A imensidão do universo abriga eventos grandiosos e, ao mesmo tempo, silenciosos. Um dos mais intrigantes entre eles é a possível colisão entre a nossa galáxia, a Via Láctea, e a sua vizinha mais próxima: a galáxia de Andrômeda.
Até recentemente, acreditava-se que esse encontro era uma certeza distante, marcada para ocorrer em cerca de 5 bilhões de anos. No entanto, um novo estudo internacional publicado na revista Nature Astronomy aponta que essa colisão tem apenas 50% de chance de ocorrer nos próximos 10 bilhões de anos.
Como os cientistas chegaram a essa nova conclusão?
A equipe internacional de astrônomos utilizou dados de duas das ferramentas mais precisas da astronomia moderna: o telescópio espacial Hubble e o satélite Gaia, da Agência Espacial Europeia. Esses equipamentos coletaram informações detalhadas sobre:
- A massa das galáxias envolvidas;
- A velocidade e direção dos movimentos galácticos;
- E ainda incluíram na equação o papel de galáxias vizinhas menores, como a do Triângulo e a Grande Nuvem de Magalhães.
Esses fatores foram incorporados a simulações que traçaram diversos futuros possíveis para a Via Láctea e seus arredores, revelando um cenário mais incerto do que o esperado.
O papel da Grande Nuvem de Magalhães
Um dos grandes destaques da pesquisa foi o reconhecimento da influência gravitacional da Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia satélite da Via Láctea. Anteriormente considerada coadjuvante nessa história cósmica, ela agora aparece como um dos elementos responsáveis por diminuir a chance de colisão com Andrômeda.
Essa galáxia menor pode estar alterando o curso da Via Láctea, puxando-a em uma direção diferente da que seguiria sem sua interferência. Isso muda a trajetória prevista para bilhões de anos no futuro.
De fusão inevitável a incerteza galáctica
Até pouco tempo atrás, os cientistas estavam praticamente certos de que a Via Láctea e Andrômeda estavam em rota de colisão, o que causaria em uma gigantesca fusão galáctica.
Essa fusão daria origem a uma nova estrutura, possivelmente uma galáxia elíptica gigante, apelidada informalmente de “Milkomeda”, uma junção dos nomes Milky Way (Via Láctea) e Andromeda.
Com os novos dados, porém, essa certeza se dissipou. Há agora uma chance real de que as duas galáxias apenas “se esbarrem” ou passem próximas uma da outra, em um tipo de “quase encontro” que, embora espetacular, não causaria destruição em massa.
Impacto para a Terra (ou o que restar dela)
É importante lembrar que mesmo nos cenários de colisão, os planetas dentro das galáxias dificilmente se chocariam diretamente. A distância entre as estrelas é tão grande que os sistemas solares poderiam atravessar o outro sem serem afetados fisicamente.
No entanto, o céu da Terra, se ainda existir vida por aqui, seria completamente transformado, repleto de novas estrelas visíveis e uma atividade cósmica incomum.
Mas a vida na Terra tem prazo de validade independente dessa possível colisão. O Sol está na metade da sua vida útil e deve se transformar em uma gigante vermelha em cerca de 5 bilhões de anos, tornando impossível a vida em nosso planeta muito antes de qualquer fusão galáctica.
Inevitável fusão com a Grande Nuvem de Magalhães
Ainda que a colisão com Andrômeda esteja agora sob dúvida, há outro evento praticamente confirmado: a fusão entre a Via Láctea e a Grande Nuvem de Magalhães, prevista para acontecer em cerca de dois bilhões de anos.
Apesar de ser um evento de menor escala, essa fusão poderá desencadear formação intensa de novas estrelas e mudar significativamente o formato da Via Láctea. É uma espécie de “mini fusão galáctica”, mas que também terá consequências relevantes para a nossa galáxia.
A complexidade do Grupo Local
A Via Láctea, Andrômeda, a galáxia do Triângulo e outras menores compõem o chamado Grupo Local de galáxias. Entender o destino desse grupo depende de cálculos extremamente precisos de massa, velocidade e direção de cada galáxia.
Embora a tecnologia esteja evoluindo, a margem de erro ainda é alta devido à enorme escala e complexidade envolvidas. Por isso, novas descobertas podem continuar modificando o que sabemos sobre o futuro galáctico.