A economia da Rússia é um tema que tem gerado muitas especulações nos últimos tempos, principalmente desde o início da guerra na Ucrânia. Enquanto Moscou insiste em manter uma narrativa de resiliência econômica, a realidade parece estar longe dessa versão otimista.
Recentemente, autoridades suecas, incluindo a ministra das Finanças, Elisabeth Svantesson, questionaram abertamente os dados econômicos divulgados pelo Kremlin.
A alegação da Suécia de que a verdadeira situação da economia russa só ficou visível através da observação de Moscou do espaço, usando imagens de satélite, reflete um novo tipo de vigilância econômica, mais precisa e difícil de manipular.
Situação econômica da Rússia
O crescimento econômico da Rússia tem se desacelerado significativamente desde que a guerra na Ucrânia foi desencadeada. De acordo com dados oficiais recentes, setores chave da economia, como a indústria e o comércio, estão enfrentando sérios desafios.
Enquanto o governo russo tenta manter uma imagem de normalidade e até de recuperação, os sinais de desaceleração são claros. O rublo caiu para o seu nível mais baixo em dois anos, e a Rússia enfrenta uma escassez crescente de recursos financeiros, com dificuldades para obter novos empréstimos e até para receber pagamentos de clientes.
Além disso, o governo teve que implementar medidas drásticas para tentar conter a inflação. A mais notável dessas ações foi o aumento das taxas de juros pelo Banco Central da Rússia, que alcançaram 21%, o nível mais alto desde o colapso da União Soviética.
Apesar dessas medidas, as previsões de crescimento econômico para o próximo ano foram reduzidas drasticamente, passando de uma expectativa de 3,5% a 4% para uma previsão mais modesta de 0,5% a 1,5%.
Sanções e a Guerra
A invasão da Ucrânia gerou uma onda de sanções econômicas impostas pelo Ocidente, que afetaram profundamente a economia russa. Moscou afirma que resistiu com sucesso a essas sanções, mas o aumento da inflação e a desaceleração do crescimento econômico sugerem o contrário.
A indústria civil russa foi a mais afetada, com empresas como a Ferrovias Russas reportando quedas no volume de carga transportada e sendo forçadas a aumentar preços para cobrir perdas.
Esses sinais de crise, contudo, não são suficientes para que o presidente Vladimir Putin mude suas ambições geopolíticas. Apesar das dificuldades internas, o Kremlin parece determinado a manter o curso, pelo menos no curto prazo, sem fazer concessões importantes, o que eleva ainda mais as tensões internas.
Conflito entre o Banco Central e a elite industrial
Uma das fontes de tensão dentro da elite econômica russa é o desacordo entre o Banco Central e os principais empresários do país. A governadora do Banco Central, Elvira Nabiullina, tem adotado uma política monetária conservadora e rigorosa, com o objetivo de conter a inflação e garantir a estabilidade macroeconômica.
No entanto, muitos empresários acreditam que as altas taxas de juros estão sufocando o crescimento, e pedem ao governo mais flexibilidade para salvar as suas empresas de uma crise iminente.
Nabiullina, por sua vez, defende sua política, ressaltando que os recursos econômicos do país estão sendo utilizados de forma máxima, e que a prioridade deve ser a estabilidade econômica a longo prazo, em vez de uma recuperação rápida que poderia colocar tudo a perder.
Desconfiança nos números oficiais de Moscou
A crescente desconfiança nas estatísticas econômicas oficiais da Rússia tem levado muitos analistas e autoridades ocidentais a buscar fontes alternativas para avaliar a verdadeira saúde da economia russa.
A ministra das Finanças da Suécia, Elisabeth Svantesson, levantou sérias dúvidas sobre a confiabilidade dos dados oficiais, que afirmam que a inflação russa está em 9,5%. A discrepância entre essa cifra e as altas taxas de juros sugerem que a pressão inflacionária real seja muito mais alta.
Além disso, Svantesson apontou que a contínua fuga de capitais da Rússia é um reflexo claro das dificuldades econômicas. Essa fuga de capital, aliada à queda nas reservas estrangeiras do país, indica que a economia russa está mais fragilizada do que o Kremlin deseja admitir.
Revolução do espaço
Diante da falta de transparência e da manipulação dos dados econômicos, autoridades ocidentais recorreram a métodos alternativos para avaliar a situação da economia russa. O uso de imagens de satélite, especificamente das luzes noturnas de Moscou, foi uma dessas abordagens inovadoras.
A ministra sueca, Svantesson, usou esse método para ilustrar sua visão da situação: a iluminação de Moscou, em 2023, estava visivelmente mais fraca do que em 2021, sugerindo uma redução no consumo de energia e, portanto, uma desaceleração da atividade econômica.
Esse método de observação, que observa a intensidade da luz nas cidades durante a noite, pode indicar uma série de fatores, como o declínio no nível de vida da população ou cortes no fornecimento de eletricidade em algumas áreas.
A diminuição das áreas iluminadas, especialmente nos subúrbios da capital, foi vista como uma evidência de que a economia russa não está funcionando como o Kremlin gostaria que fosse percebido.
Manipulação da narrativa econômica
A estratégia do governo russo de construir uma narrativa otimista sobre sua economia tem como objetivo manter a moral interna e afastar qualquer percepção de fragilidade perante o Ocidente e a Ucrânia. Moscou tenta passar a mensagem de que está superando as sanções e as dificuldades impostas pela guerra, o que, segundo o Kremlin, comprova a força do sistema russo.
No entanto, os dados reais, ou melhor, os dados alternativos, como as observações das luzes noturnas, sugerem que a situação econômica está muito mais grave do que a versão oficial. Svantesson foi clara ao afirmar que, embora não seja possível conhecer com certeza todos os detalhes da economia russa, o que é evidente é que a versão oficial do Kremlin não reflete a realidade.
A dúvida sobre a real saúde econômica da Rússia, portanto, continua a ser uma das grandes questões geopolíticas dos próximos anos.