Mesmo com uma rotina estável — contas em dia, emprego garantido e alguma economia acumulada —, muitas pessoas convivem com um medo silencioso: a impressão de que tudo pode ruir de repente. De acordo com especialistas, essa inquietação vai muito além das obrigações financeiras do dia a dia.
Esse sentimento costuma ter raízes profundas, ligadas a experiências traumáticas, inseguranças emocionais ou à forma como fomos ensinados a lidar com questões como sucesso, trabalho e dinheiro. E seus efeitos ultrapassam o campo psicológico, refletindo também na saúde emocional, nas relações interpessoais e nas decisões profissionais.
Medo de passar necessidade
A psicóloga Maria Milena, da plataforma AfroSaúde, afirma que o medo constante de perder tudo muitas vezes está ligado a contextos de vulnerabilidade profunda. Mesmo em situações socioeconômicas precárias, há diferentes níveis de acesso a recursos como políticas públicas e educação. Para quem não conta nem com esse mínimo, a escassez é também simbólica — marcada pela ausência de pertencimento, cuidado e referências.
Esse cenário impacta diretamente a forma como a pessoa enxerga o mundo e a si mesma. Quando o trauma e a escassez são as principais referências, o indivíduo vive em estado de alerta contínuo, com o corpo e a mente reagindo como se o perigo ainda estivesse presente.
Segundo Milena, essa hipervigilância pode gerar ansiedade, dificuldade para confiar, relaxar ou planejar o futuro. O medo de que tudo desmorone influencia desde as escolhas profissionais até o cuidado com a saúde. Apesar de intenso, esse sentimento pode ser enfrentado com estratégias mais saudáveis e apoio psicológico.
Como enfrentar?
A psicoterapia pode ser uma ferramenta valiosa no enfrentamento do medo constante de perder tudo. Embora não elimine completamente esse sentimento, ela contribui para torná-lo menos frequente e intenso. O processo começa com o reconhecimento das causas da insegurança, dos gatilhos emocionais e das narrativas que reforçam esse medo.
Contudo, quando a pessoa vive em uma situação concreta de vulnerabilidade, o cuidado precisa ir além do consultório. De acordo com a psicóloga, é necessário acionar redes de apoio e adotar uma abordagem mais ampla, que leve em conta os aspectos sociais, emocionais e estruturais da vida do paciente.