Pouca gente sabe, mas um dos líquidos mais valiosos do planeta não vem de diamantes líquidos nem de metais derretidos. Vem de um dos animais mais temidos do mundo: o escorpião.
Um grama do veneno do Leiurus quinquestriatus, conhecido como “perseguidor da morte”, pode ultrapassar os sete mil dólares. Isso mesmo: mais caro que ouro, platina e qualquer outro recurso comum.
Mas o que há por trás desse preço absurdo? A resposta não está na superstição nem na excentricidade de colecionadores. Está na ciência, na medicina e em um futuro que pode ser radicalmente transformado por essa toxina.
Uma arma da natureza com potencial de cura
O Leiurus quinquestriatus é um dos escorpiões mais perigosos da Terra. Seu veneno é uma combinação complexa de proteínas e toxinas neuroativas, projetadas pela evolução para imobilizar presas e afastar predadores. Entre esses compostos, um deles ganhou atenção mundial: a clorotoxina.
Esse elemento tem uma característica impressionante, consegue se ligar com precisão quase cirúrgica a células cancerígenas. Ao fazer isso, permite que pesquisadores “marquem” essas células, tornando-as visíveis durante cirurgias e exames. Além disso, abre portas para novos tratamentos, já que pode atuar como vetor de medicamentos diretamente nos tumores, poupando tecidos saudáveis.
Por que é tão caro?
O valor do veneno está ligado diretamente à sua raridade e ao esforço envolvido em sua obtenção. Cada escorpião libera apenas algumas microgotas de veneno por extração. Para se obter um litro do líquido, seriam necessários mais de dois milhões e meio de escorpiões, um número tão absurdo quanto o próprio preço.
Além disso, o processo de extração é manual, lento e extremamente perigoso. Exige treinamento técnico, ambientes controlados e muita paciência. Não há como automatizar esse processo sem comprometer a segurança dos animais e das pessoas envolvidas.
Um novo setor de biotecnologia está nascendo
Embora o comércio de veneno de escorpião ainda seja um nicho altamente restrito, ele está ganhando força. No Egito, por exemplo, um engenheiro teve a ideia de criar uma empresa voltada exclusivamente para a extração desse veneno.
Em ambientes controlados, ele mantém milhares de escorpiões em bandejas especialmente projetadas, colhendo a toxina em ciclos regulares e vendendo para laboratórios ao redor do mundo.
Esse movimento representa o nascimento de um novo setor na biotecnologia: o da farmacoextração animal. Uma área que une biologia, medicina, química e empreendedorismo, e que tem tudo para crescer exponencialmente nos próximos anos.
Veneno como aliado da ciência
O interesse pelo veneno de escorpião não se resume à oncologia. Pesquisadores já exploram seu uso no combate a doenças como malária, esclerose múltipla, artrite e até condições psiquiátricas.
Além disso, estudos mostram que suas toxinas podem ser utilizadas no desenvolvimento de analgésicos extremamente potentes, com menos efeitos colaterais que os opioides convencionais. Isso significa que um animal associado ao medo pode ser a chave para solucionar uma das maiores crises de saúde pública da atualidade: a dependência de analgésicos químicos.
Nem todo escorpião é mortal
Apesar da fama, a grande maioria dos escorpiões não representa ameaça real aos seres humanos. Das mais de 2.500 espécies catalogadas, apenas cerca de 30 possuem veneno capaz de causar danos severos. A maioria usa a toxina apenas como método de caça, com pouca ou nenhuma consequência para nós.
Ainda assim, em regiões desérticas e tropicais, é fundamental manter o cuidado, especialmente com espécies reconhecidas como perigosas. Acidentes com escorpiões ainda são comuns em muitos países, principalmente em áreas rurais.
Pesquisadores projetam que, nas próximas décadas, poderemos ter tratamentos contra o câncer que utilizem derivados do veneno como veículos de entrega de medicamentos, com menos efeitos colaterais e maiores taxas de sucesso.