A vacina russa de mRNA contra o câncer, criada no Centro Nacional de Investigação de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya, em Moscou, encontra-se na fase final de testes e tem previsão de ser aprovada pelos órgãos reguladores de saúde da Rússia em agosto de 2025.
A vacina proporciona um tratamento personalizado ao usar uma proteína do agente patogênico para gerar um RNA mensageiro sintético, que instrui o sistema imunológico a combater a doença. Ela será disponibilizada de forma gratuita para a população russa até setembro de 2025.
Vacina russa
Usando inteligência artificial, o mRNA necessário para a vacina pode ser produzido em até uma hora. A IA avalia as características específicas de cada tumor e cria uma formulação personalizada para o paciente. O desenvolvimento completo da vacina leva, em média, uma semana.
Os testes pré-clínicos indicaram que a vacina pode bloquear o crescimento de tumores e metástases, com foco principal no melanoma, um tipo de câncer de pele. No entanto, o instituto também está explorando sua eficácia contra outros tipos de câncer, como os de pâncreas, rins e pulmões em estágio avançado.
O desenvolvimento da vacina iniciou em 2022, junto com a produção da Sputnik VI, contra a COVID-19. O ministro da Saúde, Andréi Kaprin, informou que o custo médio de cada dose é de 300.000 rublos (aproximadamente US$ 3.000), mas a vacina será disponibilizada gratuitamente à população russa a partir de 2025.
Imunizantes contra o câncer
O desenvolvimento de vacinas com tecnologia mRNA contra o câncer, especialmente para melanoma, pulmão e pâncreas, é estudado há cerca de 15 anos, conforme explica Rafael Vargas, chefe do Serviço de Oncologia da Santa Casa e professor da UFCSPA. Essa pesquisa permitiu a adaptação da tecnologia para vacinas contra a COVID-19, destaca Paulo Gewehr, infectologista do Hospital Moinhos de Vento.
Contudo, os especialistas alertam que não há dados científicos conclusivos sobre a eficácia dessas vacinas. Para validar seu uso, são necessários ensaios clínicos em humanos, com comparações com tratamentos padrão. Vargas lembra que vacinas de mRNA para cânceres como melanoma e pâncreas falharam em ensaios humanos entre 2013 e 2019, embora o potencial continue sendo investigado.
O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia, Renato Kfouri, aponta que as vacinas terapêuticas podem ser o futuro, mas precisam de mais estudos para comprovar sua segurança e eficácia. Para Vargas, o anúncio da vacina russa é um exemplo de sensacionalismo, e Gewehr classifica como uma “mera notícia” que precisa ser confirmada cientificamente. Ele também destaca que as vacinas contra hepatite B e HPV, disponíveis no SUS, são as que atualmente previnem alguns tipos de câncer.
Todos os especialistas foram ouvidos pelo portal GZH.