Uma pesquisa realizada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) identificou que certos elementos acústicos da fala podem funcionar como marcadores da presença e do progresso da doença de Parkinson. O estudo foi desenvolvido por Lucas Manca Dal’Ava durante seu doutorado no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) e envolveu a análise vocal de 32 idosos — parte deles sem diagnóstico da doença e o restante em fases iniciais e intermediárias do quadro neurológico.
O objetivo central foi mapear características sonoras que permitissem distinguir os grupos analisados, além de apontar sinais que ajudem a compreender o avanço da condição. No total, foram avaliados 24 aspectos vocais, incluindo variações de intensidade, ritmo e melodia, muitos dos quais ainda pouco abordados por estudos anteriores na área.
Análises realizadas
O estudo seguiu duas etapas principais: leitura de um trecho curto e uma fala livre sobre o conteúdo. As vozes foram gravadas e analisadas em detalhes para identificar sinais sutis relacionados ao Parkinson. Diferente de abordagens anteriores, que focavam em aspectos isolados da fala, a pesquisa avaliou diversos parâmetros simultaneamente, oferecendo uma visão mais abrangente e precisa das diferenças entre indivíduos saudáveis e pacientes com a doença.
Entre os indicadores analisados, dois se mostraram particularmente eficazes em detectar a progressão do distúrbio: a velocidade de fala, medida em sílabas por segundo, e a fluência articulatória, que ignora as pausas. Ambos demonstraram forte correlação com o avanço do Parkinson, destacando-se como possíveis biomarcadores para uso clínico.
Ligação entre a fala e o Parkinson
Os testes de leitura demonstraram maior precisão do que as falas espontâneas na detecção do Parkinson e na diferenciação de seus estágios, sobretudo em aspectos prosódicos específicos. Com as limitações impostas pela pandemia, foi necessário adaptar a coleta das amostras: as gravações passaram a ser feitas por meio de celulares, tanto em domicílio quanto em unidades de reabilitação. A alternativa se mostrou viável e eficiente, provando que é possível alcançar resultados consistentes sem depender de equipamentos profissionais.
Como continuidade do projeto, há planos para expandir a investigação de certos parâmetros vocais e desenvolver soluções tecnológicas baseadas em inteligência artificial. A proposta inclui a criação de um aplicativo simples e acessível, voltado ao suporte de profissionais da saúde na triagem e acompanhamento de pessoas com sinais da doença, tornando o diagnóstico precoce mais democrático e viável por meio da análise da voz.