Nos inselbergs do Espírito Santo — formações rochosas marcadas por solo raso, pouca água e intensa exposição solar — desenvolveu-se uma flora altamente especializada, capaz de sobreviver em condições extremas.
Entre as espécies identificadas, destacam-se duas endêmicas e ameaçadas de extinção: Pseudobombax petropolitanum (paineira-das-pedras) e Wunderlichia azulensis, da família dos girassóis. Um estudo inédito conduzido por pesquisadores brasileiros e divulgado no domingo (18) catalogou ao todo 26 espécies vegetais adaptadas a esse ambiente severo.
Plantas resistentes
Essas plantas apresentam adaptações notáveis, como raízes que retêm água e folhas que caem na seca para evitar perdas, o que as torna valiosas para projetos de recuperação ambiental, especialmente em áreas degradadas pela mineração de rochas ornamentais — comum no Espírito Santo.
O estudo também estimou que essas espécies armazenam de 14 a 48 toneladas de carbono por hectare na biomassa aérea, valor semelhante ao de florestas próximas, destacando seu papel no combate às mudanças climáticas. Conduzida em quatro inselbergs da região Sudeste, a pesquisa analisou cerca de 300 indivíduos e foi pioneira ao avaliar a biomassa e o sequestro de carbono dessas espécies lenhosas da Mata Atlântica.
Restauração de ecossistemas
O pesquisador Dayvid Couto, do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), chama atenção para a longevidade de espécies como a paineira-das-pedras, que pode atingir 16 metros de altura mesmo crescendo sobre rochas expostas. Ele destaca a necessidade de aprofundar pesquisas sobre crescimento, tempo de vida e biomassa subterrânea para estimar com mais precisão o potencial de sequestro de carbono dessas plantas.
Além de sua relevância climática, a vegetação dos inselbergs pode ser valiosa na recuperação de áreas degradadas por mineração — atividade que, segundo Couto, ainda causa impactos pouco estudados à biodiversidade local. O levantamento também identificou 17 espécies ausentes de registros anteriores, revelando o quanto ainda há por descobrir nesses ecossistemas.
Para os pesquisadores, restaurar sua complexidade ecológica após distúrbios humanos é um grande desafio e exige mais investimentos. O estudo reforça a importância de integrar os inselbergs às políticas de conservação e sugere que eles sirvam de referência para práticas sustentáveis na indústria de rochas ornamentais.