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Não é bem assim

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Uma das notícias mais felizes que eu li esta semana foi a da dona de casa que entrou com um processo contra a União depois do discurso “não é bem assim” do presidente do Brasil na ONU. Para quem não acompanhou, explico: o senhor presidente da República foi convidado a abrir a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas com um discurso que deixou muita gente estarrecida e confusa. Em algum lugar desse Brasilzão, havia uma dona de casa, ou melhor, uma cidadã que se respeita e que conhece seus direitos, mas que principalmente, não se deixa fazer de boba.

Jair Bolsonaro disse em seu discurso que o auxílio emergencial que o seu governo disponibilizou aos necessitados cidadãos brasileiros era de mil dólares americanos em parcelas somadas. Mas, a dona de casa que é uma cidadã inteligente não conseguiu fechar essa conta. Afinal, com a alta cotação do dólar (alguém aí querendo dar uma arejada no estrangeiro, tem que ver essa cuestão com o Guedes, talkei?), o que disse o senhor presidente significaria que ela deveria ter recebido bem mais do que o que recebeu em real, na real. Ela, então, processou a União. “Mas, e daí?”, ouço dizer o coro dos que ainda acreditam em seu minto, desculpa, mito. E daí que se o presidente torce um pouquinho a verdade, então verdade já não é, não é mesmo? “E daí”, continua determinado coro. E daí, pessoal, que quem paga os salários dos servidores públicos tem direito a ter dados e fatos e não uma aproximada explicação insuficiente do uso de dinheiro público.

A notícia foi linda porque me fez ter esperança num país que não aceita ser passado para trás. Me fez acreditar que nem todos estão dormindo e nem todo mundo acha que “político é isso mesmo”, e que nem todo mundo aceita ser pisado, ridicularizado, passado para trás, tratado como gado só porque tem lá a frase pronta: mas e a corrupção do PT? A questão é que o cidadão brasileiro que é inteligente feito a tal dona de casa que deu exemplo a todos nós, cobra, não só seus direitos, mas respeito. Respeito e acesso à transparência das contas públicas e não aceita montagem de circo e espetáculo para inglês ver.

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Mais que nunca o cidadão brasileiro inteligente precisa estar atento para o uso das palavras, as colocações e as acusações. O mundo cobra uma postura firme e uma atitude sensata da presidência do Brasil em relação a um dos maiores desastres ambientais de todos os tempos. Ainda assim, o índio que vive em Pindorama há tanto, tanto tempo antes de Cabral e sua trupe chegarem, levou a culpa das queimadas. O cidadão brasileiro que se importa com seus recursos naturais teria todo o direito de ter maiores explicações, pedir provas da União por tal declaração. Queremos ou não queremos saber se é mesmo o índio, o caboclo que vai lá e queima tudo? Mas, gente, para quem escreve como profissão como eu, é a mesma coisa que eu tacar fogo na minha coleção de livros. Não consigo compreender essa lógica, vocês?

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Em tempos de campanha eleitoral quando já não existe parcimônia para gritos de ofensa por todos os lados, seria interessante o cidadão buscar esclarecer a verdade nas falas e promessas dos seus mintos e mitos. Menos “não é bem assim” e muito mais “provas e fatos”. Porque o dia que o brasileiro sentir mais orgulho de ser chamado de cidadão do que de engenheiro, médico e arquiteto, e sentir mais orgulho da sua ancestralidade indígena e negra do que a europeia historicamente opressora, aí sim, voltaremos a estrelar a esperança na nossa programação normal.

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