Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revelaram uma descoberta preocupante envolvendo fórmulas infantis e a segurança alimentar de um dos grupos mais vulneráveis da população: os recém-nascidos.
A pesquisa, publicada na revista Globalization and Health, detectou resíduos de agrotóxicos e outros contaminantes em fórmulas infantis vendidas no Brasil.
O estudo levanta um alerta para a ausência de regulamentações específicas no país e destaca a urgência de medidas mais rígidas por parte do governo, da indústria e da sociedade.
Unicamp descobre contaminantes em fórmulas infantis
Conduzido pela Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), o levantamento analisou 30 amostras de fórmulas infantis à base de leite, amplamente utilizadas como substituto parcial ou integral do leite materno.
Apesar de apresentarem altos valores nutricionais, esses produtos mostraram conter vestígios de substâncias potencialmente tóxicas.
Isso porque foram identificados resíduos de agrotóxicos, micotoxinas produzidas por fungos, fármacos veterinários e hormônios — alguns dos quais proibidos no Brasil, como o carbofurano e o metamidofós.
Mas o que essas descobertas sobre as fórmulas infantis de fato significam para os bebês?
Embora muitas das amostras apresentem concentrações abaixo dos limites considerados inseguros pela União Europeia — parâmetro adotado no estudo por falta de legislação nacional —, os pesquisadores destacam que esses níveis ainda representam risco, sobretudo para bebês, cujo sistema metabólico é imaturo e menos eficiente em eliminar substâncias tóxicas.
Em aproximadamente 10% das amostras, por exemplo, foi detectado o carbofurano, um pesticida banido no país desde 2017. A presença desse composto pode ser resultado da bioacumulação, quando resíduos permanecem no ambiente por anos, mesmo após o fim do uso.
A pesquisa também encontrou, em grande parte das amostras, outros compostos industriais e agrícolas, como a ftalimida e a cis-1,2,3,6-tetrahidroftalimida, em níveis acima dos permitidos pela regulação europeia.
Essas substâncias podem vir de diferentes fontes, desde a matéria-prima, como o leite de vaca e de cabra, até o processo industrial de fabricação e embalagem.
Cientistas fazem o alerta: é preciso maior regulação
Os cientistas envolvidos na investigação ressaltam que o objetivo não é gerar alarme, mas sim conscientizar pais, profissionais de saúde e autoridades sobre a importância da qualidade dos alimentos infantis.
O estudo reforça a necessidade urgente de estabelecer normas específicas para o setor, ampliando o controle e a fiscalização dos produtos oferecidos à população mais jovem, incluindo as fórmulas infantis.
A saúde infantil não pode ser tratada com margem de risco.