Falar sozinho, em voz alta, é um daqueles comportamentos que muita gente faz, mas quase ninguém admite. Isso acontece porque, durante muito tempo, esse hábito foi associado a estigmas negativos, sendo visto como algo estranho, excêntrico ou até preocupante.
O medo de parecer “louco” fez com que muitas pessoas escondessem suas conversas solitárias, mesmo que elas aconteçam com frequência no cotidiano: ao procurar algo, ao planejar o dia, ao enfrentar um problema ou simplesmente ao tentar organizar pensamentos confusos.
A ciência mostra outra verdade
No entanto, pesquisas recentes mostram que falar sozinho não apenas é comum, como pode ser altamente benéfico para o funcionamento do cérebro.
Psicólogos e neurocientistas vêm estudando o fenômeno da chamada “auto-fala”, o ato de verbalizar pensamentos para si mesmo, e chegaram à conclusão de que esse comportamento está longe de ser irracional.
Pelo contrário, trata-se de uma ferramenta cognitiva poderosa, que pode melhorar a atenção, o desempenho em tarefas, a memória e até mesmo o controle emocional.
Pensar em voz alta é uma estratégia natural
Pensar em voz alta é uma estratégia eficaz para aumentar a clareza mental. Em estudos conduzidos por sua equipe, os participantes que verbalizavam os nomes dos objetos que procuravam conseguiam identificá-los mais rapidamente do que aqueles que apenas procuravam em silêncio.
Isso porque, ao pronunciar a palavra “banana”, por exemplo, o cérebro ativa não apenas a memória visual do objeto, mas também sua função, cor, textura e outras associações. Esse tipo de processamento torna a mente mais ágil e eficiente.
Desde a infância, uma habilidade valiosa
Esse comportamento não é exclusivo dos adultos. Na verdade, ele começa muito cedo. Crianças pequenas frequentemente falam sozinhas enquanto aprendem novas habilidades ou realizam tarefas simples, como se vestir ou amarrar os sapatos.
Essa prática natural ajuda a reforçar a concentração e a autodisciplina. É um modo de “ensinar a si mesmo” o que precisa ser feito, algo que muitos de nós continuamos a fazer ao longo da vida, ainda que de forma mais discreta.
Organizar emoções através da fala
Além dos benefícios cognitivos, falar sozinho pode ser um ótimo regulador emocional. Verbalizar sentimentos ou conflitos internos ajuda a clarear as ideias, a encontrar soluções para dilemas e a reduzir a ansiedade.
Quando expressamos nossos pensamentos em voz alta, criamos um distanciamento saudável que permite enxergar a situação com mais objetividade. Um recurso ainda mais eficaz, segundo estudos publicados na Harvard Business Review, é falar de si mesmo na terceira pessoa.
Frases de motivação que fazem diferença
Outro aspecto interessante da auto-fala é o seu papel na motivação e na construção da autoestima. Frases simples como “eu consigo” ou “vai dar tudo certo” podem ter um efeito positivo real, especialmente em momentos de pressão ou incerteza.
Ao repetir essas afirmações, o cérebro interpreta a fala como um reforço positivo, o que ajuda a manter o foco e o otimismo. Em outras palavras, conversar consigo mesmo pode ser uma forma eficaz de se encorajar, como um técnico que orienta e inspira o próprio jogador, neste caso, você mesmo.
Uma forma de ensaiar a vida social
A auto-fala também pode funcionar como um treino para situações sociais. Muitas pessoas conversam consigo mesmas como uma maneira de se preparar para apresentações, entrevistas, discussões importantes ou até conversas difíceis.
Esse “ensaio” verbal cria confiança e estrutura o pensamento, tornando a comunicação real mais fluida e segura. Além disso, falar em voz alta pode ajudar a amenizar a sensação de solidão, funcionando como um substituto momentâneo para o diálogo com outras pessoas.
Atenção aos excessos
É claro que, como qualquer hábito, o equilíbrio é essencial. Falar sozinho só se torna preocupante quando começa a interferir nas tarefas do dia a dia, causa prejuízo funcional ou se torna compulsivo, especialmente se vier acompanhado de pensamentos desorganizados ou desconectados da realidade.
Nesses casos, é importante buscar apoio profissional para avaliar o que está por trás do comportamento. No geral, porém, esse hábito é natural, saudável e até recomendável.
Falar sozinho, em voz alta, é uma forma de pensar melhor, sentir com mais clareza e agir com mais consciência. É uma conversa que vale a pena manter, com a pessoa mais importante da sua vida: você.