Muito antes da refrigeração se tornar uma solução comum para armazenar alimentos perecíveis, comunidades rurais encontraram maneiras inusitadas – incluindo sapos – de prolongar a vida útil do leite.
Entre os métodos mais peculiares está o uso de sapos vivos dentro dos recipientes de leite — uma prática documentada entre camponeses da Rússia e da Finlândia.
Embora soe como superstição, a técnica tinha embasamento biológico, ainda que não compreendido na época.
Sapos eram usados para conservar o leite antes da geladeira
A conservação de alimentos sempre exigiu criatividade, especialmente em regiões de clima ameno, onde o leite fermenta rapidamente. Nessas localidades, moradores notaram que adicionar pequenos sapos ao leite parecia retardar seu azedamento.
Apenas décadas depois, a ciência veio oferecer uma explicação plausível para esse hábito popular.
Estudos conduzidos por pesquisadores russos e finlandeses revelaram que a pele de certos sapos — em especial da espécie Rana temporaria, comum na Eurásia — contém compostos com propriedades antibióticas.
Essas substâncias, conhecidas como peptídeos antimicrobianos, atuam combatendo fungos e bactérias que normalmente aceleram a decomposição do leite.
Em 2010, uma equipe da Universidade de Moscou conseguiu identificar quase uma centena de compostos com potencial antibacteriano na pele desses animais, alguns eficazes até contra patógenos como Salmonella e Staphylococcus.
Pratica utilizando sapo foi abandonada aos poucos
O que era apenas uma solução empírica se mostrou um exemplo de como práticas tradicionais podem antecipar descobertas científicas.
A presença do sapo dentro do recipiente não só liberava esses compostos no leite, mas criava um ambiente menos favorável para a proliferação microbiana, atuando como uma forma rudimentar de conservação.
Com o avanço da tecnologia, em especial com a popularização das geladeiras a partir da década de 1940, métodos como esse foram sendo abandonados.
O frio passou a ser a principal forma de impedir o crescimento bacteriano em alimentos perecíveis.
Além disso, riscos associados ao contato direto com anfíbios — incluindo toxinas e possíveis doenças — reforçaram a inadequação da técnica no mundo moderno.
Apesar disso, o interesse científico pelos compostos produzidos por sapos continua crescendo. Muitos laboratórios buscam formas de sintetizar essas substâncias, com o objetivo de desenvolver novos antibióticos.
O episódio revela como a observação popular, mesmo sem base teórica na época, pode inspirar avanços relevantes na medicina e na biotecnologia.