Ícone do site Tribuna de Minas

Painel 02-11-2016

Depois da urna

PUBLICIDADE

Tão logo foram definidos os resultados das eleições de domingo passado – levando-se em conta também o primeiro turno -, o que mais se ouviu foram avaliações sobre o comportamento do eleitor, que, é fato, mudou em relação a outros pleitos, mostrando-se infenso ao processo, como foi possível ver no expressivo número de abstenções. Mas daí ver tudo um caos há uma distância, sobretudo quando se engorda o discurso com a afirmação de haver uma onda conservadora em curso, como destacaram, inclusive, jornais do Rio de Janeiro e São Paulo. Em entrevista publicada na Tribuna de ontem, o jornalista e escritor Eugênio Bucci, que acaba de lançar o livro “A forma bruta dos protestos – Das manifestações de junho de 2013 à queda de Dilma Rousseff em 2016”, é enfático: “esse é um discurso rudimentar”.

Sem guinada

Professor titular da Universidade Federal de Juiz de Fora e um dos três cientistas políticos convidados pela Câmara dos Deputados para falar sobre a reforma política, Rubem Barboza acentua ser pouco sustentável a tese de que o eleitorado fez uma guinada para a centro-direita. “Há um exagero aqui. Se isso fosse verdadeiro, teríamos assistido ao que os cientistas políticos chamam de ‘realinhamento partidário’, uma mudança óbvia, ou dos partidos importantes ou do sistema partidário como um todo.” Para ele, isso não ocorreu.

Não é o único

No entendimento de Rubem Barboza, o argumento da virada para a centro-direita se sustenta no fato de que o PT foi realmente derrotado nas eleições municipais. “Isso ocorreu, mas o PT não é a única força de esquerda ou de centro-esquerda no país. Por outro lado, nem mesmo o PMDB pode ser integralmente definido como centro-direita, do mesmo modo que o PSDB. E se olharmos o caso – o que não deixa de ser exemplar – do Rio, o candidato vitorioso (Marcelo Crivella, PRB) se voltou progressivamente para o centro, abandonando o discurso próprio de sua igreja.”

PUBLICIDADE

Quadro incerto

Finalmente, o professor Rubem Barboza adverte que o panorama resultante das eleições ainda é relativamente confuso, o que recomenda cuidado nas avaliações, mas ele destaca que esperava-se que as eleições se organizassem como uma cena apropriada à emergência de candidatos outsiders, ou que se apresentaram como tal, como Alexandre Kalil (PHS), em Belo Horizonte, e João Dória (PSDB), em São Paulo, que vieram de fora da política. Na avaliação do cientista político, eles não são outsiders. O prefeito eleito de BH demonstrou disposição de entrar no jogo político partidário, “tendo sido escorado no segundo turno por apoiadores de Pimentel, do PT, e de Marcio Lacerda (PSB)”. “O outsider clássico provoca uma ruptura no interior do próprio eleitorado e do sistema partidário, o que não é o caso de Kalil. Ele é apenas um sujeito isolado e mal-educado, destinado a ser engolido por quem criticou e combateu.”

PUBLICIDADE
Sair da versão mobile