“Pé na areia, a caipirinha, água de coco, a cervejinha./Pé na areia, água de coco, beira do mar”. Tenho certeza de que muitos que me leem não resistem a esse refrão que Diogo Nogueira, sedutoramente, entoa por aí. E, hoje, trago uma informação não só para quem ama essa música, mas também para quem quer apimentar um pouco mais a relação. É que a escritora e conselheira para relacionamentos amorosos e sexualidade Eliane Bodart acaba de lançar um livro de contos eróticos inspirados na sensualidade dessa canção, de autoria de Cauique, Rodrigo Leite e Diogo Leite, e na de outras músicas da nossa MPB.
“Bem perto” (115 páginas) apresenta 15 narrativas, ou melhor, faixas, que fazem referência a Chico Sá, Caetano Veloso, Alcione, Ivete Sangalo, Cássia Eller, Maria Bethânia e Elis Regina, dentre outros artistas brasileiros. E também traz um bônus, numa versão hot, escrito a partir da música “Bem perto”, interpretada por Pedro Mariano e composta por Dan Torres. Um QR ainda direciona o leitor para uma playlist no Spotify com as músicas que serviram de ponto de partida para os textos. Dessa forma, a ideia é que a experiência com a obra seja completa.
O que Eliane espera despertar nos leitores é prazer. “A sexualidade deve ser fonte de prazer e não de repressão, de sofrimento, de vergonha. Tratar o assunto levemente e sem julgamentos fará bem a todos nós. Meus textos são eróticos, sim, mas nada subversivo. Meu desejo é que as pessoas leiam, se identifiquem e se sintam bem com as histórias contadas. E, se possível, que elas tenham um sorrisinho maroto no rosto ao final”, comenta a escritora, que escreve embalada por vários autores (e ela faz questão de ressaltar que a inspiração não é só no que diz respeito ao erotismo). Mas no topo de suas referências literárias estão Luis Fernando Verissimo, Danuza Leão e Nelson Rodrigues.
Marisa Loures – “Bem perto” é um livro que tem erotismo e amor. Literatura erótica, para ser boa, tem que ter uma boa história de amor?
Eliane Bodart – Não necessariamente. Eu que tenho uma alma romântica e gosto de contar histórias sobre encontros, sobre relacionamentos, sobre amores e desamores.
– Você atua como conselheira para relacionamentos amorosos e sexualidade e é especialista em atendimento de casais. Portanto, tem bastante experiência para falar a respeito do assunto. O livro nasceu a partir desse dia a dia profissional?
– Foi uma inspiração, também. Os relacionamentos amorosos são minha matéria-prima como Master Love e como escritora. Meus livros trazem sempre o meu olhar, a minha observação, a minha sensibilidade sobre as histórias reais que eu ouço. Como conselheira, no entanto, eu não posso transcrever o que me contam em sigilo, assim como as confidências que as pessoas me fazem na vida.
– E como o erotismo entrou na sua vida?
– Estava escrevendo um livro de Crônicas e Contos (“Amor de todas as formas”), sempre sobre relacionamentos amorosos, e dois dos contos saíram um pouco mais picantes. Nessa hora pensei: “Por que não escrever um livro somente com contos eróticos?” E assim escrevi o meu primeiro livro no gênero, “Deixe-se levar pelo prazer”, contos eróticos. Foi algo muito natural, já que eu falava de amores, pois os amores também podem ser sensuais e eróticos. Por que não?
– Pelo que você ouve dos homens, eles também estão abertos à literatura erótica?
– O que percebo é que eles são mais abertos e mais bem resolvidos nessa questão. Gostam e ponto. Não têm pudores, não têm vergonha. E acho isso fantástico.
– Os filmes mais picantes costumam apimentar a relação. Os livros eróticos também podem ajudar a acender a chama do erotismo entre os casais?
– Sim, inclusive, costumo indicar meu livro para os casais que atendo e estão com dificuldade de se relacionarem intimamente. A tarefa é ler um conto por noite, os dois juntos, lado a lado, em voz alta para o outro ouvir. A leitura estimula a imaginação e os sentidos. O livro “Bem perto” traz uma playlist com as músicas que inspiraram os contos, e cada capítulo traz ainda uma fotografia. Digo ser uma experiência sensorial. Se o leitor estiver aberto a todos esses estímulos, com certeza, alguma mudança interior ocorrerá.
– Estava lendo uma entrevista em que uma autora de livro erótico comentou que teve contato pela primeira vez com essa literatura em um evento em que uma escritora leu em voz alta trechos de um livro desse gênero. Naquele momento, ela assistiu à leitura boquiaberta diante da coragem em dar voz, de microfone nas mãos, àquela história libertina. E o público aplaudia e gritava ao mesmo tempo. Hoje, as pessoas estão tendo mais coragem de assumir que lê esse tipo de livro?
– O livro “Bem perto” foi lançado em uma feira Hot, no Rio de Janeiro, promovida pela Editora Letras Virtuais, da querida Adriana Vaitsman. Fiquei fascinada com o número expressivo de autores desse gênero. Tivemos uma roda de leituras e os trabalhos são belíssimos. Existe talvez certo preconceito com essa literatura, mas o erotismo não é pornografia, é apenas a expressão da sexualidade humana, e vejo com bons olhos que as pessoas cada vez mais se interessem em ter uma sexualidade bem resolvida e prazerosa.
– Certa vez, uma autora de livros eróticos me disse que homens e mulheres, ao lidarem com ela e sabendo que ela produz uma literatura mais caliente, confundem muito a vida real com a ficção. Como ocorre com você?
– Nunca. As pessoas, homens e mulheres, ficam muito curiosas. Como uma ex-juíza de direito escreve “essas coisas”? Reação que me diverte muito. Os homens ficam extremamente à vontade em conversarem comigo por poderem falar de suas vidas sexuais sem julgamentos. Eles ficam aliviados de poder se abrir com uma mulher sem serem taxados de pervertido. E eu adoro as histórias que me contam. Nas redes sociais, às vezes, vem um ou outro desavisado, com uma conversinha mole ou, despudoradamente, me mandando nudes, o que é aviltante. Mas eu os bloqueio e sigo meu caminho. Hoje tenho bem menos problemas do que no início com essa situação. Mas algumas pessoas são até divertidas nesse aspecto. Uma mulher me mandou um vídeo com duas mulheres transando, bonita a cena. E perguntou: “Gostas?” Achei muito engraçado.
– Você consegue eleger um conto preferido do seu livro? Conte-nos como ele foi criado.
– Sinceramente eu não consigo escolher o preferido. Cada um traz uma música que amo, tem uma história especial, me toca de alguma forma. Mas um que gosto muito e que acaba sendo um dos mais casto é “Cartão postal”. Esse conto traz como música tema “Rios e memórias”, de Diego Saldanha, interpretada por Pedro Mariano. Pedro é uma das vozes da minha vida e desde que ouvi essa música fiquei tocada por sua sensibilidade e emoção. Escrevi uma história sobre um casal que se separou por algum motivo e ele tenta reconquistá-la, falando sobre a vida deles juntos, como eles se entregavam reciprocamente, como planeavam, como se amavam. O conto que escrevi me emociona tanto como a música.
“Bem perto” (115 páginas)
Autora: Eliane Bodart
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