A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou que 77% das mulheres no país utilizam produtos com essa finalidade regularmente. Esse índice é o mais alto do continente africano e reflete um fenômeno que tem raízes culturais, sociais e econômicas.
A busca por uma pele mais clara não se restringe às mulheres adultas. Há um aumento preocupante do uso desses produtos em crianças, muitas vezes sem qualquer acompanhamento médico. Autoridades nigerianas alertam sobre os riscos associados a essa prática, que pode causar problemas dermatológicos graves e até intoxicação.
Os perigos ocultos dos produtos clareadores
A OMS aponta que muitos produtos para clareamento da pele contêm substâncias químicas nocivas, como hidroquinona, corticosteroides e mercúrio, proibidas ou controladas em diversos países. O uso indiscriminado pode levar a consequências graves, incluindo queimaduras, descoloração da pele, dermatite severa, problemas renais e até envenenamento por mercúrio.
Na Nigéria, a Agência Nacional de Administração e Controle de Alimentos e Medicamentos declarou estado de emergência sobre o tema em 2023. Isso porque muitas pessoas não apenas utilizam os produtos em si mesmas, mas também em seus filhos, na tentativa de protegê-los da discriminação racial e social.
Além disso, a venda de cremes clareadores ocorre sem fiscalização adequada. Mercados populares oferecem misturas personalizadas, com ingredientes adicionados na hora, sem qualquer controle sobre dosagens e segurança. Em muitos casos, mães adquirem esses cremes para bebês, acreditando que uma pele mais clara trará melhores oportunidades no futuro.
Fatores culturais
O clareamento da pele na Nigéria não é apenas uma questão estética. Está profundamente ligado a ideais de beleza, status social e aceitação familiar. Muitas mulheres sofrem pressão de familiares para modificar a aparência dos filhos, como aconteceu com Fátima, que utilizou produtos de clareamento em suas seis crianças e, hoje, enfrenta as consequências da decisão.
Outro detalhe importante é o estigma associado ao uso desses produtos. Marcas esbranquiçadas na pele, especialmente nos nós dos dedos, podem levar à discriminação social, com algumas pessoas sendo erroneamente identificadas como usuárias de drogas.
Isso afeta principalmente mulheres jovens, que chegam a perder oportunidades de casamento devido às suspeitas em torno de sua aparência.