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“As nossas princesinhas e os nossos principezinhos foram gente de carne e osso”

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Autor da série “A história não contada”, Paulo Rezzutti acaba de estrear como autor de livro infanto-juvenil com “Princesinhas e Principezinhos do Brasil”, obra em que ele apresenta histórias da infância de personalidades da realeza – Foto Divulgação
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Você sabia que dom João VI — pai do futuro imperador do Brasil, dom Pedro I, — não queria ser rei? Quando criança, ele queria mesmo era dedicar-se à vida religiosa e tocar órgão na igreja. Ah, e ele tinha muito medo de trovão.  Em contrapartida, na infância, Pedro I exibia muita valentia. Era um menino travesso, que ficava encantado com a força das tempestades. Trocava os estudos de matemática, geografia e história por uma boa aventura. Sobre  Carlota Joaquina, sua mãe, dizem que ela demonstrava ser uma garotinha bem inteligente. E era bastante endiabrada também. Não era afeita a acordar cedo e a vestir-se para seus compromissos. Devido a um arranjo de casamento, casou-se com dom João quando tinha apenas 10 anos e, na hora da bênção nupcial, não perdeu tempo e deu uma boa mordida na orelha do futuro rei de Portugal.

O responsável por narrar esses e outros fatos para lá de curiosos, no livro “Princesinhas e Principezinhos do Brasil” (Pingo de Ouro/Leya Brasil, 192 páginas), é o pesquisador e escritor Paulo Rezzutti, conhecido autor das obras da série “A história não contada”, composta por biografias de figuras históricas, como dona Leopoldina e dom Pedro II. Na primeira incursão literária destinada ao público infanto-juvenil, ele nos leva para dentro do universo de figuras da realeza que são nossas velhas conhecidas, incluindo príncipes e princesas de outras etnias, e a novidade é que, nessa publicação, podemos saber como essas personalidades eram na meninice. E não é que somos surpreendidos por muitas curiosidades? Rezzutti trouxe informações verídicas, apuradas por meio de muita pesquisa, e deu asas à imaginação na criação dos diálogos e das situações em que os personagens estão envolvidos.

“Bem, nossas princesinhas não fugiram de madrastas malvadas e foram se abrigar na casa de sete homens bem pequeninos, nem caíram num sono profundo do qual só desertariam com o beijo de um príncipe. Ah, e por falar neles, nossos principezinhos não foram transformados em sapo por uma bruxa cruel nem tiveram que disputar o trono com os irmãos mais velhos. Princesas congelando alguma coisa por aqui? Com este calor?! Nem pensar! Príncipes achando um sapatinho de cristal na escadaria do palácio? Melhor deixar isso para os desenhos animados. As nossas princesinhas e os nossos principezinhos foram gente de carne e osso, eles existiram de verdade”, adianta Rezzutti na apresentação do livro.

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Marisa Loures – Como nasceu o projeto do livro “Princesinhas e Principezinhos do Brasil”?

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Paulo Rezzutti – O projeto tomou forma em 2019, quando eu relancei o meu livro “Titília e o Demonão”, em agosto e em setembro, eu lancei a minha biografia sobre o imperador dom Pedro II. Nessas duas ocasiões, eu notei um crescente aumento de crianças nos meus lançamentos: ou elas eram trazidas pelos pais, meus leitores, com dúvida sobre príncipes e princesas brasileiras, ou, o mais inusitado, as crianças me conheciam por causa do meu canal do YouTube e levavam os pais para os lançamentos.

– Acredito que escrever “Princesinhas e principezinhos do Brasil” não tenha sido uma tarefa muito fácil, pois carece de muita pesquisa. Conte-nos como foi esse processo de produção da obra e quais foram os principais desafios.

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A tarefa foi árdua sim. A parte do livro que gira ao redor da história dos Braganças foi relativamente mais simples de levantar as informações, uma vez que eu trabalho com a família real portuguesa e brasileira já faz anos e conheço os arquivos e demais fontes. O mais complicado foram os estudos sobre os príncipes negros, escravizados ou não, que vieram para o Brasil e sobre as filhas e filhos dos caciques indígenas brasileiros da época da chegada dos portugueses. Com base nas informações que foi possível reunir, eu tentei imprimir, dentro da obra de ficção, o mais próximo da realidade da época a que foi possível chegar.

– Você não só mergulhou nas pesquisas para trazer informações a respeito da infância dessas figuras conhecidas da nossa história, mas também deu asas à imaginação para criar os diálogos entre os personagens e as situações em que eles estão envolvidos. Acredito que isso seja um grande desafio para quem trabalha com fatos históricos. Como lidar com essa mistura de realidade e imaginação?

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Acho que esse foi o maior desafio desse livro, mudar completamente o estilo literário. Não foi fácil lidar com essa mudança a princípio, eu tentei por vários meses adequar o meu texto narrativo para as crianças, mas não estava dando certo. Até que um dia eu sentei na frente do computador e comecei a imaginar a cidade de Lisboa na época do nascimento da futura rainha dona Maria I. Então, lembrei-me das salvas de canhões que marcavam o nascimento de um bebê da Casa Real e veio como um filme a cena na qual eu passei a misturar os fatos reais com a ficção e os diálogos.

– Uma das histórias que você traz é a da vida de dom João, pai de Dom Pedro I. Ele não queria ser rei. Queria dedicar-se à vida religiosa e tocar órgão. Também morria de medo de trovão. Essas informações dizem muito a respeito do que conhecemos de dom João já adulto e ocupando o trono português…

Sim, diz. Ele foi rei por acaso, ele não era o herdeiro direto da coroa, o herdeiro era seu irmão. Tanto que ele foi viver afastado de Lisboa, no Palácio-Mosteiro de Mafra, quando ele assumiu o governo em nome da mãe doente. O seu interesse pela música sacra influenciou até compositores brasileiros, como o padre José Maurício.

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– Você apresenta às crianças histórias de príncipes brancos, mas também de outras etnias. Inclusive, você conta que encontrou poucos documentos a respeito dos príncipes negros e indígenas. Essa dificuldade revela o quanto ainda precisamos evoluir no que diz respeito à valorização da história do nosso país, como você mesmo diz. A ideia é que “Princesinhas e principezinhos do Brasil” possa contribuir para mudar essa realidade?

A ideia de inserir histórias de crianças negras e indígenas era, sobretudo, lembrar que não somos um país formado somente por brancos. Desse modo, o meu objetivo era fazer com que crianças das outras etnias formadoras do povo brasileiro se identificassem com esses outros príncipes.  Não foi uma tarefa fácil levantar essas narrativas que pudessem ser contadas para crianças, até porque a história dos dominados é bem difícil de se encaixar como uma história para crianças. Espero que mais iniciativas como essa surjam e novas histórias e novos personagens ressurjam à vida.

“Princesinhas e Principezinhos do Brasil”

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Autor: Paulo Rezzutti

Ilustradora: Gisele Daminelli

Editora: (Pingo de Ouro/Leya Brasil, 192 páginas)

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