O Brasil perdeu um terço de sua vegetação nativa desde 1985, segundo um levantamento inédito do MapBiomas. Os dados de 2024 mostram que a maior parte da destruição ocorreu em propriedades privadas, impulsionada principalmente pela expansão da agropecuária. O desmatamento atingiu todos os biomas do país, mas os mais afetados foram a Amazônia e o Cerrado, que perderam, respectivamente, 55 milhões e 38 milhões de hectares.
Proporcionalmente, o Pampa lidera a devastação (28% de perda), seguido pelo Cerrado (27%) e Amazônia (14%). O estudo reforça que as Terras Indígenas continuam sendo os territórios mais preservados do país, com 99% da cobertura vegetal intacta.
A agropecuária como força motriz do desmatamento
O levantamento revela que 81% da perda de vegetação aconteceu em áreas privadas, onde a floresta foi substituída por pastagens e plantações. O setor agropecuário cresceu 79% desde 1985, ocupando hoje uma área equivalente a 7,5 vezes o tamanho da Alemanha.
O avanço do desmatamento também é expressivo no Pantanal, onde a agropecuária expandiu de 5% para 17% da área total do bioma. O fenômeno se repete na Amazônia, onde a ocupação agropecuária subiu de 3% para 16% em quatro décadas.
Terras Indígenas resistem à destruição
Apesar do avanço do desmatamento no país, as Terras Indígenas se mantêm como as regiões mais protegidas. Esses territórios, que ocupam 13% do território nacional, preservaram 99% de sua vegetação original desde 1985. No entanto, mais de 200 Terras Indígenas ainda aguardam demarcação, o que as torna vulneráveis à invasão e exploração ilegal.
Por outro lado, as florestas públicas sem destinação específica seguem como um dos alvos preferidos de grileiros. Atualmente, 92% dessas áreas ainda preservam sua cobertura original, mas especialistas alertam para o risco crescente de ocupação ilegal e desmatamento.
Áreas urbanas registram recuperação, mas perdas ainda preocupam
O estudo também apontou um crescimento da vegetação nativa em 37% dos municípios brasileiros desde 2008, especialmente na Mata Atlântica. A recuperação pode estar ligada ao endurecimento da legislação ambiental e à criação do Fundo Amazônia, que financia ações contra o desmatamento.
No entanto, a situação ainda preocupa: 45% das cidades registraram perdas mais acentuadas no mesmo período, com destaque negativo para os estados de Rondônia, Tocantins e Maranhão.
Nas áreas urbanas, a ocupação avança sobre encostas, elevando os riscos de desastres naturais. O levantamento indica que a expansão urbana nessas regiões cresce 3,3% ao ano, aumentando o perigo de deslizamentos e enchentes.
Recifes de corais em alerta
Pela primeira vez, o MapBiomas mapeou recifes de corais em águas rasas ao longo da costa brasileira. Foram identificados 204 km² dessas formações, sendo 72% delas protegidas por unidades de conservação.
O aquecimento global, no entanto, coloca essa biodiversidade em risco. Em 2023, a temperatura do Oceano Atlântico registrou um aumento de 2°C acima da média histórica, o que pode levar a um branqueamento em massa dos corais e afetar ecossistemas marinhos inteiros.
Especialistas alertam para impactos climáticos
O avanço do desmatamento tem consequências diretas para o clima e a biodiversidade. A remoção da vegetação nativa reduz a proteção contra eventos extremos, como enchentes e secas prolongadas. Além disso, compromete a capacidade dos biomas de absorver carbono, intensificando o aquecimento global.
“O desmatamento desenfreado torna o Brasil mais vulnerável às mudanças climáticas e aos desastres naturais”, alerta Eduardo Velez, pesquisador do MapBiomas. “Precisamos de políticas públicas eficazes para proteger essas áreas e conter a degradação.”
Futuro da preservação depende de ações urgentes
O estudo reacende o debate sobre o destino das florestas públicas e a necessidade de ampliar a proteção ambiental no país. Um projeto em tramitação no Congresso propõe que áreas sem destinação sejam convertidas em unidades de conservação, Terras Indígenas ou zonas de manejo sustentável.
Para especialistas, o Brasil ainda pode reverter esse quadro, mas isso exige fiscalização mais rígida, ampliação das áreas protegidas e incentivo à recuperação florestal.