Popularizada nas academias como um dos suplementos mais eficientes para o ganho de força muscular, a creatina passou de um produto voltado a atletas de alto rendimento para um item quase obrigatório em armários de adolescentes, adultos e até idosos.
Derivada de três aminoácidos — arginina, glicina e metionina —, essa substância é produzida naturalmente pelo corpo e também pode ser obtida por meio de carnes e peixes. Sua principal função é fornecer energia rápida às células, especialmente durante exercícios de curta duração e alta intensidade.
No entanto, o que começou como uma recomendação técnica virou uma febre comercial. Atualmente, a creatina figura entre os produtos mais vendidos do Brasil, não apenas em lojas especializadas, mas também em supermercados, farmácias e plataformas online.
Uso da creatina esconde uma verdade sombria
Por trás desse sucesso, porém, esconde-se uma distorção preocupante: a expansão do uso da creatina para fins que a ciência ainda não confirma — ou sequer recomenda.
De um suplemento esportivo, ela foi transformada em um suposto remédio universal. Circulam nas redes sociais promessas de que a creatina melhora a memória, combate doenças neurodegenerativas, trata sintomas do autismo e até ajuda no emagrecimento.
Segundo especialistas, essas alegações são, em sua maioria, infundadas.
Estudos rigorosos ainda não encontraram evidências suficientes de que a creatina tenha efeitos positivos sobre funções cognitivas ou condições como Alzheimer e Parkinson.
Mesmo em casos de distúrbios psiquiátricos ou dificuldades de aprendizado, os resultados são inconclusivos ou metodologicamente falhos. No caso do autismo, por exemplo, não há base científica que sustente qualquer benefício com o uso do suplemento.
Pediatras alertam que a creatina não deve ser administrada a crianças saudáveis, e endocrinologistas ressaltam que pessoas com diabetes, especialmente com histórico de problemas renais, devem evitar o uso sem acompanhamento médico.
Uso da creatina tem sido banalizado
Além das falsas promessas, há o risco da banalização. Muitos consumidores utilizam creatina sem necessidade, sem treinar com regularidade e sem orientação profissional. E, como se não bastasse, o mercado também sofre com produtos adulterados ou rotulados de forma incorreta.
Relatórios recentes mostram que poucos suplementos no Brasil passam em todos os critérios de controle de qualidade, e alguns já foram flagrados com substâncias não declaradas, incluindo esteroides anabolizantes.
A creatina pode ser segura e eficaz quando usada de forma consciente. Mas a sua glamourização indiscriminada, baseada mais em tendências do que em ciência, representa um alerta: nem tudo o que parece saudável é isento de riscos.