ele é; se sou crítico, não me proponho assim, como não escolho não ser panfletário. Acho que a transformação social ocasionada pela literatura, a verdadeira, não está naquele que faz dela uma arma e guerra, mas naquele que a transforma em uma ferramenta a fim de consertar as coisas, ajustar as relações e jamais corrigir as pessoas. A literatura não pode ser criada por determinismo, mas como objeto de estudo para especulação das verdades.”

Marisa Loures – No prefácio, o poeta Jorge Lenzi faz questão de dizer que você é “Crítico sem ser panfletário”. Você acha que o poeta deve ter uma função de crítica social e/ou política? Como ser crítico sem parecer didático ou panfletário?

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Rogério Tadeu – O poeta tem que ser o poeta que ele é; se sou crítico, não me proponho assim, como não escolho não ser panfletário. Acho que a transformação social ocasionada pela literatura, a verdadeira, não está naquele que faz dela uma arma e guerra, mas naquele que a transforma em uma ferramenta a fim de consertar as coisas, ajustar as relações e jamais corrigir as pessoas. A literatura não pode ser criada por determinismo, mas como objeto de estudo para especulação das verdades.

– O músico Thiago Miranda diz, na orelha do livro, que seus versos são “às vezes doces, às vezes amargos, mas sempre fortes e contundentes.” Eles refletem o momento do poeta?

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Acho que ele foi conciso em sua análise sobre os poemas quando afirmou “…doces… amargos… mas… contundentes…” Isso me deixou feliz, porque ele se alimentou culturalmente. Metaforicamente falando, qualquer coisa que você coma, que seja saborosamente doce ou horrendamente amargo, se não nutrir o seu corpo, está em par de igualdade ao que o próprio corpo excreta.

– Seus textos foram escritos em momentos diferentes. Alguns no início dos anos 2000 e outros agora. Como é voltar aos textos mais antigos? Eles dizem o que você diria neste momento?

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Este livro foi uma garimpagem de poemas não selecionados nos livros anteriores e alguns novos; por isso essa cronologia. Achei interessante colocar (as datas em que cada poema foi escrito), pois o leitor pode observar se houve alteração no processo de construção do escritor. Quando me perguntam se eu escreveria hoje o que escrevi lá trás, só tenho a dizer que a forma como escrevo hoje é o resultado de como escrevia antes; é o tipo de pergunta que os homens entregam falsas respostas. Não importa a época ou a qualidade dos textos, o que nos importa é que eles tenham sentido quando surgem ainda que este se perca no tempo.

– Thiago Miranda também diz que você é poeta da introspecção. Quais são suas influências literárias e de que maneira sua poesia dialoga com elas?

Uma vez tive um blog chamado Introspecto Exposto. Thiago acertou na sua dedução. Quanto às influências, elas são mais de pessoas, famílias e amigos do que de poetas consagrados. Comecei a escrever poesia sem conhecer poesia. De repente, alguém disse: “gostei do poema”. Aí aceitei que fossem chamados meus escritos de poemas. Depois, um professor e amigo, prefaciador do meu primeiro livro, Carlos Mesquita, disse: “guarda seus textos e faz um livro.” E assim o fiz! Os professores são essenciais na nossa vida, dei um exemplar do meu primeiro livro a cada professor que tive como forma de agradecimento.

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“Nunca me preocupei com divulgação por ter um coração impaciente com o descaso por parte de muitas livrarias. Querem apenas colocar nas bancas os mais vendidos, ou novatos que tenham prefácio ou orelha escritos por escritores consagrados. Há pessoas no meio literário cobrando R$ 4.000 para avaliar o sonho de alguém antes que ele se torne real. E os novos escritores que embarcam a produzir suas obras sem incentivo público chegam ao mercado com os livros em alto custo, enquanto os filhos das editoras estão num menor preço. E, se o seu livro já sai caro, quando propõe colocar em consignação, mais caro fica.”

– Constantemente, ouço dos autores locais que eles enfrentam a falta de divulgação de seus livros. O que você faz para sua literatura chegar até os leitores da cidade?

Nunca me preocupei com divulgação por ter um coração impaciente com o descaso por parte de muitas livrarias. Querem apenas colocar nas bancas os mais vendidos, ou novatos que tenham prefácio ou orelha escritos por escritores consagrados. Há pessoas no meio literário cobrando R$ 4.000 para avaliar o sonho de alguém antes que ele se torne real. E os novos escritores que embarcam a produzir suas obras sem incentivo público chegam ao mercado com os livros em alto custo, enquanto os filhos das editoras estão num menor preço. E, se o seu livro já sai caro, quando propõe colocar em consignação, mais caro fica. Poucas pessoas leem livros porque não existem livros nas bancas para todos os tipos de pessoas. Me parece existir um conceito de: “isso é literatura, isso não é”. E outro: “isso é comercial e isso não é”. E você se vê obrigado a entrar em um deles se quiser ter grande público. Hoje, o que me promove, é a Leia JF, Liga dos Escritores Ilustradores e Autores de Juiz de Fora. Junto de meus amigos escritores, conseguimos abrir portas pesadas com mais facilidade.

– Juiz de Fora apoia o escritor local e, principalmente, a sua literatura?

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Juiz de Fora tem bons incentivos ao surgimento de novos escritores, por exemplo, a Lei Murilo Mendes. Esta lei de incentivo tornou meu primeiro livro possível, mas peca muito na publicidade dos seus contemplados. Esse espaço que o jornal me concede hoje é importantíssimo. Seria bom que as instituições públicas fizessem essa ponte com o resultado de seus investimentos, preenchendo os veículos de comunicação com mais notícias como esta. Os telespectadores e os leitores de jornais precisam retirar a sensação de que as colunas de eventos e novidades culturais ou reportagens desse feitio são para completar uma edição ou cumprir um protocolo.

Sala de Leitura com Rogério Tadeu –  Quinta-feira, 12 de julho, às 9h40, na Rádio CBN Juiz de Fora (AM 1010) 

Autor: Rogério Tadeu

Editora: Paratexto (122 páginas)

Disponível no no Espaço Excalibur (Rua São Mateus 265 – São Mateus).

 

 

“Arrebentando barbantes”

Rogério Tadeu

 

Ele sabia o limite da fricção entre as linhas

retirava a força exata dos braços

construindo um laço que amarrava os pães

no papel pardo todo dia.

 

Eu, ali, admirando vê-lo:

arrebentando os barbantes.

 

A ponta conectada à roldana

me parecia tão longa quanto a vida.

 

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